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Cinema

- Publicada em 01 de Setembro de 2016 às 23:16

As ilusões perdidas

Um filme por ano, quase sempre trabalhos notáveis, e, quando tal não acontece, o resultado está sempre acima da média do que se costuma ver regularmente nas telas. Assim tem sido a carreira de Woody Allen. Além dos filmes, realizou recentemente uma série para a televisão. E também dirigiu uma ópera em Los Angeles (Gianni Schicchi, de Puccini) e atuou como ator em filme de outro diretor (Amante a domicílio, de John Turturro). E já está preparando o novo filme, a ser lançado em 2017. Também continua um leitor interessado em descobertas.
Um filme por ano, quase sempre trabalhos notáveis, e, quando tal não acontece, o resultado está sempre acima da média do que se costuma ver regularmente nas telas. Assim tem sido a carreira de Woody Allen. Além dos filmes, realizou recentemente uma série para a televisão. E também dirigiu uma ópera em Los Angeles (Gianni Schicchi, de Puccini) e atuou como ator em filme de outro diretor (Amante a domicílio, de John Turturro). E já está preparando o novo filme, a ser lançado em 2017. Também continua um leitor interessado em descobertas.
Em entrevista ao jornal londrino The Guardian, edição de 6 de maio de 2011, relacionou as cinco obras que mais o influenciaram e, entre elas, citou Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis. Seu filme de 2016, este Café Society, é um dos melhores, um relato que reúne todos os temas que o cineasta tem abordado em sua filmografia. Estão presentes, agora renovadas e enriquecidas, situações já vistas anteriormente, como se o diretor estivesse querendo demonstrar, como admirador do jazz, que não é apenas na música que as variações em torno de um tema são infinitas e que toda uma obra pode ser construída a partir de um motivo principal. É impossível deixar de ver no filme uma retomada de uma das obras-primas do realizador, A rosa púrpura do Cairo. O fascínio que o cinema dos anos 1930 exerce sobre o realizador reaparece de forma explícita, mesmo porque a ação transcorre naquela época. Mas é necessário ressaltar que aquele filme e o de agora resumem toda uma obra e que, ao se agigantarem como realização, também a completam e enriquecem.
Trata-se, novamente, de um sonho desfeito, de uma ambição que se desfaz, de uma fantasia destruída pela realidade. O protagonista, um nova-iorquino como o diretor, imagina que, na Califórnia, encontrará as oportunidades que parecem impossíveis de ser atingidas em sua cidade. Habilmente, imaginação e cotidiano se mesclam para que a primeira termine se confrontando com o real. Os cartazes, os cenários e as citações de nomes famosos, sem esquecer as mansões onde vivem os astros, tudo contribui para o deslumbramento do personagem. Mas Allen não esquece o mundo do qual procura se afastar o protagonista. A vida em Nova Iorque é mostrada paralelamente à riqueza do mundo do cinema. O irmão criminoso continua em suas atividades, algo que permite a colocação em cena de uma das mais célebres lendas urbanas norte-americanas: o desaparecimento de corpos misturados ao concreto dos grandes edifícios. A irreverência e o humor se fazem presentes nessas e em outras cenas de violência, algo que permite um certo distanciamento do que está sendo narrado e também expressa a ingenuidade do jovem que pensa encontrar espaço na capital do cinema. Ele tenta fugir de uma realidade e se depara com mundo irreal, onde os seres humanos parecem figuras artificiais, agindo e falando de forma a evidenciar uma ostentação que apenas acentua a falta de sentido de suas vidas.
O amor pela secretária do tio é outro componente que reforça o tema da desilusão. A referência a um trecho de Macbeth, na verdade uma variação do texto original, também encaminha a ação para uma situação que seria injusto revelar para quem ainda não viu o filme, mas que pode ser classificada, sem nenhum prejuízo para o espectador, como o elemento mais revelador da essência do que está sendo narrado. O realizador se esmera na parte final da narrativa. O encontro em Nova Iorque, quando a antiga paixão fala e se comporta como aqueles integrantes de uma espécie de museu de cera, desfaz todas as ilusões. A realidade se impõe, mas, como no final do filme anterior já citado, a imaginação aparece como uma força capaz de manter vivas as personagens derrotadas pelas leis impostas pelo esforço da luta por sobrevivência. As lembranças formam imagens que, unindo os personagens, fazem a ação, de certa forma, retroceder, como se as cores e os esplendores imaginários se transformassem em realidade. A fantasia é, assim, a única força capaz de manter erguido o ser humano, num universo dominado por palavras ocas e rituais vazios.
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