Em cinco anos, o CEO da Zenvia, Cássio Bobsin Machado investiu em seis startups, quatro quebraram, duas já estão sendo rentáveis. Bobsin, aos 35 anos, é um típico investidor-anjo, e tem a vantagem de ter vivido na própria pele a experiência de começar um negócio sem dinheiro, pedindo emprestado a familiares para dar os primeiros passos em uma garagem. O CEO de uma empresa que cresceu 85% ao ano entre 2005 e 2014, já fez aquisições e é considerada líder em soluções para envio de mensagens mobile, encara a empreitada de mentorar e apostar em startups como uma forma de aprendizado e pretensão de ajudar a desenvolver o País. Bobsin descreve os fatores que leva em conta ao escolher onde vai colocar seu dinheiro, condutas adequadas de quem precisa de capital e controles e cumprimento de regras para gerar o retorno confiável.

Quando comecei meu negócio, não existia investidor-anjo. Acho mesmo que a melhor forma de desenvolver e a mais saudável é não captar capital. O melhor caminho é gerar valor vendendo aos clientes, para que o negócio se pague. Até porque um investidor vai cobrar retorno. Não é fácil começar sem capital, mas não é impossível, nós (Zenvia) conseguimos. 

Não inovador: no começo tem de saber muito bem o que precisa para buscar capital, pois terá uma única oportunidade de levantar recursos. Empreendedores sem experiência, não fazem a conta direito do capital de giro que vão precisar e são muito otimistas nas vendas, sem dimensionar o dinheiro adequadamente. Investidor para esse tipo de negócio costuma ser do relacionamento do empreendedor ou que conhece bem do negócio e não vai se enganar.

Inovador: quem faz esse negócio não tem muito claro a conta de receita e ganhos, e a vantagem é que o investidor sabe que a conta será chutada e terá de estar disposto a um risco maior. Quem entra nisso é porque aceita perder tudo que investir, por outro lado se der certo ganhará muito mais do que investiu. O investidor aplica em mais de uma opção, pois sabe que alguns darão errado e outros muito certo.

Gosto de participar e contribuir para negócios inovadores, para transformar e gerar progresso. Investimentos inovadores trazem progresso ao País. É comum entre investidores de risco gostar de se envolver e de participar do empreendimento que vai transformar a sociedade. Além disso, é um aprendizado constante, pois fazer investimento de risco é bem difícil.

O empreendedor tem de ter uma visão ambiciosa e clara da sua capacidade de execução. Muitas oportunidades surgem em conversas e compartilhamento de informações para fazer a entrega. A projeção de retorno é sempre muito chutada. É fundamental passar confiança de que é capaz de fazer aquilo que promete entregar.

O problema no Brasil é que não há empréstimo para empreendimentos inovadores. Linhas públicas são escassas e não há formas de buscar recursos em banco. Por isso, tem de ser criativo, fazer poupança, otimizar o custo de vida pessoal e buscar alternativas em conhecidos. Existem as aceleradoras, mas a chance aumenta para quem já faz funcionar o negócio. Ideias hoje são grátis – tenho mil delas na minha gaveta. O valor está na capacidade de executar.

O sócio ou sócios precisam ser complementares. Às vezes, encontro startup com sócios de mesmo perfil e área técnica ou empresa que nem fatura e tem um monte de sócios e dois investidores. Dizem que começar um negócio na garagem não está mais na moda, aí se gasta para pagar aluguel e nem tem receita. Dá ainda para começar em casa.

Quando invisto, faço uma contribuição estratégica, acompanhando indicadores e controles. O empreendedor deve cumprir as obrigações tributárias à risca. Resumindo: pagar o que tem de pagar. É uma exigência minha, pois olho o longo prazo. Fazer a coisa certa desde o começo dá mais trabalho e é mais caro, mas é mais sólido. Às vezes, a empresa só dá lucro se não segue a regra.