Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Cinema

- Publicada em 05 de Maio de 2016 às 22:31

O duelo

Terminada a Segunda Guerra Mundial, quando Estados Unidos e Reino Unido formaram uma frente com a União Soviética contra a Alemanha então dominada pelos nazistas, começou o período que entrou para a história com o nome de Guerra Fria, um conflito marcado pela rivalidade entre os dois blocos em que se dividiu o mundo. Em alguns períodos, na Coreia, no Vietnã e também em Cuba, palco de uma crise que quase deu origem à terceira guerra do século passado, em 1962, este embate entre duas concepções políticas deixou de ser apenas um choque de propostas antagônicas. Nos Estados Unidos, este duelo deu origem ao macartismo, uma reação irracional que acabou sendo vencida pela resistência de forças de origem democrática, que terminou preservando valores necessários a uma sociedade que não pode prescindir do direito a manifestações no campo da cultura e da informação. Mas a simplificação de tal cenário feita pelos setores mais intransigentes da sociedade americana até hoje tem dado origem a manifestações maniqueístas e, naquela época, gerou medo e paranoia em diversos setores. Recentemente, o cinema tem reconstituído tal período, e três filmes ilustraram tal tendência: Ponte dos espiões, de Steven Spielberg; Trumbo, de Jay Roach; e Ave, César!, de Joel e Ethan Coen.
Terminada a Segunda Guerra Mundial, quando Estados Unidos e Reino Unido formaram uma frente com a União Soviética contra a Alemanha então dominada pelos nazistas, começou o período que entrou para a história com o nome de Guerra Fria, um conflito marcado pela rivalidade entre os dois blocos em que se dividiu o mundo. Em alguns períodos, na Coreia, no Vietnã e também em Cuba, palco de uma crise que quase deu origem à terceira guerra do século passado, em 1962, este embate entre duas concepções políticas deixou de ser apenas um choque de propostas antagônicas. Nos Estados Unidos, este duelo deu origem ao macartismo, uma reação irracional que acabou sendo vencida pela resistência de forças de origem democrática, que terminou preservando valores necessários a uma sociedade que não pode prescindir do direito a manifestações no campo da cultura e da informação. Mas a simplificação de tal cenário feita pelos setores mais intransigentes da sociedade americana até hoje tem dado origem a manifestações maniqueístas e, naquela época, gerou medo e paranoia em diversos setores. Recentemente, o cinema tem reconstituído tal período, e três filmes ilustraram tal tendência: Ponte dos espiões, de Steven Spielberg; Trumbo, de Jay Roach; e Ave, César!, de Joel e Ethan Coen.
Spielberg reconstituiu acontecimentos diretamente relacionados ao choque entre as duas grandes potências: um espião aprisionado em território americano e um piloto também espião capturado pelos soviéticos. Os Irmãos Coen, por sua vez, usaram o mundo do cinema, um dos alvos do macartismo, e recorreram à ficção para recuperar a atmosfera da época. Roach, colocando na tela a figura do roteirista Dalton Trumbo, uma das vítimas da perseguição política do período, procurou reconstituir o passado usando fatos verdadeiros, assim como havia feito Spielberg. Este também é caminho escolhido por Edward Zwick neste O dono do jogo. Para tanto, ele coloca como protagonista Bob Fischer, que foi um gênio em sua especialidade, o xadrez, e também um ser humano profundamente perturbado por traumas dos quais não conseguiu se livrar e que terminaram por derrotá-lo. O diretor, embora elogiado por setores da crítica, não pode ser colocado entre os grandes, mas também não é nome a ser ignorado. Sua competência de narrador é visível em toda a narrativa, principalmente nos momentos finais, quando supera a difícil missão de tornar dramático o encontro entre os dois maiores enxadristas do mundo, quando será decidido qual deles é o maior de todos.
Zwick parte deste tema para erguer uma alegoria sobre um mundo no qual os indivíduos são peões num jogo dominado por outros interesses. Para isso, ele usa imagens de câmeras de televisão ocultas que, desde a infância do protagonista, vigiam sua família, cujas atividades a tornam suspeita. Fischer não perdoa a mãe pela ausência do pai, e a opção política dela é o primeiro passo para conduzir o adulto a uma visão distorcida do mundo, no qual comunistas e judeus passam a ser os grandes inimigos. Boris Spassky, o campeão a ser enfrentado, passa a ser, portanto, o alvo a ser derrotado, numa espécie de vingança do protagonista. É quando Fischer se transforma numa peça de um jogo político, seus distúrbios e seu talento sendo então utilizados pelo governo americano como valiosa peça de propaganda. Mas Zwick não se deixa levar pela simplificação. Em mais de um momento - e principalmente na cena em que se dirige aos poderosos revelando que sabe estar sendo espionado - Spassky é um igual a ser rival americano. O belo momento do aplauso, quando o campeão reconhece emocionado o talento do adversário, não é uma rendição, mas a admiração diante de um novo valor, que, no entanto, perde a sua importância depois que interesses maiores atingem seus objetivos. O filme de Zwick é mais profundo no desenvolvimento do tema proposto. A imaginação fora de controle, o maniqueísmo simplificador, a criação de perigos imaginários e o descontrole emocional pediam um realizador capaz de tornar mais contundente a ligação entre tais elementos e a dolorosa infância do protagonista. Mas não seria justo deixar de destacar a focalização da manipulação de talentos por interesses que retiram o fator humano do primeiro lugar.
Conteúdo Publicitário
Leia também
Comentários CORRIGIR TEXTO