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Conjuntura

- Publicada em 24 de Junho de 2016 às 21:18

Brexit gera expectativas sobre investimentos e comércio com Brasil e Rio Grande do Sul

A vitória da saída do bloco pode abrir novos fluxos para venda de produtos e investimentos diretos

A vitória da saída do bloco pode abrir novos fluxos para venda de produtos e investimentos diretos


JOHN MACDOUGALL/AFP/JC
Há mais perguntas que respostas claras para os efeitos da saída do Reino Unido da União Europeia (UE), o Brexit, quando se trata de negócios para o Brasil e Rio Grande do Sul. As primeiras projeções indicam que pode haver espaço para crescer o fluxo comercial, já que é baixo o peso da região europeia na atual pauta – 1,52% nas exportações brasileiras e 1,08% na receita gaúcha em 2015. Também em investimentos diretos pode haver impulso, pois o Reino Unido terá de compensar a perda da condição na UE.
Há mais perguntas que respostas claras para os efeitos da saída do Reino Unido da União Europeia (UE), o Brexit, quando se trata de negócios para o Brasil e Rio Grande do Sul. As primeiras projeções indicam que pode haver espaço para crescer o fluxo comercial, já que é baixo o peso da região europeia na atual pauta – 1,52% nas exportações brasileiras e 1,08% na receita gaúcha em 2015. Também em investimentos diretos pode haver impulso, pois o Reino Unido terá de compensar a perda da condição na UE.
Analistas de área técnica e entidades setoriais coincidem na aposta que a negociação entre Mercosul e UE, que se arrasta há anos deve ficar em segundo plano. O vice-presidente da Câmara Britânica de Comércio e Indústria no Brasil (Britcham), Francisco Itzaina, opinou nesta sexta-feira (24), no pós-Brexit, que “estava preparado para tudo” e ainda deixou claro que para o organismo não há um lado melhor que outro.
“Não há preferência. Alguns veem vantagens, outros desvantagens. Nossa posição é isenta, mas achamos que haverá grandes consequências”, disse Itzaina, que considera a incerteza como primeiro sintoma a ser combatido. “Vamos espera a poeira assentar para entender as consequências”, avisa o vice-presidente da Britcham. Mas a primeira tarefa será lidar com efeitos sobre o que hoje é a dependência à UE - 60% do fluxo de exportações e 50% do investimento direto. “Teremos de aceitar e conviver com a nova situação. Teremos dois anos de adaptação.“  
Para a relação com o Brasil, o dirigente em negócios não espera efeitos negativos, além de impacto conjunturais como os que afetam o mundo. Itzaina aposta que, em meio à busca de compensações, o Brexit pode abrir portas para acordos bilaterais, contrastando com a amarra da UE. Até agora, por exemplo, o acalentado acordo e entre Mercosul e europeus não saiu. “Pode abrir a possibilidade entre Brasil e Reino Unido, é interessante aproveitar”, adverte. 
Sobre o futuro da relação UE e Mercosul, o Ministério das Relações Exteriores (MRE) brasileiro reafirmou o compromisso e prioridade na negociação. 
Em investimentos, é cedo para saber, e Itzaina lembra que o fluxo britânico ao Brasil foi recorde no começo do século passado. Hoje estima-se em US$ 400 milhões, concentrados em petróleo e gás. “Sempre houve química entre Brasil e Reino Unido. Sobre a relação com Rio Grande do Sul, o vice-presidente da Britcham cita ampliação de mercado em carnes e chance de crescer em mais itens do agronegócio.
César Müller, coordenador da área de comércio exterior da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), admite ser cedo para contabilizar ganhos ou perdas e até que a instabilidade gerada pela decisão pode ser o pior dos climas. "Aqui a gente busca estabilidade (após a troca de governo), enquanto o mundo vive essa instabilidade com o resultado. Tudo que não queríamos, nós, os exportadores."
Mas dado o novo quadro, Müller afirma que o setor terá de se preparar para uma nova posição de mercado e nova realidade. Sobre oportunidades, o coordenador da Fiergs avalia que os destinos das vendas na UE, oriundas do Estado, tem dois grandes portos de entrada - Holanda (Roterdã) e Bélgica (Antuérpia), mas que depois o destino é difuso. Portanto, Müller entende que as relações com o bloco europeu e Reino Unido podem ser mais exploradas.
Sobre a negociação entre Mercosul e UE, o dirigente da Fiergs considera que as tratativas devem ser afetadas, com possibilidade de adiamento, pois a "prioridade"passaria a ser outra", referindo-se ao ambiente dentro do bloco e novas configurações após consumado o Brexit. "Teremos um novo acordo separado, o que vai mudar?" pergunta. Para Müller, as duas situações podem abrir mais portas para negociar, e o Reino Unido ganharia outra dimensão na relação com o Sul. 

Reino Unido é 25º na receita externa gaúcha, UE é a segunda

A vitória da saída do bloco pode abrir novos fluxos para venda de produtos e investimentos diretos

A vitória da saída do bloco pode abrir novos fluxos para venda de produtos e investimentos diretos


JOHN MACDOUGALL/AFP/JC
Ao olhar o peso do Reino Unido nas exportações gaúchas, a atratividade é quase imperceptível hoje, ficou em 25º lugar no fluxo de receita na venda de mercadorias em 2015, 1,08% do total, somando US$ 189,5 milhões, segundo o economista e pesquisador da Fundação de Economia e Estatística (FEE) Tomás Torezani. Na pauta do Brasil, a posição melhora, sobe a 15º, mas o peso é de 1,52%, US$ 2,9 bilhões no ano passado.
A União Europeia é o segundo maior cliente como bloco, atrás da China tanto para Brasil como para a economia gaúcha – US$ 33,9 bilhões e US$ 2,5 bilhões no ano passado, respectivamente. Os chineses são o principal destino nas duas dimensões. EUA são o terceiro parceiro no Brasil, e Argentina, para o Estado.
“A participação das exportações brasileiras e gaúchas para o Reino Unido é bem baixa”, constata Torezani. “A questão é ver o que acontecerá com o projeto europeu, que é o segundo comprador, com a saída do Reino Unido”, especula o economista. Tudo dependerá da estratégia do Reino Unido e se podem ocorrer mudanças no bloco.
“O que pode abrir brechas para negociar acordos bilaterais de forma mais direta. Teria de ver se Brasil é destino ou se pode colocar mais produtos lá”, sugere Torezani. Além disso, a pauta brasileira ao Reino Unido não é a mesma do Rio Grande do Sul. “O Brasil envia mais ouro, os gaúchos conservas de carne”, contrastou. Realmente, o peso de industrializados é superior no Sul.
Em 2015, o Brasil tinha 67,77% das vendas, o Estado, 81,22%. O País vender mais no total da pauta ouro (24,4%), minério de ferro (9,4%) e café em grão (5%). A atividade gaúcha mandou preparados e conserva de carne bovina (31,9%), móveis (15,5%) e fumo em folhas (12,1%), apurou Torezani.
Já a oportunidade de acordos, o economista lembra que a posição do Reino Unido na negociação entre Mercosul e EU era mais amistosa que a da França, que rivaliza em produtos agrícolas. “Agora uma futura aliança pode ser prejudicada, pois sai um parceiro importante. Este momento de turbulência pode interromper o ritmo de negociação”, vislumbra. “Estas são dúvidas, o Brexit favorece a negociação ou não. Atrai mais investimentos? Não sei o que pode ocorrer”, admite o pesquisador da FEE.