Quase 21h de sábado, tinha fila para entrar no casarão branco da rua Duque de Caxias perto da esquina com a General Auto. "Tem muita gente que está vindo aqui pela primeira vez", comentou uma funcionária da Pinacoteca Ruben Berta para a colega. Ambas sorriam e não escondiam o entusiasmo com o público que se aglomerava para apreciar as obras de arte e assistir a concertos. Os números musicais foram parte das atrações da primeira Noite dos Museus, em Porto Alegre. O total de público ainda está sendo contabilizado pela organização, mas o curador do evento, o historiador e arqueólogo Francisco Marshall, antecipa que a participação superou a quantidade de pessoas que frequentam os museus anualmente.
"Foi uma surpresa ver a presença de tantas pessoas em um convívio harmonioso e envolvidas com o que tem de melhor na cidade. Notei o brilho nos olhos de quem participou e viu o quanto esses locais são encantadores", analisou Marshall. Ele ressalta que a iniciativa, pelo sucesso que teve, acontecerá em 2017, no mês de maio. Ainda existe a possibilidade de repetir a experiência pioneira mais uma vez neste ano. "Queremos a primavera dos museus", diz o curador.
Os espaços culturais ficaram abertos das 19h à meia-noite e atraíram multidões. Na Praça da Alfândega, a área próxima ao Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs) e ao Memorial do Rio Grande do Sul tinha um movimento de Feira do Livro inclusive após as 23h. O bistrô do Margs funcionou a pleno vapor. Havia ainda food trucks e muita gente conversando, em meio a uma paisagem deslumbrante os prédios históricos projetados por Theo Wiederspahn estavam iluminados, assim como os demais museus que participaram da promoção.
No Memorial, após a apresentação da banda Marmota Jazz, às 22h, era difícil entrar ou sair do edifício - eram várias filas indianas indo ou voltando pelos acessos do belo prédio histórico. A quantidade de gente que aderiu à promoção e que se deslocava entre um museu e outro deu uma sensação de segurança no Centro Histórico.
O trecho entre a Praça da Alfândega e a Casa de Cultura Mario Quintana (CCMQ), normalmente deserto em um sábado à noite, tinha centenas de pessoas deslocando-se a pé.
Na CCMQ, a atração era o Museu de Arte Contemporânea (MAC), que, por vezes, tinha cenas que lembravam um templo mundial da cultura, como o Louvre, com várias pessoas esgueirando-se para ver obra de arte por obra de arte. Fora do Centro, o Planetário teve filas de carros para entrar no estacionamento e no prédio, assim como a Fundação Iberê Camargo.
Foram realizadas atividades também no Museu da Ufrgs e no Museu de Porto Alegre Joaquim Felizardo. O projeto teve o patrocínio da Telefônica/Vivo, por meio da plataforma Vivo Transforma, e produção da Rompecabezas. O financiamento foi do Fundo Pró-Cultura, do governo do Estado.
Quem percorreu um ou mais locais que integraram a noite notou que a segurança era garantida pela movimentação intensa de pessoas. Nenhum incidente foi registrado. Marshall considera que isso só reforça a constatação de que a solução para a segurança pública é a ocupação dos espaços públicos, unindo arte e cultura.
"É preciso pontuar que a Brigada Militar foi omissa. Pedimos reforço na segurança para o público, mas nosso pedido foi desdenhado. A EPTC também foi ausente. Solicitamos ônibus com linhas especiais e não conseguimos. Isso traz prejuízo para parte da população, tornando até mesmo impossível a participação. Um táxi do Centro até o Iberê Camargo custa R$ 56,00", criticou o curador.