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Reino Unido

- Publicada em 26 de Junho de 2016 às 21:39

Petição reúne assinaturas para novo plebiscito sobre UE

Saída do bloco europeu causa insegurança em britânicos e residentes no país

Saída do bloco europeu causa insegurança em britânicos e residentes no país


ODD ANDERSEN/AFP/JC
Desde quinta-feira, quando o Reino Unido decidiu romper com a União Europeia (UE), mais de 3,2 milhões de pessoas já assinaram uma petição feita junto ao Parlamento britânico para a realização de um segundo plebiscito sobre a permanência ou a saída do bloco europeu. A iniciativa atraiu quem não votou e também arrependidos com os efeitos imediatos do plebiscito, que fez o primeiro-ministro David Cameron anunciar que deixaria o cargo, abriu uma crise no Partido Trabalhista, com a renúncia de metade dos aliados do líder oposicionista Jeremy Corbyn, e criou uma convulsão no mercado financeiro em todo o mundo.
Desde quinta-feira, quando o Reino Unido decidiu romper com a União Europeia (UE), mais de 3,2 milhões de pessoas já assinaram uma petição feita junto ao Parlamento britânico para a realização de um segundo plebiscito sobre a permanência ou a saída do bloco europeu. A iniciativa atraiu quem não votou e também arrependidos com os efeitos imediatos do plebiscito, que fez o primeiro-ministro David Cameron anunciar que deixaria o cargo, abriu uma crise no Partido Trabalhista, com a renúncia de metade dos aliados do líder oposicionista Jeremy Corbyn, e criou uma convulsão no mercado financeiro em todo o mundo.
Apesar do movimento, a coleta de assinaturas também irritou quem apoia a saída da UE e é vista com descrédito por muita gente que foi voto vencido no plebiscito. Até mesmo quem assinou a petição acredita que dificilmente haverá uma nova consulta popular. A grande aposta, contudo, é na força da pressão popular para impor um debate mais aberto e um ritmo mais lento ao processo de saída do bloco, que ainda guarda muitas incertezas sobre como e quando será conduzido.
Estima-se que, uma vez formalizadas, as negociações devem se arrastar por dois anos. A saída precisa ser avalizada pelo Parlamento britânico antes de seguir para o Conselho Europeu, na Bélgica, onde fica a sede da UE.
O comitê de petições do Parlamento informou ontem, por meio de nota, que pretende analisar a petição nesta semana e pode marcar uma audiência para debater o pedido de um segundo referendo. "Não significa que o comitê vai decidir se concorda ou não com a petição, é apenas para definir se ela deve ou não ser debatida", esclareceu a deputada Helen Jones, presidente do comitê.
Para Helen, "está claro que essa petição é muito importante para um número significativo de pessoas. Ela alertou ainda que as assinaturas serão checadas para evitar fraudes - ontem, foram retiradas 77 mil assinaturas por suspeita de serem falsas.
A petição foi criada quase um mês antes da data do histórico plebiscito, que aconteceu em 23 de junho. Tinha apenas 22 assinaturas quando foi anunciada a vitória para o Brexit, fusão das palavras em inglês "saída" e "britânicos" para definir o rompimento do Reino Unido do bloco do qual fazia parte desde 1973. A "saída" venceu com 52% dos votos válidos, em uma eleição que contou com participação de 72,2% dos eleitores registrados - no Reino Unido, o voto não é obrigatório.
As justificativas apresentadas na petição são de que é possível aplicar uma regra que estabelece uma nova consulta quando o lado vencedor tem menos que 60% dos votos e o número de pessoas que foram votar é 75% menor que as registradas. Ontem, quatro dias após o plebiscito, contava com mais de 3,2 milhões de assinaturas.

Viabilidade de nova consulta é questionada até por quem apoia o bloco

A viabilidade de uma nova consulta é questionada até mesmo por aqueles declaradamente pró-UE. A estudante inglesa Anna Grimaldi assinou a petição tão logo soube do pedido. "Mas eu pensei bem e acho que um segundo plebiscito pode ser algo perigoso", observou. Para a estudante, as pessoas que rejeitam o resultado "não só estão rejeitando uma prática democrática como também estão lavando as mãos de qualquer outra responsabilidade".
Anna está trabalhando em sua própria petição. Ela pretende recolher assinaturas para fazer o governo trabalhar junto com os eleitores dos dois lados para construir um futuro viável para o Reino Unido. Ainda que considerado uma "causa perdida" por muitos, somente o debate por uma segunda consulta pode ser produtivo.
"Não assinei ainda, mas vou fazê-lo para dar meu apoio a um resultado cujas consequências precisam ser melhor discutidas", avaliou o contador Jordan Wood, logo depois de tomar café da manhã em Westminster, coração político do Reino Unido na capital inglesa. A poucos metros dali, a australiana Lidia Crocran limpava as cadeiras e mesas de um restaurante. Ela não votou na semana passada, mas afirma que, se tivesse um segundo plebiscito, iria às urnas para manter o Reino Unido na UE - além de britânicos e irlandeses, também puderam votar os cidadãos do Commonwealth (associação de 53 países historicamente ligados à Coroa) que vivem no país. "As pessoas se assustaram. Aqui, muita gente ficou insatisfeita com o resultado, mas Londres é diferente", disse a garçonete.
Quem saiu vitorioso na disputa e está convencido de que o futuro do país será melhor fora do bloco europeu condena a petição. "É um lixo que coloca em risco a democracia. Foi uma disputa apertada, mas venceu a vontade da maioria e isso precisa ser respeitado", diz a enfermeira Norma Shanta. Para ela, os defensores do Brexit são pessoas que estão dispostas a passar por um momento difícil antes de ver o Reino Unido fazer suas próprias normas e ter condições de melhorar a vida das pessoas.
A professora Fiona Macaulay, da Universidade de Bradford, afirma que uma segunda consulta é viável e há um precedente. Em 2008 e 2009, a Irlanda fez dois plebiscitos para opinar sobre o Tratado de Lisboa, que alterou o funcionamento do bloco. "O problema é político. A maioria dos deputados quer ficar na UE. Pessoalmente, penso que um segundo referendo, com o Leave (nome da campanha que quer sair do bloco) forçado a colocar seus planos para o futuro, é o único caminho a seguir."

Começa movimentação para substituição de David Cameron

A decisão de David Cameron de renunciar como premiê pôs em movimento uma batalha pela liderança do Partido Conservador, atualmente no governo, e que também irá determinar o próximo ocupante do cargo. Entre os possíveis candidatos estão o ex-prefeito de Londres, Boris Johnson, que liderou a campanha para a saída do país da UE, e a ministra para assuntos internos Theresa May, que ficou ao lado de Cameron em seu apoio à continuidade no bloco.
O futuro econômico e político do Reino Unido, e também se o país continuará unido, vai direcionar a forma como os candidatos vão lidar com o fim da relação de 43 anos com a UE. Outro partido político importante, o oposicionista Partido Trabalhista, enfrenta turbulência, com pedidos de renúncia do líder Jeremy Corbyn.
Depois da derrota no referendo, Cameron anunciou que vai permanecer no cargo por três meses, e que o objetivo é escolher um novo líder durante a conferência anual do Partido Conservador em outubro. "Quem quer que seja, existem dois desafios reais", disse Richard Ottaway, um antigo político do partido conservador, que deixou o cargo de parlamentar ano passado. "Uma delas é, obviamente, liderar as negociações sobre a Europa; a segunda é unir o Partido Conservador. Ambas representam desafios sérios."
O processo de escolha de um novo líder conservador é duplo. Em primeiro lugar, os legisladores nomeiam os candidatos. Se houver mais de duas indicações, realizam uma série de pleitos até que a lista seja reduzida a dois candidatos. Depois, o processo é aberto para votação dos 150 mil filiados.
 

Escócia considera vetar aprovação do Brexit no Parlamento

A Escócia fará o que for preciso para permanecer na UE, incluindo tentar bloquear a aprovação da saída britânica no Parlamento local, afirmou ontem a premiê Nicola Sturgeon. O país, que possui 5 milhões de habitantes, teve 62% dos votos pela permanência. No geral, a saída foi aprovada por 52% dos eleitores. A efetivação do Brexit precisa ser aprovada pelo Parlamento britânico e obter consenso nos legislativos de Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte.
Defensora da independência escocesa, a legenda de Nicola, o Partido Nacional da Escócia, possui 56 dos 59 assentos reservados ao país no Parlamento britânico. Ela também contou que estuda a possibilidade de negociar diretamente com a UE o melhor caminho para que a Escócia possa permanecer no bloco. Para Nicola, o Brexit legitima o país a voltar a debater a questão de sua independência do Reino Unido.
Conforme pesquisa, 59% dos escoceses apoiam a saída do Reino Unido. Em 2014, o plebiscito teve 55% dos votos pela permanência.