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Teatro

- Publicada em 28 de Junho de 2016 às 13:02

Brincando com a realidade

Terceiro espetáculo do trio, Homens de perto - Desgovernados segue a mesma fórmula dos anteriores, sempre se baseando na qualidade dos três intérpretes, Oscar Simch, Rogério Beretta e Zé Victor Castiel. Também desta vez os textos são assinados por Artur José Pinto, com direção musical de Simone Rasslan (otimizando a potencialidade dos atores, que são excelentes cantores), coreografias de Eva Schul e Jussara Miranda e cenografia (simples e suficiente), de Rodrigo Lopes: em síntese, alguns de nossos melhores nomes das artes cênicas, reunidos para a criação de um espetáculo despretensioso, mas divertido.
Terceiro espetáculo do trio, Homens de perto - Desgovernados segue a mesma fórmula dos anteriores, sempre se baseando na qualidade dos três intérpretes, Oscar Simch, Rogério Beretta e Zé Victor Castiel. Também desta vez os textos são assinados por Artur José Pinto, com direção musical de Simone Rasslan (otimizando a potencialidade dos atores, que são excelentes cantores), coreografias de Eva Schul e Jussara Miranda e cenografia (simples e suficiente), de Rodrigo Lopes: em síntese, alguns de nossos melhores nomes das artes cênicas, reunidos para a criação de um espetáculo despretensioso, mas divertido.
Na verdade, quem se diverte mais, ao fim de contas, são os próprios atores, graças a seus improvisos e cacos surgidos ao longo do espetáculo. Mas a plateia não deixa de acompanhar, com risadas antecipadas, as anedotas que vão surgindo, ou assistir, até certo ponto extasiada, a entrada de Juliana Strelaw, em diferentes momentos do espetáculo.
O título sugere uma relação mais imediata com os recentes acontecimentos políticos brasileiros. Na verdade, isso não é assim tão evidente. Salvo dois quadros, o primeiro deles ainda de modo muito indireto, pouco ou nada temos, neste roteiro, a ver com tudo aquilo a que temos assistido, estarrecidos. Mas, de qualquer modo, toda a proposta do trabalho, com cerca de hora e meia de duração, recupera antigas situações e desenvolve alguma crítica social, a mais criativa das quais é a conversa das madames num clube social, quando se horripilam com o fato de uma sua conhecida ter resolvido entrar na universidade e decidido trabalhar fora de casa.
Na cenografia de Rodrigo Lopes, merecem destaque, por evidentes, os painéis fotográficos do próprio Beretta, que surgem com inúmeras alusões a acontecimentos históricos pretéritos, como Adolf Hitler, os ditadores latino-americanos (aí incluídos os brasileiros), show de teatro de revista (tudo isso sempre com imagens em que os próprios intérpretes aparecem como figuras de referência).
Nos textos de Artur José Pinto, sempre existe espaço para a improvisação e os acréscimos (cacos) dos intérpretes, conforme novos acontecimentos ocorram ao longo da temporada. O roteiro conta, evidentemente, com a imensa capacidade histriônica de Oscar Simch (na recriação do tipo gauchesco, ele é perfeito), Rogério Beretta e Zé Victor Castiel (que sempre aparece como uma espécie de "vítima" dos demais). Juliana Strelaw faz um contraponto sensual, provocando a plateia, com suas entradas inesperadas, mas bem pontuadas, um bom achado para garantir o ritmo do espetáculo.
Por trás de uma aparente gratuidade e simples divertimento, encontramos uma equipe afinada, cuidadosamente ensaiada por Néstor Monastério que teve, certamente, como seu maior desafio, controlar os ímpetos de cada um dos atores, cuja criatividade, se de um lado é enorme e absolutamente produtiva, se levada ao excesso, num trabalho coletivo em cena, pode prejudicar o ritmo final de todo o espetáculo. Amigos e conhecidos de longa data, estes profissionais de Porto Alegre têm, aqui, uma excelente oportunidade de reunir suas capacidades, garantindo um trabalho final de boa qualidade, que atende plenamente à expectativa de um público que vai predisposto a rir e a se divertir, e que é totalmente atendido, neste sentido.
Este tipo de espetáculo, de difícil classificação, na verdade, dá continuidade a uma tradição surgida, ao menos aqui no Brasil, ao final do século XIX. Trata-se das chamadas comédias de revista. Em geral, elas estreavam no início de um ano e referiam-se aos acontecimentos públicos, notadamente políticos, do ano anterior, entremeando, com os esquetes que reproduziam determinados acontecimentos, alguns números musicais. Este gênero decaiu e perdeu-se ao longo da primeira metade do século XX, desaparecendo definitivamente dos palcos com o advento da televisão, que trouxe para a sua programação tal experiência.
Lembremos, por exemplo, o programa de sábados à noite, Times Square. Hoje em dia, raramente é recuperado, como neste caso. Felizmente, aqui, com excelente resultado, mostra-nos a vitalidade de tal linha de espetáculo. É uma livre e criativa brincadeira com a realidade, que diverte e, ao mesmo tempo, faz o público pensar.
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