A dispensa de quatro testemunhas de acusação convidadas que participariam da reunião da Comissão Especial do Impeachment ontem provocou novo tumulto no colegiado. O pedido de cancelamento das oitivas foi feito pelos aliados do presidente em exercício, Michel Temer (PMDB), para tentar acelerar ainda mais o processo. As testemunhas haviam sido convocadas pela própria acusação, que voltou atrás com a justificativa de que já há evidências suficientes de que a presidente afastada Dilma Rousseff (PT) cometeu crime de responsabilidade.
Foram dispensados da reunião de ontem Marcus Pereira Aucélio, ex-subsecretário de Política Fiscal do Tesouro Nacional, e Esther Dweck, ex-secretária de Orçamento e Finanças. A comissão também dispensou duas testemunhas que haviam sido indicadas por senadores: Marcelo Saintive, ex-secretário do Tesouro Nacional, e Marcelo Amorim, ex-coordenador-geral de Programação Financeira do Tesouro Nacional.
No momento em que a decisão foi tomada, Aucélio e Esther aguardavam, em uma sala especial da comissão, sua vez de falar. O resultado provocou um bate-boca entre os senadores, e a sessão teve que ser suspensa por alguns minutos. "É um escândalo o que está fazendo. Eles estão fazendo isso, porque a estratégia deu errado. Os técnicos do governo, na semana passada, destruíram a tese da acusação", afirmou o senador Lindbergh Farias (PT-RJ). Na quarta-feira passada, testemunhas de acusação acabaram favorecendo a defesa de Dilma na comissão. Funcionários de carreira do Tesouro Nacional deram depoimentos que confirmavam a quitação de dívidas do governo em 2015 e negavam qualquer impacto sobre a meta fiscal.
Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) disse que é "absolutamente normal e corriqueiro" a dispensa de uma testemunha na antessala de um julgamento e acusou a defesa de tentar procrastinar os trabalhos. "Estamos com uma presidente da República afastada, com o presidente da Câmara afastado, com o presidente do Congresso com o pedido de prisão, o País está derretendo. Vemos que os aliados de Dilma tentam, de forma deliberada, extrapolar o prazo de seis meses para que eventualmente Dilma possa reassumir o seu mandato, o que irá aprofundar a crise."
A senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) criticou a decisão de dispensar testemunhas que haviam sido aprovadas pelo colegiado e já estavam presentes no plenário para participar da reunião. José Pimentel (PT-CE) também interveio, dizendo que só poderia haver a dispensa se houvesse consenso entre a defesa e a acusação. Os petistas negaram reiteradamente as acusações de que querem postergar o processo, alegando que a acusação tenta atropelar o processo e não está assegurando o direito da defesa.
O presidente da comissão, Raimundo Lira (PMDB-PB), deu um prazo de 24 horas para a defesa incluir os nomes excluídos ontem entre as suas testemunhas, caso considere necessário. Ex-advogado-geral da União, José Eduardo Cardozo (PT) deve recorrer da decisão ao presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski.