Cuidado com as finanças, gestão de tempo e visão de oportunidade fazem toda a diferença

Como empreendedores mantêm a energia para tocar mais de um negócio


Cuidado com as finanças, gestão de tempo e visão de oportunidade fazem toda a diferença

Todo empreendedor sabe: administrar uma empresa exige trabalho, esforço e dedicação. Além do mais, é preciso cuidar de uma série de fatores para que o negócio obtenha sucesso. Planejamento estratégico, melhorias contínuas, organização das finanças, gestão dos colaboradores e controle dos desempenhos são apenas alguns desses detalhes. Agora, imagine ter esse trabalho com duas empresas. Ou três. Pois saiba que muita gente passa por essa situação - e se realiza.
Todo empreendedor sabe: administrar uma empresa exige trabalho, esforço e dedicação. Além do mais, é preciso cuidar de uma série de fatores para que o negócio obtenha sucesso. Planejamento estratégico, melhorias contínuas, organização das finanças, gestão dos colaboradores e controle dos desempenhos são apenas alguns desses detalhes. Agora, imagine ter esse trabalho com duas empresas. Ou três. Pois saiba que muita gente passa por essa situação - e se realiza.
Hoje em dia, já não é incomum encontrar empreendedores que se desdobram para tocar mais de um negócio. Para o gestor de projetos do Sebrae-RS, Lucas Alves, pessoas assim possuem visão de oportunidade pós-mapeamento de mercado. "São empreendedores dotados de planejamento, execução e com perfil gerencial arraigado", diz.
O arquiteto Carlos Eduardo Mayresse, de 38 anos, e o representante Renato Lopes, de 37, têm essa descrição. A dupla se juntou à irmã de Carlos Eduardo, Carla Mayresse, 50, para abrir o 103 Retro Lounge, restaurante de gastronomia contemporânea localizado no coração do bairro Petrópolis número 103 da rua Jaime Telles, na Capital.
Embora não seja cozinheiro por profissão, Mayresse sempre foi um entusiasta das panelas. Nas festas familiares e nos jantares entre amigos, era ele quem assumia de chef - às vezes, cozinhando para até 70 pessoas. Com a expertise do hobby e a possibilidade de utilizar o velho casarão da família como ponto comercial, os três investiram R$ 150 mil e deram início ao empreendimento, que opera desde outubro passado.
"Na real, eu sempre fui inquieto: já corri maratona, tive banda e, há mais de 10 anos, toco meu próprio escritório de arquitetura", justifica Mayresse, sobre a entrada no ramo gastronômico. Em paralelo, continua gerenciando a sociedade que tem no escritório 4D Arquitetura. "Queria algo novo", emenda. Lopes, por sua vez, tem duas outras empresas: uma loja de cortinas, a JCR Persianas, e um escritório de representações, a Secrati.
Para sustentar o restaurante, ambos afirmam que ter sociedade nos demais negócios faz toda a diferença. "Conto muito com meus sócios. Se preciso sair para atender uma urgência, sempre tem alguém para fazer o backstage", diz Mayresse.
"Como nós já tínhamos outras empresas, foi fundamental termos a Carla aqui em tempo integral. Sem ela ou os meus demais sócios, seria impossível administrar tantos empreendimentos", completa Lopes. O 103 Retro Lounge abre de quarta a sábado, das 19h30min às 23h30min. 

Yes, quero mais

Daniela Soares, 30, é a proprietária da Yes Pulseiras, e-commerce de acessórios fundado em janeiro em Porto Alegre. Além disso, é publicitária e sócia da agência Ypom Comunicação Faixa Preta há quatro anos.
Ela decidiu criar a Yes quando, por ter mais tempo na rotina com o término da faculdade, concentrou-se num hobby que tem desde criança: montar pulseiras. Contrariamente a Mayresse e Lopes (ao lado), a ideia de Daniela veio justamente com o objetivo de aproveitar o tempo ocioso para ter um negócio 100% próprio, que tivesse seu jeito do início ao fim.
Como ela mesma monta as peças, a proposta da empresa é oferecer "acessórios únicos". Há os modelos padronizados no site, porém o maior volume de vendas vem dos pedidos sob encomenda, em que o cliente customiza os elementos que quer compor o acessório. Ela começou com conjuntos de pulseiras e, em quatro meses, a marca abrangeu o portfólio para colares e correntes.
Da curadoria de materiais à entrega, tudo é conduzido por Daniela. Muito do feeling de gerenciamento de marca, ela garante, veio do background de direção de arte oriundo das experiências em agências. "A possibilidade de fazer coisas novas é o que me anima na rotina", conta.
Daniela, inclusive, planeja um terceiro empreendimento no Litoral Norte do Estado (cujos detalhes ainda não são divulgados). Nos ambientes em que circula - a Ypom, por exemplo, fica no espaço de coworking Área 51 , cada vez mais, percebe esta tendência de criação de projetos paralelos.
Com o segundo negócio, a empreendedora diz que viu uma porta para afirmar outras bandeiras, como empoderamento feminino e autoestima, o que, como prestadora de serviços na agência, não via espaço. "Não quero só vender pulseiras, quero trazer este valor agregado", pontua. Para tanto, todas as embalagens acompanham mensagens de inspiração feminista e um bilhete personalizado. Os preços variam entre R$ 29,90 e R$ 68,00.
Para que a marca possa se popularizar, todo mês, Daniela abastece duas consultoras de vendas em Porto Alegre, uma em Erechim, outra em São Gabriel e mais uma que atende ao Litoral. Ela afirma que já está tendo lucro com a marca, mas ainda não daria para sobreviver só desta renda. Consegue reinvestir, no entanto, todos os ganhos da Yes na sua ampliação, e não pensa em ter mais sócios para não perder a característica autoral dos trabalhos. "Quero fazer algo muito personalizado", salienta.
 

'É preciso saber girar a chave'

Fernando Góes, consultor da Ockam e da plataforma de investimentos Delos Ventures, diz que é preciso ter um perfil específico para atuar em mais de um ramo. O cuidado, segundo ele, deve ser ainda maior quando há sócios. Nada de usar o dinheiro de um negócio em outro.
GeraçãoE - Quais os principais cuidados que um multiempreendedor deve ter?
Fernando Góes - Não é qualquer indivíduo que tem capacidade de gestão para mais de um negócio (ao mesmo tempo). Quando você tem outros empreendimentos, ainda mais num momento de crise, a capacidade de manter o foco e a estrutura de gestão precisa se acentuar. É comum as pessoas trabalharem no piloto automático, mas quando os negócios são diferentes, têm que trazer para si a consciência de girar a chave, de saber que cada negócio é diferente um do outro.
GE - A gestão do tempo parece fundamental, não?
Góes - De fato! O empreendedor que trabalha com alto nível de complexidade, com negócios diferentes, precisa de uma gestão de tempo eficiente. E nisso precisa separar o que é urgente do importante, que é o estratégico.
GE - E as finanças? Como separá-las?
Góes - Esse é um superdesafio, porque, no final, os faturamentos vão para o mesmo bolso. Tem que haver disciplina financeira, deixar as coisas apartadas. Se eu tenho um negócio indo bem e outro não, eu não posso misturar os caixas. Posso aplicar recurso de um no outro, mas só se for o único dono. Se tiver sócios, acho que o desafio é a governança, a prestação de contas, transparência, deixando as coisas bem claras e independentes.
GE - Como administrar as oportunidades que aparecem?
Góes - É muito comum o empreendedor que enxerga novas oportunidades de negócio só para "ganhar mais dinheiro". E aí investe de qualquer jeito, o que é uma roubada. É preciso ter um propósito maior. Aquele propósito que mova o empreendedor, que presta serviço para consumidores, que tem impacto social. É preciso ter afinidade.

>> Multiempreendedor é diferente de empreendedor serial

Ter mais de uma empresa é diferente de ser um empreendedor serial. Esse tipo de investidor é aquele que cria oportunidade frequentemente, mas não tende a administrar suas empreitadas – delegando a gestão a alguém. “Ele tem perfil mais de iniciação do que de acompanhamento”, diz Lucas Alves, do Sebrae-RS. Assim que o empreendedor consolida o negócio, ele parte para outra.