A ex-presidente da Argentina Cristina Kirchner se apresentou na manhã de ontem à Justiça, mas se negou a falar. A ex-dirigente, intimada a depor sobre a venda de dólares no mercado futuro a um preço inferior ao de mercado, entregou um documento com sua defesa ao juiz Claudio Bonadio.
O ex-ministro de Economia Axel Kicillof e o ex-presidente do Banco Central Alejandro Vanoli também se recusaram a falar sobre o caso. As operações financeiras realizadas nos últimos meses do governo de Cristina podem ter causado um prejuízo de 77 bilhões de pesos (R$ 18,6 bilhões) aos cofres públicos.
A ex-presidente chegou por volta das 10h ao tribunal Comodoro Py, onde lhe aguardavam milhares de argentinos. Alguns dos apoiadores de Cristina estavam no local desde o início da noite de terça-feira. Quase não havia policiais no local, e militantes ultrakirchneristas controlavam o acesso ao tribunal. Uma jornalista da rádio Mitre, do grupo Clarín, chegou a ser agredida. O conglomerado de comunicação é considerado por Cristina um dos maiores inimigos de sua gestão. Também foram apoiar a ex-mandatária seu vice-presidente Amado Boudou, que está sendo processado por corrupção, e algumas representantes do movimento Mães da Praça de Maio. Diante da multidão, a ex-mandatária fez um breve discurso agradecendo o apoio.
"Depois de ser informada sobre os fatos pelos quais pretendem me acusar, entendo e confirmo claramente que só através de um exercício abusivo do poder jurisdicional esta causa pôde ser levada adiante", declarou a presidente, no documento entregue ao juiz. "Cada vez que um movimento político de personalidade nacional e popular foi derrubado ou finalizou seu mandato, as autoridades que o sucederam utilizaram de forma sistemática a desqualificação de seus dirigentes, atribuindo-lhes a comissão de graves crimes, sempre vinculados com abusos de poder, corrupção generalizada e bens mal havidos", acrescentou.
Em sua opinião, os "verdadeiros motivos sempre foram os mesmos", e estes são, segundo indicou, "varrer as conquistas conseguidas e os direitos adquiridos pela sociedade em seus diferentes estamentos e atividades" e "impor" programas de ajuste e endividamento "utilizando a suposta corrupção para ocultar ambos os objetivos".
O episódio começou pela denúncia de parlamentares da coalizão Cambiemos, liderada pelo atual presidente da Argentina, Mauricio Macri, e investiga milionárias perdas ocorridas na instituição bancária supostamente por operações realizadas no final do mandato de Cristina. Segundo os denunciantes, o Banco Central teria vendido dólares a um preço que se aproximava dos 10,65 pesos por unidade, abaixo do estabelecido na Bolsa de Nova Iorque para este tipo de contrato (cerca de 14 pesos por unidade na época).