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- Publicada em 02 de Junho de 2016 às 23:56

Sua majestade,a entrevista

Livro de jornalista gaúcho reúne melhores entrevistas de sua carreira

Livro de jornalista gaúcho reúne melhores entrevistas de sua carreira


LPM/DIVULGAÇÃO/JC
Entre aspas - 2 (L&PM Editores, 480 páginas, R$ 48,90), do consagrado e experiente jornalista porto-alegrense Fernando Eichenberg, é, acima de tudo, uma grande declaração de amor à arte de entrevistar, uma das tarefas mais vibrantes do jornalismo em todos os tempos.
Entre aspas - 2 (L&PM Editores, 480 páginas, R$ 48,90), do consagrado e experiente jornalista porto-alegrense Fernando Eichenberg, é, acima de tudo, uma grande declaração de amor à arte de entrevistar, uma das tarefas mais vibrantes do jornalismo em todos os tempos.
Eichenberg graduou-se em história e jornalismo pela Ufrgs e foi colunista do jornal Zero Hora. Em 1997, mudou-se para Paris, onde trabalhou como correspondente internacional para diversos veículos, entre os quais o jornal Folha de S. Paulo e o canal de tevê GNT. De 2010 a 2012, foi correspondente do jornal O Globo em Washington. Voltou a Paris. Escreveu Entre aspas 1 (Ed. Globo, 2006 e L&PM Pocket 2016) e é coautor de Viagem (Artes e Ofícios, 2001).
Um bom entrevistador pesquisa vida e obra do entrevistado, se prepara bem, faz as perguntas adequadas, administra as pausas e os silêncios, deixa o entrevistado pensar que está conseguindo mentir e enganar, deixa ele à vontade para falar intimidades e, no caso do competente Fernando Eichenberg, além de tudo isso, ainda muda o rumo da conversa no momento oportuno, quando surge uma oportunidade para tanto. Um bom entrevistador não pretende ser mais interessante que o entrevistado e nem deve ficar se exibindo, verborrágico, querendo demonstrar cultura e erudição sem necessidade.
As declarações bombásticas e as opiniões sobre temas do momento são importantíssimas, mas Eichenberg vai muito além, entrevistando artistas, autores, cantores, pensadores e políticos do porte de Michel Houellebecq, Charles Aznavour, Jane Birkin, John Malkovich, Robert Crumb, Michel Maffesoli, Pina Bausch, Sempé, Charlotte Gainsbourg e outros.
Aznavour diz que se apaixonou pela primeira e única vez por uma brasileira, que Agostinho dos Santos era um cantor maravilhoso e reclama que cantoras como Maysa e Elizete Cardoso não sejam lembradas. Houellebeck conta que desligou a tevê após o quarto gol da Alemanha na partida contra o Brasil, em 2014. Elisabeth Roudinesco revela que o Brasil é o país mais freudiano do mundo, neste início de século XXI.
O filósofo Luc Ferry, que escreve de modo compreensível, fala da importância de passar a vida pensando na morte, que, para ele, é de uma beleza ímpar. Quando Serge Gainsbourg morreu, Jane Birkin declarou: "A morte é um país inacessível. Os mortos, para mim, se tornaram santos. Na morte, você é upgraded como num voo, a um estágio inacessível".
Esses são alguns trechos desta homenagem à arte de entrevistar com perguntas sintéticas, elaboradas, bem colocadas, diretas e, por vezes, irônicas, como disse Ignácio de Loyola Brandão no prefácio: "à altura dessas entrevistas que são quase obras de literatura e que merecem as páginas perenes de um livro e não apenas a luz fugaz dos periódicos".

Lançamentos

  • Por falar em passarinhos... Crônicas do Pampa (AGE, 264 páginas), do médico e escritor Blau Souza, traz crônicas publicadas no jornal Sul Rural. Bem-escritas, falam do Pampa, de vida, de política, de pessoas, de Medicina, de pedágios, de Getúlio Vargas e de Lula, entre outros temas candentes.
  • O sentimento da catástrofe - entre o real e o imaginário (Iluminuras, 96 páginas), da poeta e ensaísta francesa Annie Le Brun, trata do sentimento aparecido com o terremoto de Lisboa, em 1755, que impactou profundamente o pensamento europeu, abalando os alicerces da racionalidade iluminista.
  • Memórias de uma vida hilária - Volume 1 (Vidraguas, 130 páginas) traz crônicas do jornalista e poeta cachoeirense Auber Lopes de Almeida Filho. Com leveza e texto fluente, ele fala de amores, vida, amigos, aulas e outras relevâncias. Flavio Dutra diz que Almeida Filho começa a se impor como revelação do bom texto.

Ivone Pacheco, 34 do Take Five e jazz no Estado

Sempre repito que a bossa nova foi a melhor criação brasileira de todos os tempos, e que o jazz é a mais importante contribuição dos Estados Unidos para o mundo. Admito opiniões em contrário, desde que afinadas.
Nos últimos anos, a Capital, que sempre foi cinemeira, tem se mostrado jazzeira. A segunda edição do Porto Alegre Jazz Festival comprovou isso. Paulo Moreira, homenageado do festival, um dos maiores especialistas em jazz que temos, apresenta, há 17 anos, o Sessão Jazz na FM Cultura 107.7, mostrando tendências, entrevistas, canjas ao vivo e o melhor da música nacional e internacional do gênero. Ele tem tudo a ver com a efervescência do jazz nos últimos tempos em Porto Alegre e outras cidades.
No dia 23 de junho, Moreira, com o auxílio luxuoso do Marco Aurélio Pacheco, o Magrão, transmitiu o programa diretamente do Take Five, que fica no porão da casa da Grand Dame do Jazz Ivone Pacheco. Antes, lá funcionou a discoteca dos filhos dela, nos anos 1970. O Take Five completou, com e sem improvisos, gloriosos 34 anos. Marcos Ungaretti "descobriu" Ivone, que, aos 50 anos, professora estadual de música aposentada, filhos criados, já descobrira que depois de uma vida pessoal e profissional convencional, queria desenvolver sua veia artística e tocar pelo mundo. Como se diz hoje, queria se "reinventar".
Depois das apresentações em família e em festas particulares, Ivone passou a se apresentar em bares, a fazer shows e a tocar em ruas, metrôs e pubs de outros estados e países. Nos anos 1970, em Porto Alegre, no bar Big Som, na Joaquim Nabuco, do saudoso baterista e jazzman Marco Antônio, o jazz rolava.
No início, a família estranhou as paredes pretas do Take Five, os pôsters, as portas abertas, os desconhecidos e a nova opção de vida da mãe e esposa certinha. O clube funcionava toda semana, depois mensalmente e, nos últimos 16 anos, funciona em datas especiais. Canjas de bandas famosas como a Tradicional Jazz Band, de jovens talentos, de músicos conhecidos de Porto Alegre e outros estados sempre foram bem-vindas. Democrática, Ivone sempre recebeu jazzistas de todas as tendências.
O Take Five não tem caráter comercial. Cada um leva sua bebida. Nada é cobrado. O endereço é mantido em segredo até hoje. Vai quem conhece o clube ou alguém que foi lá. A música é o mais importante. Bem jazz. Nada de estrelismos, exageros e egos fosforescentes. Lá a música é maior do que os músicos.
Em Porto Alegre, Canoas, Pelotas, Santa Maria e em outras cidades, o jazz vem sendo objeto de festivais. Talentos jovens como a Banda Marmota Jazz, Michel Dorfman, Max Sudbrack e casas como o Café Fon Fon (Luizinho Santos e Beth Krieger, sax e piano maravilhosos), o Bar Odeon e outros espaços mostram que o movimento artístico-musical surgido em Nova Orleans no início do século XX, depois desenvolvido em Chicago, Nova Iorque e incontáveis lugares, é patrimônio cultural da humanidade e segue encantando.

A propósito...

A história do jazz e de dona Ivone mostram como a liberdade, a criatividade e a música são essenciais. Há quem reclame que o verdadeiro jazz é o do início e que, depois, ele foi muito alterado e influenciado por outros ritmos, formas de tocar e compor. Há quem diga que o jazz comporta a inovação, a fusão, a liberdade criativa e a busca de novos caminhos. Prefiro pensar que o jazz é sinônimo de balanço, liberdade, tradição, novidade e o que vier de bom. Nossa Grand Dame do Jazz mostrou que se pode viver o decorado e o improviso. Ou até, quem sabe, o improviso decorado. A benção, Dona Ivone! Quando os santos aparecerem, queremos estar por perto! Chama Louis Armstrong!