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Empresas & Negócios

- Publicada em 03 de Agosto de 2016 às 16:24

Criatividade, substantivo feminino

Nicole Feijó
Mulheres estão longe de estarem em cena e são minoria em todas as funções que compõem o processo de produção cinematográfica no Brasil. Enquanto os homens brancos representam 69% dos roteiristas, 84% dos diretores e 45% do elenco principal, apenas 24% dos roteiros são produzidos por mulheres brancas. A participação feminina no elenco principal e na direção se reduz a 35% e 14%, respectivamente. A representatividade das negras é ainda mais baixa: 5% no elenco e nula na direção e roteirização. O levantamento é do Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa (Gemaa), que analisou os 20 filmes com maiores bilheterias de cada ano entre 2002 e 2014, relacionando gênero e raça na pesquisa "A cara do cinema nacional: o perfil de gênero e cor dos atores, diretores e roteiristas dos filmes brasileiros", coordenada por Verônica Toste e João Feres Júnior.
Mulheres estão longe de estarem em cena e são minoria em todas as funções que compõem o processo de produção cinematográfica no Brasil. Enquanto os homens brancos representam 69% dos roteiristas, 84% dos diretores e 45% do elenco principal, apenas 24% dos roteiros são produzidos por mulheres brancas. A participação feminina no elenco principal e na direção se reduz a 35% e 14%, respectivamente. A representatividade das negras é ainda mais baixa: 5% no elenco e nula na direção e roteirização. O levantamento é do Grupo de Estudos Multidisciplinares da Ação Afirmativa (Gemaa), que analisou os 20 filmes com maiores bilheterias de cada ano entre 2002 e 2014, relacionando gênero e raça na pesquisa "A cara do cinema nacional: o perfil de gênero e cor dos atores, diretores e roteiristas dos filmes brasileiros", coordenada por Verônica Toste e João Feres Júnior.
Engana-se quem pensa que isso só acontece nas telas brasileiras. Eleonora Loner, cineasta graduada pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), explica que esse não é um caso exclusivo das produções do País, mas sim do mundo. O estudo da University of Southern California em parceria com a Onu Mulher e The RockFeller Fundation analisou filmes em 11 países, entre eles Estados Unidos, Itália, França, Alemanha e Brasil. Os dados confirmam a tese da roteirista: 79% dos cineastas são homens.
Mudar esse cenário foi uma das motivações que levou Eleonora, junto à também cineasta María Elena Morán Atencio, a transformar uma ideia em realidade: a elaboração de um curso de roteiro audiovisual exclusivo para mulheres, a Oficina Criativas. Partindo do princípio de que mais roteiristas mulheres possibilitam maior representatividade delas à frente das câmeras, o projeto estreou em 2015, destinado a mulheres de todas as faixas etárias e profissões. Ministrada por Eleonora e María, roteiristas pela Escuela Internacional de Cine y Televisión - EICTV, em Cuba, a oficina teve duração de três meses e ocorreu na Associação de Pesquisas e Práticas em Humanidade, localizada no Centro Histórico da Capital. A cada uma das selecionadas, foi sugerido um valor para contribuir com os custos do curso.
O sucesso garantiu que o trabalho continuasse no primeiro semestre deste ano. Em 2016, a oficina restringiu seu público a jovens mulheres, de 10 a 18 anos, e conquistou o apoio do Fumproarte, que financia produções das mais diversas áreas de expressões artísticas. A partir do edital focado para o público infantojuvenil, as organizadoras puderam oferecer o curso gratuitamente. As 24 meninas inscritas foram divididas em duas turmas, e os encontros aconteciam uma vez por semana, durante o mesmo período de tempo e no mesmo local que sediou a primeira experiência. De todas as inscritas, apenas 14 delas completaram o curso. Eleonora conta que, apesar da mudança de público, o formato da oficina se manteve, e as referências trazidas pelas jovens surpreenderam as ministrantes. "Pensamos que seria uma carga muito pesada, mas a gente foi vendo que elas estavam entendendo tudo o que estávamos dizendo."
A metodologia das aulas consiste em misturar a teoria e a prática de roteirização, junto a exercícios com músicas e vídeos que estimulam as ideias das alunas. Além disso, durante todo o processo, elas desenvolvem um roteiro individual final. Para a roteirista, os debates que acontecem em todos os encontros representam o ponto forte do curso. "Por mais que o roteiro seja um processo solitário, ele cresce muito com o debate. Às vezes, pensamos que a nossa produção está passando uma mensagem, mas as pessoas estão lendo de outra forma", explica. De acordo com ela, por estarem apenas entre mulheres, há mais confiança em compartilhar opiniões e ideias e, mesmo que o curso fosse misto, o conteúdo não mudaria, mas as discussões seriam diferentes.
Júlia Machado Leal Guimarães, aluna do curso realizado no primeiro semestre deste ano, concorda com Eleonora e conta que, por ser uma oficina exclusiva para meninas, contribuiu para a aumentar a sua confiança e coragem para compartilhar ideias. "Durante as aulas, as meninas não tinham medo da crítica, existia muita liberdade de comentar qualquer assunto sem competitividade", relata. Sem grandes expectativas ao se inscrever na oficina, ela afirma que se surpreendeu e destaca que as ministrantes foram além da teoria e criaram um ambiente de interação e bem-estar.
A estudante do 3º ano do Ensino Médio planeja investir na paixão pela arte e prestar vestibular para o curso de Produção Audiovisual, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - Pucrs. A primeira oficina, que aconteceu em 2015, rendeu parcerias que permaneceram, como com Luiza de Oliveira Nascimento, estudante de Psicologia que, após o fim do curso, se uniu a Eleonora e María como monitora no primeiro semestre de 2016. Assim como Júlia, o interesse dela em participar do curso está ligado à proposta de ser um ambiente exclusivamente feminino. "Acho muito potente esse união de meninas em uma situação de solidariedade, onde uma contribui para a história da outra", pontua ela.
O primeiro passo já foi dado, mas o sonho das roteiristas seria oportunizar às meninas um curso que abrangesse todos os processos da produção audiovisual, desde o roteiro até a produção. Enquanto elas ainda não realizam esse desejo, continuam a proporcionar o contato com pelo menos uma parte dessa formação. A 3ª edição da oficina acontece de setembro a novembro, e as inscrições estão abertas até o dia 21 deste mês pelo e-mail [email protected].
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