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Porto Alegre, quarta-feira, 31 de agosto de 2016. Atualizado �s 20h38.

Jornal do Com�rcio

Panorama

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CINEMA

Not�cia da edi��o impressa de 01/09/2016. Alterada em 31/08 �s 17h08min

Aquarius estreia em todo o Pa�s

Sonia Braga estrela o elogiado Aquarius, que tem estreia em todo o Pa�s

Sonia Braga estrela o elogiado Aquarius, que tem estreia em todo o Pa�s


VITRINE FILMES/DIVULGA��O/JC
Ricardo Gruner
No fim de semana passado, mal Aquarius era exibido como hours concours no Festival de Gramado já recebia um outro prêmio, do outro lado do Atlântico: melhor filme no World Cinema Amsterdam, na Holanda. Tudo parece acontecer em velocidade acelerada quando o assunto é o longa-metragem, que entra em cartaz no circuito comercial hoje.
Dirigida pelo pernambucano Kleber Mendonça Filho (do premiado O som ao redor, de 2013), a obra vem chamando a atenção desde maio, quando participou da seleção oficial do Festival de Cannes. Agora, com a estreia, quem sabe as atenções se concentrem no poder da narrativa e não apenas nas polêmicas políticas que pairam em seu entorno.
Sonia Braga volta à tela grande no papel de Clara, moradora da praia de Boa Viagem, no Recife. O nome do prédio onde vive - última edificação em estilo antigo na avenida, de frente para o mar, dá título à produção. A jornalista aposentada é também a derradeira residente do local. Todos os outros apartamentos foram comprados por uma construtora, que deseja implantar naquele terreno um empreendimento moderno. Entretanto, a protagonista não tem o menor interesse em negociar o imóvel: foi ali onde criou a família e, até hoje, é feliz.
Por mais que a especulação imobiliária esteja no centro do enredo, Aquarius pode ser visto como um filme de personagem. Na ideia de "progresso" defendida pelos antagonistas, o velho deixa de ter valor e a substituição, a realocação e a modernização são soluções evidentes. Clara é o oposto dessa concepção - embora não esteja presa no passado.
Com um câncer superado ainda quando moça, a crítica de música exala vida e respira princípios. Não descarta as mídias digitais, mas se relaciona melhor com os vinis - pelo poder das conexões emocionais agregadas ao disco físico. E, tampouco, reprime seus desejos sexuais.
Após 15 anos afastada do cinema nacional, Sonia Braga compõe a personagem com destaque: a mesma postura ereta com que caminha serve como parâmetro para descrever a protagonista diante daqueles que estão ao seu redor. Clara não abaixa a cabeça ou engole sapo nem de negociantes nem de parentes. Sabe ser firme, afetuosa, e, com um olhar resoluto, já tem seu lugar entre as grandes personagens da produção nacional dos últimos anos.
Mesmo que o longa-metragem toque em temas espinhosos da realidade brasileira, como as relações de poder e o conceito de educação, a política nunca entra em cena através de proselitismo partidário. Ainda em Cannes, a equipe do filme levantou cartazes contra o impeachment de Dilma Rousseff, e desde então tudo que envolve o lançamento de Aquarius é interpretado sob o prisma do simbolismo.
Os produtores consideraram que a classificação indicativa (18 anos, enquanto a sugestão dos realizadores era 16) foi uma retaliação por parte do Ministério da Justiça. Em apoio ao título, os cineastas Anna Muylaert (Mãe só há uma) e Gabriel Mascaro (Boi neon) até desistiram de incluir seus filmes na lista de possíveis representantes do Brasil no Oscar - e, em meio a essa turbulência, o próprio comitê que apontará o filme escolhido passou por alterações.
Polêmicas à parte, o roteiro de Kleber Mendonça Filho aponta para a resistência, em diferentes instâncias, como uma forma de vida. Com um elenco que inclui Maeve Jinkings, Irandhir Santos e Humberto Carrão, Aquarius jamais cai nas armadilhas do melodrama fácil, mas também não deixa de ser um filme acessível - com menos digressões e licenças poéticas metafóricas do que O som ao redor, por exemplo. A memória e o afeto agregado que vêm com ela são insubstituíveis, e o cineasta opta por reverenciá-los, mesmo que o cinismo e a ganância estejam sempre à espreita.
A trajetória da produção ainda inclui o prêmio de melhor filme no Festival de Sidney e no Transatlantyk Festival, na cidade polonesa de Lodz. Em outubro, o trabalho participará também do Festival de Cinema de Nova Iorque.
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