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eleições 2016

- Publicada em 28 de Agosto de 2016 às 22:09

Lei limita ganhos com campanhas

À frente de um minimercado na Capital, Elise e Furlani aproveitam a proximidade dos comitês para faturar

À frente de um minimercado na Capital, Elise e Furlani aproveitam a proximidade dos comitês para faturar


MARCO QUINTANA/JC
O movimento aumentou muito no minimercado e padaria Mini Mais nos últimos dias. O motivo, segundo Elise Beledeli e Rodrigo Furlani, proprietários do estabelecimento, localizado na avenida Getúlio Vargas, na Capital, é o mesmo que os brasileiros já estão acostumados a perceber a cada dois anos: o período eleitoral. A abertura de comitês de candidatos na vizinhança colocou o minimercado na rota dos negócios beneficiados pelas campanhas. Neste ano, porém, com uma série de novas restrições na lei eleitoral, histórias assim devem ser menos comuns.
O movimento aumentou muito no minimercado e padaria Mini Mais nos últimos dias. O motivo, segundo Elise Beledeli e Rodrigo Furlani, proprietários do estabelecimento, localizado na avenida Getúlio Vargas, na Capital, é o mesmo que os brasileiros já estão acostumados a perceber a cada dois anos: o período eleitoral. A abertura de comitês de candidatos na vizinhança colocou o minimercado na rota dos negócios beneficiados pelas campanhas. Neste ano, porém, com uma série de novas restrições na lei eleitoral, histórias assim devem ser menos comuns.
Segundo os setores mais ligados ao período, foi-se o tempo em que as campanhas eleitorais apareciam como a salvação da lavoura. As novas regras, mais rígidas, quando somadas com a crise econômica e a falta de crédito das candidaturas na praça, trazem pouca esperança sobre o período eleitoral de 2016 às empresas fornecedoras. Entre as gráficas, por exemplo, a expectativa é de uma queda de 30% a 40% em relação aos ganhos da última eleição municipal.
"Muitas empresas gráficas sempre têm a expectativa das eleições para conseguir um faturamento melhor, principalmente agora, levando em conta a situação econômica do País. Mesmo assim, neste ano, não estão nada otimistas", argumenta o presidente da seccional gaúcha da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf-RS), Ângelo Garbarski. O dirigente lembra que a situação é mais problemática para as pequenas empresas, nas quais as campanhas chegavam a representar mais de 30% do faturamento anual.
Os principais motivos para a queda são as novas regras eleitorais trazidas pela Lei nº 13.165/2015, que, entre outras limitações, proibiu o uso de placas, cavaletes e objetos semelhantes em locais públicos, além de adesivos maiores do que 0,5 m² em locais privados. Além disso, a legislação também diminuiu o período de campanha para 45 dias e proibiu o financiamento empresarial, entre outras mudanças, com o objetivo de reduzir o desequilíbrio econômico entre os candidatos. No campo de atuação das gráficas em específico, estão liberados produtos como santinhos, folders e as famosas "colinhas".
Garbarski lembra, porém, que outros fatores também têm influência na previsão. Um deles é o receio das empresas em conceder crédito às candidaturas. O dirigente conta que isso acontece, porque, em alguns casos, as gráficas chegavam a correr até 12 anos atrás dos partidos para que quitassem os produtos contratados, muitas vezes na Justiça. "Não se tinha esse hábito, mas agora estão adotando a medida de pedir de 30% a 40% de adiantamento para pelo menos comprar a matéria-prima", comenta. Se antes aceitava correr o risco, agora a situação é quase impossível para um setor que enfrenta forte retração em 2016. "O que entrar, entrou. Mas não vai ser o alimento, e sim quase um cafezinho", brinca o dirigente.
Já no caso de Elise e Furlani, porém, o aumento no fluxo é a esperança de fazer caixa para aguentar os meses de janeiro e fevereiro, quando o movimento diminui na Capital. "Poderia ter começado um mês antes pela regra antiga, mas ainda assim é o nosso maior movimento nos seis meses em que estamos abertos", comenta Elise, lembrando que a área tem pouca circulação de pessoas a pé. Com a abertura nas proximidades de dois comitês de candidatos a vereador, espaços com grande rotatividade de pessoas ao longo do dia, a situação mudou.
O novo cenário já gerou mudanças, como uma nova gama de lanches no cardápio e uma tentativa de servir almoços, depois descontinuada. Apesar disso, os empresários não abandonam os clientes antigos, mantendo vagas de estacionamento livres na rua em acordo com os cabos eleitorais, por exemplo. "Vem em ótima hora, mas são só 45 dias e, depois, volta tudo ao normal, não podemos abandonar quem já vinha aqui", acrescenta Elise. De outra negociação comum nestes casos, porém, os proprietários estão livres. "O pessoal fica nos pedindo voto, mas não votamos aqui", brinca Furlani.

Medidas são bem-vindas, desde que efetivas

 Entrevista com os proprietários do mercado MiniMais, que passaram a servir almoço porque abriu um comitê eleitoral do lado. Matéria sobre o impacto na economia do período eleitoral.    na foto: Elise Beledeli e Rodrigo Furlani

Entrevista com os proprietários do mercado MiniMais, que passaram a servir almoço porque abriu um comitê eleitoral do lado. Matéria sobre o impacto na economia do período eleitoral. na foto: Elise Beledeli e Rodrigo Furlani


MARCO QUINTANA/JC
Em outros setores da economia, a preocupação com as novas regras é menor, até porque a importância do período eleitoral também é menor. Nas empresas de mídia exterior, por exemplo, que fazem produtos como outdoors, não há qualquer perspectiva sobre as campanhas. "Já tem muito tempo que não fazemos mais parte desse mercado. Tentamos mudar isso, mas desistimos", argumenta o diretor do Grupo LZ, Marcus Zanetello. Os outdoors estão proibidos há quase uma década, assim como agora também os móbiles, uma das alternativas que haviam sido encontradas pelo setor desde então.
O cenário é parecido nas agências de publicidade. Segundo o presidente do Sindicato das Agências de Propaganda do Estado (Sinapro-RS), Fernando Silveira, o setor historicamente participa pouco do processo. "Sempre houve campo para profissionais da comunicação, mas não dentro das agências", argumenta. O dirigente conta que algumas ações específicas, e não campanhas inteiras, até chegam a passar pelas empresas, algo que deve ser ainda mais difícil neste ano por conta de escândalos envolvendo campanhas nos últimos anos. "As próprias agências não querem mais ter ligação com esse tipo de trabalho", garante, lembrando que, embora a imagem ruim recaia sobre a publicidade, muitos dos problemas descobertos tiveram como pivôs outros profissionais, como jornalistas, atuando com marketing político.
Mesmo assim, em geral, o sentimento é de que, se cumprirem o seu objetivo de diminuir o desequilíbrio entre os candidatos, as medidas terão valido a pena. "Caso a legislação se comprove como eficiente para a democracia, é importante e terá apoio, mesmo que os setores venham a perder", projeta Silveira, embora defenda que a reforma política deveria ser bem mais profunda.
"Vendo pelo aspecto profissional, é ruim para nós; mas, pelo lado institucional, acho que está correto, pois, muitas vezes, o poderio econômico arruína com quem poderia ser um bom governante, mas não tem verba", concorda o presidente da Abigraf-RS, Ângelo Garbarski. Já Marcus Zanetello, do Grupo LZ, levanta o ponto contrário, lembrando que, como há menos espaço para divulgação, tende a ficar mais difícil para novos nomes tornarem-se conhecidos, beneficiando quem já faz parte do jogo.