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Cinema

- Publicada em 07 de Agosto de 2016 às 21:12

Mundo novo

Houve época na qual a comédia cinematográfica era um gênero nobre, no qual alguns filmes hoje clássicos foram realizados. A lista é grande, mas vale lembrar que nomes como Lubitsch, Bergman, Mankiewicz, Minnelli, Wilder, Wyler, Kubrick e ainda outros o frequentaram e o dignificaram.
Houve época na qual a comédia cinematográfica era um gênero nobre, no qual alguns filmes hoje clássicos foram realizados. A lista é grande, mas vale lembrar que nomes como Lubitsch, Bergman, Mankiewicz, Minnelli, Wilder, Wyler, Kubrick e ainda outros o frequentaram e o dignificaram.
Atualmente, o espectador é, vez por outra, colocado diante de trailers que, em poucos minutos, acumulam grosserias que, segundo dizem as estatísticas, auxiliam na conquista de boas bilheterias. Vale dizer: tais filmes encontram apoio em grande parte do público. Tal fato, é claro, evidencia que os tempos atuais não se caracterizam por uma seleção rigorosa nem por um interesse em cultivar algo que mereça ser visto como empenhado em aprimorar o gosto e a sensibilidade.
Ao contrário: a grosseria passou a ser norma e até tem, em alguns casos, merecido o beneplácito de alguns círculos. Tal constatação não tem origem em qualquer gênero de saudosismo. Grandes filmes têm sido realizados recentemente, todos eles evidenciando que há, em curso, uma luta de resistentes. O que se lamenta é a mediocridade que tomou conta de um gênero outrora dos mais ricos. Parte da grandeza do cinema deriva da comédia, o que pode ser comprovado pela citação a Chaplin, Keaton, Lloyd, Linder e tantos outros pioneiros. Talvez seja impossível alcançar a altura de tais gigantes, mas o que se lamenta e que nem uma aproximação tem sido tentada e o desconhecimento das riquezas do passado parece ser a orientação adotada.
Quando o gênero era praticado por cineastas de respeito, a crítica cinematográfica criou o termo "alta comédia" para caracterizar um tipo de filme que não estava interessado em grandes acontecimentos cômicos, mas em sutilezas e ironias extraídas de uma contemplação da realidade que mesclava ironia com doses de humanismo. Há muitos exemplos, mas Sorrisos de uma noite de amor, de Ingmar Bergman, e Dizem que é pecado, de Joseph L. Mankiewicz, talvez sejam os maiores. Negócio das Arábias, realizado pelo cineasta alemão Tom Tykwer, procura se aproximar de tal proposta cinematográfica. O diretor, que antes havia alcançado alguma repercussão com Corra, Lola, Corra e O perfume, escreveu ele próprio o roteiro, tendo por base uma novela de Dave Eggers.
Seu filme, embora alguns momentos dispensáveis e caracterizados por um humor pobre, como aquelas quedas de Tom Hanks, merece um olhar pela forma com a qual procura mesclar uma trajetória individual num mundo globalizado. De certa maneira, Tykwer tenta se aproximar da comédia não contaminada pela vulgaridade. E, se não realizou um filme à altura dos modelos, pelo menos tenta oferecer ao espectador algo distante das simplificações e da escatologia.
Se fosse exibido aqui com um título melhor, A hologram for the king talvez encontrasse seu público de forma mais apropriada. Eis um filme sobre a globalização e as soluções e os problemas por ela criados. Este executivo norte-americano que é enviado à Arábia Saudita para apresentar ao soberano do país uma tecnologia revolucionária não é apenas o representante do capital em busca de mercado. Ele também é o pai com alguns problemas no relacionamento com a filha e, ao mesmo tempo, um filho em conflito com pai. As imagens do deserto são uma expressão desse vazio e a cidade sendo construída a expressão de uma tentativa de recomeço.
Mas esta nova cidade já está marcada por distorções. Uma sequência deixa isso bem claro. É aquela na qual o protagonista sobe pela escada de um prédio em construção e se depara com os homens que nele trabalham, antes de chegar a um cenário onde a riqueza ignorou etapas importantes e se instalou de maneira ostensiva. A cura do quisto nas costas, outra referência a Lawrence da Arábia, o filme de David Lean, que já havia sido citado nos diálogos, é um símbolo do encontro de um novo caminho. E há referências bem claras ao mundo globalizado, não faltando mesmo uma ironia com o avanço dos chineses, esses possuidores das chamadas terras raras, minerais sem os quais não haveria o mundo atual e sua tecnologia, uma delas revelada no filme, quando a comunicação entre as pessoas é possibilitada de maneira artificial.
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