Trechos da obra da transposição do Rio São Francisco sob responsabilidade da Construtora Mendes Júnior que estavam praticamente parados serão relicitados pelo governo. De acordo com o ministro da Integração Nacional, Helder Barbalho, a construtora informou ao ministério que não tem mais condição de continuar as obras de seus dois contratos, estimadas em R$ 1,2 bilhão.
Os contratos firmados pela empresa são para a construção das estruturas de engenharia da primeira etapa do eixo norte do empreendimento, que compreende a captação de água do rio São Francisco, em Cabrobó (PE), e para o canal de um trecho próximo ao reservatório Jati, em Jati (CE).Os lotes somam cerca de 140 quilômetros de extensão.
A solução encontrada em conjunto com o TCU (Tribunal de Contas da União) foi abrir uma concorrência para outra empresa seguir com a construção que estava a cargo da Mendes Júnior, que desistiu da obra após problemas para se financiar devido a acusações de participação da empresa no esquema denunciado na Operação Lava Jato. De acordo com Barbalho, a solução é que outra empresa faça, com o projeto já existente, os cerca de 70 quilômetros restantes da obra. Isso deverá agilizar a concorrência, mantendo o cronograma de entrega do eixo norte da transposição no próximo ano.
O ministro acredita que o outro trecho, o eixo leste, que cruza Pernambuco e vai até a Paraíba, será entregue ainda neste ano. A obra dos canais somam 477 quilômetros de extensão e deveriam estar prontas desde 2012. Já está estimada em mais de R$ 9 bilhões, ao menos 50% mais cara do que a estimativa inicial.
Os lotes parados da Mendes Júnior não são o único problema da transposição. Desde julho, o governo passou a liberar cerca de R$ 100 milhões adicionais por mês para as construtoras responsáveis pelas obras da transposição do Rio São Francisco e de seus canais complementares nos estados.
Esses canais são feitos em conjunto com os governos estaduais e são essenciais para levar a água até reservatórios próximos às cidades que hoje sofrem com a seca. Por causa de atrasos nas obras dos canais auxiliares, foram triplicados os repasses mensais para obras feitas em convênio com os estados. Os valores passaram de R$ 6 milhões a R$ 10 milhões por mês para cada estado para R$ 15 milhões a R$ 30 milhões.
Mas é grande a chance de o canal da transposição estar construído e não haver água na quantidade prevista quando o projeto foi concebido. O maior reservatório de água do rio, o de Sobradinho, deve chegar ao volume morto até o fim do ano. No final de 2015, chegou muito próximo disso.
O Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) aprovou o novo Plano de Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, um documento, que tem validade por 10 anos, estima em R$ 30 bilhões os investimentos necessários para sua revitalização e apresenta uma série de informações e apontamentos para a gestão da bacia.
Lidar com a seca da região é uma das principais preocupações levantadas pelo comitê. "A situação é crítica. Estamos no quarto e podendo ir para o quinto ano de estiagem", destacou o presidente do CBHSF, Arivaldo Miranda. "Dentro do novo cenário climático, precisamos de um documento que nos oriente, por exemplo, a definir uma meta de vazão de entrega de cada afluente e de cada estado ao rio."