Indignados com mais um parcelamento de salário, os sindicatos da área da segurança pública do Estado anunciaram ontem que irão a Brasília reivindicar ao Ministério da Justiça medidas imediatas para solucionar a crise de violência. O grupo apresentou um "Manifesto ao Povo Gaúcho", alertando para a situação caótica. Além disso, os servidores farão uma paralisação hoje, das 6h às 21h. Nesse período, só serão acolhidas demandas emergenciais nas delegacias.
"Desde o ano passado, vimos um descalabro na segurança pública. O sistema ruiu, e essa ruína passa, sim, pela gestão do governo estadual. Outros estados, como Rio de Janeiro e Minas Gerais, também têm problemas financeiros similares e estão pagando em dia o salário dos policiais", frisa o presidente do Sindicato dos Policiais Federais do Rio Grande do Sul (Sinpef/RS), Ubiratan Sanderson.
O governo revelou que depositará R$ 800,00 como primeira parcela do salário dos servidores deste mês. Na visão dos sindicalistas, o parcelamento e a falta de investimentos mostram que o governador José Ivo Sartori não prioriza a segurança. "Jamais foi dado ouvido para aqueles que estão na ponta, operando o sistema. Por isso, buscaremos diretamente o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes", relata Sanderson. A intenção é solicitar que Moraes faça uma intervenção "imediata, dura e forte, para que a paz social seja restabelecida no Rio Grande do Sul".
A principal demanda é pelo não parcelamento, a fim de remotivar os agentes de segurança. "É notório que todo o efetivo, após um ano e meio sem receber em dia, está desmotivado", observa o presidente do Sinpef/RS. Somente em 2015, segundo Sanderson, 500 policiais foram assassinados no Brasil em serviço. Foi o País com mais mortes desse tipo, superando o México, que até então liderava as estatísticas. "Como levar um policial para combater o crime, sabendo que a chance de ele morrer é grande, se nem o salário está recebendo em dia?", questiona.
O presidente do Sindicato dos Inspetores, Escrivães e Investigadores da Polícia Civil (Ugeirm), Isaac Ortiz, alega que a crise da segurança se deve ao decreto de contingenciamento de gastos no setor, promovido no início do governo Sartori e reeditado em 2016. "Não temos segurança porque o Estado está inerte e ainda contingencia todo o trabalho", critica.
Presidente da Associação dos Servidores de Nível Médio da Brigada Militar e Bombeiros Militares (Abamf), Leonel Lucas concorda. "Não adianta ser nomeado como secretário de Segurança Pública o Batman ou o Super-Homem se o governador não cumprir o papel dele. Mesmo se trabalhássemos sem déficit de pessoal, se o salário não for pago em dia, continuaremos com essa crise e esse desânimo dos servidores", opina.
Todos os sindicatos de servidores estaduais estão engajados na paralisação de hoje, inclusive o dos Servidores Penitenciários (Amapergs). "Sabemos que isso não mudará o cenário, pois o governador já mostrou que não tem compromisso com a segurança pública. Se tivesse, no mínimo, cumpriria a decisão que obriga o Estado desde o ano passado a pagar os salários integralmente", afirma o presidente da entidade, Flávio Berneira.