As nações, como as individualidades, necessitam manter liames afetivos, espirituais e psicológicos destinados a manter uma junção, uma união para o exercício pleno e indispensável de uma proteção paterna. A ausência - de uma figura que seja - ou que represente a imagem de um pai, tanto na vida humana, quanto na comunidade, em que é representada por um líder político, exerce profundos desvios no comportamento. Tanto a falta de um progenitor como a de um líder político, empresarial ou de qualquer outro setor - eis que são protetores e condutores -, deixa de preencher uma lacuna afetiva. A imprensa noticiou que dois em cada três jovens infratores não têm pai. O Ministério Público considera que 1.500 jovens, com idade entre 12 e 18 anos, se ressentem dessa ausência, e afirma que 42% não mantêm contato com o cabeça da família, o que os leva ao crime. Sabe-se que a falta do pai ou da figura paterna, ou de alguém que o represente e simbolize, é indispensável para o equilíbrio mental e necessário para a normalidade psicológica, para o êxito e a cidadania. O jovem que é privado, destituído da presença de um pai sente-se desamparado, desamado e inútil. Ele vive a imagem de ser ninguém e, para ser alguém, adota atitudes desesperadas. Busca permanentemente ser um herói, como fantasia inconsciente de chamar a atenção e de reaver o pai ausente. O intrínseco desejo de incorporar a heroicidade conduz o indivíduo a identificar-se com quem está mais visível. A televisão e o sensacionalismo também são fatores que impressionam. A ausência de um pai ou de alguém que o signifique e o simbolize tanto no âmbito institucional, como na organização familiar, significa uma orfandade pessoal e coletiva. No âmbito dos vínculos da identificação do pai mal com os líderes políticos, pais virtuais, a própria história de tais lideranças comprova que a preferência das massas recai sobre os que adotam atitudes paternais. Getulio Vargas deve parte de seu triunfo ao apodo histórico de "Pai dos Pobres".
Psicanalista e jornalista