Sob o domínio da força

Condições básicas de saneamento, trabalho, saúde e educação são pilares fundamentais da segurança pública. É natural do ser humano buscar bem-estar para si, para os seus descendentes e dependentes. Viver em condições precárias leva à busca de uma melhora a qualquer custo. Obviamente que outros fatores colaboram para o ingresso no mundo do crime, mas a falta de condições dignas é um motivo significativo. Nas periferias e regiões que concentram os menos favorecidos, há uma maior desatenção do poder público e, proporcionalmente, mais atenção das lideranças criminosas. Porém, vem ocorrendo uma transformação nesta relação. Antes, aparentemente, o "patrão" cuidava, zelava, preenchia a comunidade com tudo que lhe faltasse. Mantinha uma relação próxima, de provedor e de camaradagem.

Uma mistura de medo e admiração. Durante minha trajetória como delegado pude assistir a "lideranças" sendo aplaudidas ao serem detidas e retiradas da comunidade. Hoje vemos um maior profissionalismo, um distanciamento. Eles se mantêm no topo da pirâmide do poder que a droga e as armas lhes dão, focando nas disputas por território, tendo os moradores sob o domínio pela força e a crueldade. É neste cenário que os jovens vêm crescendo. O modelo atual não cria vínculos, não respeita regras, amedronta. A possibilidade de ter uma vida melhor rapidamente é muito atraente. Vivendo num contexto de muita discórdia, dificuldade e desesperança, é possível afirmar que "não tem como resistir". A sociedade está amedrontada. A longo prazo, somente teremos alguma chance se nossas escolas forem prazerosas e em tempo integral. Na trilha do crime não existem vencedores, exemplos ou modelos. Precisamos dar mais visibilidade aos feitos das polícias, mostrando que o crime não está tão organizado assim, que suas armas potentes devem perder força frente à lei e à ordem. O povo clama por mais segurança!