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MERCADO

- Publicada em 22 de Junho de 2016 às 15:38

À espera da estabilidade econômica

Com menos dinheiro no bolso, o consumidor pensa duas vezes antes de gastar, o que afeta o varejo

Com menos dinheiro no bolso, o consumidor pensa duas vezes antes de gastar, o que afeta o varejo


FREEPIK/DIVULGAÇÃO/JC
O varejo é o primeiro setor a sentir os efeitos da economia. Com menos dinheiro no bolso, o consumidor pensa duas vezes antes de gastar. Essa retração do consumo pode ser sentida na atividade do comércio gaúcho, que sofreu um grande retrocesso em 2015, chegando ao nível registrado em 2010. As vendas do varejo no primeiro trimestre de 2016 registraram queda de 5,1%. Se for levado em consideração o varejo ampliado, que inclui veículos e materiais de construção, o índice negativo sobe para 11,9%, segundo dados da Fundação de Economia e Estatística (FEE).
O varejo é o primeiro setor a sentir os efeitos da economia. Com menos dinheiro no bolso, o consumidor pensa duas vezes antes de gastar. Essa retração do consumo pode ser sentida na atividade do comércio gaúcho, que sofreu um grande retrocesso em 2015, chegando ao nível registrado em 2010. As vendas do varejo no primeiro trimestre de 2016 registraram queda de 5,1%. Se for levado em consideração o varejo ampliado, que inclui veículos e materiais de construção, o índice negativo sobe para 11,9%, segundo dados da Fundação de Economia e Estatística (FEE).
Quem se salvou foi o setor de farmácias, cosméticos e artigos médicos, que apresentou crescimento nos índices nacional e gaúcho, tanto na comparação de março com o mesmo mês do ano anterior, quanto no acumulado em 12 meses. "As características desse setor fazem com que ele sofra menos com a crise do que os demais. Afinal, diversos produtos comercializados são de primeira necessidade e de difícil substituição", diz o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) Porto Alegre, Alcides Debus. Assim como os cosméticos, calçados e vestuários estão se saindo melhor, já que o frio chegou mais cedo e deu uma aquecida nas vendas.
O presidente da CDL entende que a ainda é cedo para projetar vendas para o Natal, mas acredita em um segundo semestre um pouco melhor, com queda dos juros. "Vislumbro a possibilidade de um pequeno crescimento na venda de produtos com ticket médio baixo, que caracterizam a grande maioria do comércio varejista. Enquanto entidade, temos incentivado os empresários associados para que mantenham uma visão otimista, até para que possamos, de fato, mudar este cenário de estagnação", ressalta Debus. Além do cenário econômico complicado, os lojistas têm que enfrentar outras dificuldades, como a alta carga tributária e até a concorrência do comércio informal, que vem ganhando proporções cada vez maiores no Centro de Porto Alegre, segundo presidente da CDL.
A definição dos rumos políticos em Brasília também é vista como fundamental para que o País reencontre a estabilidade econômica e os negócios melhorem no segundo semestre. Essa é a opinião do presidente do Sindicato dos Lojistas do Comércio de Porto Alegre (Sindilojas), Paulo Kruse. "Somos um país com uma ampla diversidade cultural e muito ainda a conquistar e a crescer. E o comércio varejista é a ponta deste crescimento, por onde circula renda, gera tributação e é fonte de trabalho. Por isso, nossa expectativa é que o governo tome decisões que busquem o crescimento do País", afirma ele.

Emprego estável na Região Metropolitana

A forte retração da economia em 2015 impactou o mercado de trabalho e, consequentemente, o rendimento médio das famílias. "O cenário reflete diretamente no comércio, pois reduz o poder de compra do trabalhador", diz a economista Iracema Castelo Branco, do Centro de Pesquisa de Emprego e Desemprego da FEE. Dados da Pesquisa de Emprego e Desemprego na Região Metropolitana de Porto Alegre mostram que a taxa de desemprego total apresentou relativa estabilidade entre março e abril de 2016, passando de 10,7% para 10,5% da população economicamente ativa. O resultado pode ser considerado positivo se comparado ao comportamento dos últimos 12 meses. Entre abril de 2015 e abril de 2016, a taxa de desemprego total na região aumentou de 7,3% para 10,5%.
Outra pesquisa da FEE revela mudança de comportamento dos gaúchos no que se refere às horas trabalhadas. Em 2015, a média de horas trabalhadas por semana foi de 23,3, enquanto no ano anterior ficou em 25,7. Já neste ano, Iracema diz que está ocorrendo uma leve recuperação, principalmente no comércio. "Os vendedores que trabalham comissionados estão com uma expectativa de vender mais e, claro, ganhar mais. Isso também ocorre com os autônomos", comenta ela.

Crise também traz novas possibilidades

Juarez Meneghetti, economista da FEE, concorda que os consumidores e empresários estão mais confiantes, mas alerta: "é preciso estabilidade econômica e política, pois os níveis de investimentos estão parados". No entanto, nem tudo é ruim em uma crise. A dificuldade também traz oportunidades. Segundo o economista, a recessão seleciona produtos e empreendedores. Se salva quem tem bom preço e qualidade no atendimento. "Quem trabalha com gestão e treinamento de pessoas ganha em produtividade", garante.
Professor da ESPM-Sul e consultor especialista no varejo, Cláudio Roberto D Ávila Filho reconhece que o ano é difícil, mais até que 2015, mas que toda crise passa. "A economia tem ciclos, e essa crise tem sido de mais sacrifícios. Mas existe uma expectativa de melhora para 2017", afirma ele. Enquanto isso, para sobreviver, o lojista tem que reduzir os custos fixos e manter a qualidade do atendimento. Ele conta que muitos comerciantes estão renegociando aluguéis diretamente com imobiliárias e buscando ajustar a equipe, mas sempre de olho para não prejudicar o time de vendas.
"É preciso selecionar bem o que vai se cortar, pois pode piorar a situação", alerta. Por outro lado, quem está mais estruturado tem a chance de aproveitar o momento para fazer melhorias ou escolher um ponto comercial mais movimentado, já que são muitas as opções de imóveis para alugar no mercado. O professor lembra, porém, que investimentos feitos agora só devem dar o retorno a médio e longo prazos.

Ser eficiente é fundamental

Em 2015, o setor supermercadista registrou uma queda real nas vendas, mas que não assustou a Associação Gaúcha de Supermercados (Agas). Conforme a entidade, trata-se de uma readequação de consumo. O presidente da Agas, Antônio Cesa Longo, explica que muitos consumidores ascenderam à classe C nos últimos anos e, nesta fase de readequação de consumo e de instabilidade, este consumidor - que já experimentou muitas opções, produtos e novidades - hoje sabe exatamente do que precisa e o que quer. "O consumidor está mais cauteloso, pesquisando muito, atento às oportunidades, por isso acreditamos que o varejo eficiente sempre continuará crescendo", afirma o dirigente.
Cada vez mais exigente, o consumidor está ensinando o supermercadista a ser eficiente. "O varejista de sucesso é aquele que está enxugando seus custos e, ainda assim, conseguindo agregar valor e aprimorar o serviço de sua operação. Toda a crise traz suas oportunidades, por isso entendemos que é o momento de sair da caixa, de ir além do convencional, de ser criativo", defende o presidente da Agas.
Segundo ele, o segmento já retomou o crescimento no primeiro trimestre de 2016 e espera encerrar o ano com um crescimento pequeno, mas que dê sustentação para seguir crescendo. "Uma economia só é forte quando sua indústria também é forte, por isso defendemos um desenvolvimento conjunto de todos os setores", diz Longo, ressaltando que não se pode pensar em um cenário de euforia econômica para os próximos cinco anos, por isso o varejo precisa fazer o seu dever de casa para atrair consumidores, gerar demanda e oportunizar boas condições aos clientes.