Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Agronegócios

- Publicada em 26 de Maio de 2016 às 16:02

Safra de pinhão tem mais um ano de quebra

Estimativa é de que, neste ano, as araucárias gaúchas produzam de 600 a 800 toneladas

Estimativa é de que, neste ano, as araucárias gaúchas produzam de 600 a 800 toneladas


DOUG SCORTEGAGNA VIA VISUALHUNT/DIVULGAÇÃO/JC
Um dos símbolos do inverno gaúcho, o pinhão está mais raro neste ano. Com safras que podem chegar a mil toneladas no Estado em períodos bons, a estimativa é de que apenas entre 600 a 800 toneladas cheguem ao mercado em 2016. A situação, porém, é vista como normal por especialistas, que veem a oscilação como decorrência da população quase totalmente nativa de araucárias. A queda também teria recebido influência de chuvas e da falta de frio nos últimos invernos.
Um dos símbolos do inverno gaúcho, o pinhão está mais raro neste ano. Com safras que podem chegar a mil toneladas no Estado em períodos bons, a estimativa é de que apenas entre 600 a 800 toneladas cheguem ao mercado em 2016. A situação, porém, é vista como normal por especialistas, que veem a oscilação como decorrência da população quase totalmente nativa de araucárias. A queda também teria recebido influência de chuvas e da falta de frio nos últimos invernos.
Segundo a engenheira florestal da Emater/RS, Adelaide Juvena Kegler Ramos, a alternância de produção ocorre como em qualquer cultura não domesticada, com safras cheias apenas a cada quatro anos. "Esse ano, a situação acabou agravada pela chuva intensa na época da floração, na primavera, além de termos tido pouco frio nos últimos anos, que teria ajudado a conter algumas pragas", acrescenta. Apesar disso, Adelaide afirma que, mesmo com pinhas menores, a qualidade da semente em si não foi afetada.
Embora não consiga precisar o número, Adelaide afirma que a quantidade de famílias que coletam o pinhão é "expressivo" no Estado. Boa parte delas usa a atividade como complemento de renda, mas haveria também casos em que o pinhão é a única remuneração. A maior concentração de araucárias é vista na Serra e nos Campos de Cima da Serra, região natural da vegetação, além de outras localidades mais elevadas da Metade Norte. A árvore, que pode viver centenas de anos, necessita de frio e altitude para se desenvolver.
A informalidade, tanto na coleta quanto na comercialização, é uma das marcas do setor. Um dos esforços para mudar esse cenário é a tentativa de incentivo às plantações. Desde os anos 1970 voltada à conservação do material genético das espécies de pinheiro, a Embrapa Florestas agora foca também no melhoramento das plantas. Um dos avanços é uma técnica de enxertia, que permite a criação de pomares de pinheiros. "Conseguimos reduzir o porte das árvores e fazer com que produzam mais cedo, com seis a 10 anos, quando o tempo normal é de 12 a 15 anos", conta o pesquisador da Embrapa, Ivar Wendling.
O objetivo é transformar, no médio prazo, o pinhão em uma cultura frutífera como qualquer outra. Wendling conta que já há alguns casos, ainda que pouco numerosos, de produtores que começam a produzir seus pomares, e não mais apenas a coletar as sementes das árvores nativas. "Em 15 anos teremos uma realidade diferente. Com os pomares, coletar das nativas não será mais rentável", projeta o pesquisador. Com isso, diz, a fauna também seria beneficiada, pois os pinhões das árvores nativas passariam a atender apenas a ela.
A maior dificuldade para que esse processo se acelere, de acordo com o pesquisador, é uma espécie de "cultura do medo" que teria se espalhado entre os agricultores com as regras rígidas de preservação da araucária. A situação é paradoxal: tanto Adelaide quanto Wendling entendem que a inserção da árvore na lista nacional de espécies ameaçadas de extinção, que instituiu a proibição do corte dos pinheiros, ajudou a estancar a sangria da araucária. A redução na área original da planta, que foi drástica graças à exploração para uso da madeira ao longo do tempo, já teria parado de crescer. "Ninguém mais planta porque fica com medo de não poder cortar", afirma Wendling. Tirar a espécie da lista depende de um longo processo burocrático e de estudos que comprovem essa necessidade.

Antecipação da colheita poderia aumentar qualidade

Parte dos esforços de conservação da araucária, há uma legislação estadual que proíbe, atualmente, a colheita e comercialização do pinhão antes de 15 de abril no Rio Grande do Sul. Uma das principais justificativas para a decisão é garantir tempo para que a fauna, pássaros e pequenos roedores em especial, se alimentem do pinhão, uma das poucas alternativas que possuem no inverno - hábito que também ajuda a dispersar a semente e regenerar as florestas. Há questionamentos, porém, quanto à mudança dessa data.
"A antecipação da safra é importante porque algumas variedades de pinhão já estão maduras na metade de março. Assim, quando os produtores podem colher, um mês depois, o pinhão já não tem qualidade", conta a engenheira florestal da Emater-RS, Adelaide Juvena Kegler Ramos. A profissional ressalta, porém, que mesmo com a mudança, seria preciso levar em conta, sempre, a maturação das pinhas. Outros estados produtores, Santa Catarina e Paraná, já anteciparam suas colheitas para 1 de abril, data que Adelaide entende como interessante.
Secretário executivo do Conselho do Meio Ambiente do Paraná, João Batista Campos conta que a decisão foi tomada após estudos técnicos realizados em parceria com universidades e entidades de pesquisa. O levantamento tentou buscar um equilíbrio entre garantir a alimentação para a fauna e, ao mesmo tempo, atender os coletores quanto a maturação irregular do pinhão. "A data que foi achada nessa curva foi 1 de abril. Devido às características térmicas, pode ter variação no amadurecimento da semente. Em média, foi o período mais razoável que encontramos", defende Campos. O secretário lembra, entretanto, que isso não significa que a data tenha de ser a mesma para o Estado.
Para que a mudança aconteça também no Rio Grande do Sul, Adelaide conta que seria necessária uma organização entre os produtores e os sindicatos de agricultores para que fossem realizados os estudos e, depois, encaminhados à Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema). Em nota, a Sema conta que atualmente não há nenhuma solicitação formal para revisão da decisão. "Entretanto, em havendo justificativa que dê respaldo a tanto e atendidos os requisitos legais, a secretaria fará os esforços necessários para reavaliar esta situação", continua a nota.