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Cinema

- Publicada em 07 de Abril de 2016 às 23:42

O maestro e o cineasta

Paolo Sorrentino, o diretor de A juventude, tece em seu novo filme uma série de variações de seu trabalho anterior, A grande beleza. Se naquele a ação se concentrava num personagem principal, um escritor que havia se transformado num cronista social, inspirado no protagonista de A doce vida, de Federico Fellini, o que vemos agora são características daquela figura espalhadas por outros personagens, todos com momentos de glória no passado, todos de certa maneira insatisfeitos. E há também os coadjuvantes, figuras que, de maneiras diversas, expressam, no visual e no comportamento, uma crise que se espalha e claramente revela decadência e falta de perspectivas. Sorrentino tem sido, com justiça, classificado como um realizador que tenta uma aproximação com o cinema do realizador de Amarcord, mas ele também procura emular outro grande do cinema italiano, Michelangelo Antonioni, na medida em que procura filmar a distância que separa os seres humanos e a grandeza da solidão por eles vivenciada. O gosto do cineasta pela extravagância e pela caricatura o aproxima mais do primeiro, e não há dúvida, até pelo fato de a ação ter um cineasta como um dos principais personagens e o cenário ser um spa, que A juventude tem Oito e meio como modelo.
Paolo Sorrentino, o diretor de A juventude, tece em seu novo filme uma série de variações de seu trabalho anterior, A grande beleza. Se naquele a ação se concentrava num personagem principal, um escritor que havia se transformado num cronista social, inspirado no protagonista de A doce vida, de Federico Fellini, o que vemos agora são características daquela figura espalhadas por outros personagens, todos com momentos de glória no passado, todos de certa maneira insatisfeitos. E há também os coadjuvantes, figuras que, de maneiras diversas, expressam, no visual e no comportamento, uma crise que se espalha e claramente revela decadência e falta de perspectivas. Sorrentino tem sido, com justiça, classificado como um realizador que tenta uma aproximação com o cinema do realizador de Amarcord, mas ele também procura emular outro grande do cinema italiano, Michelangelo Antonioni, na medida em que procura filmar a distância que separa os seres humanos e a grandeza da solidão por eles vivenciada. O gosto do cineasta pela extravagância e pela caricatura o aproxima mais do primeiro, e não há dúvida, até pelo fato de a ação ter um cineasta como um dos principais personagens e o cenário ser um spa, que A juventude tem Oito e meio como modelo.
O novo trabalho de Sorrentino coloca em cena como personagens destacados um maestro e compositor renomado, que, na juventude, foi discípulo de Igor Stravinsky e que agora recusa reger uma de suas obras em concerto com a presença da rainha da Inglaterra, e um cineasta que, com a colaboração de jovens roteiristas, está tentando concluir a base de um filme que ele chama de seu testamento. Enquanto um procura se afastar do passado, outro tenta manter-se em atividade. O fracasso do segundo termina fazendo com que o primeiro assuma a trajetória do amigo, como se ambos personagens se transformassem num só. Mas o filme não se limita a essa linha temática. Há, entre os coadjuvantes, um casal incapaz de estabelecer um diálogo. Em duas cenas que surpreendem os amigos apostadores, há encontros entre o homem e a mulher silenciosos, mas, em ambas, fica claro que a ternura inexiste e a violência predomina. O filme também privilegia um astro do cinema, amargurado por ser conhecido por um papel que ele despreza. Ele passa por um vexame ao ser irônico com a miss universo e depois se depara com uma admiradora que, de certa forma, completa a visão crítica da outra, ao realçar a parte esquecida do trabalho do ator. A transformação do personagem em Adolf Hitler expressa a visão de Sorrentino sobre frustrações transformadas em agressividades. E numa volta a seu filme anterior, o cineasta coloca em cena Diego Maradona, numa caricatura à qual não falta o rosto de Karl Marx tatuado nas costas, um retorno àquela figura que, em A grande beleza, ostentava a foice e o martelo.
Infelizmente, no momento culminante de sua narrativa, Sorrentino se mostra inseguro e nos oferece um trecho filmado de maneira canhestra, como se o cineasta não soubesse colocar a câmera num lugar certo, além de orientar de maneira pouco convincente a soprano Sumi Jo, ela própria em cena. Talvez fosse melhor se o personagem de Michael Caine fosse apenas um maestro famoso que aparecesse regendo alguma obra que tivesse relação com o tema filmado. Falta sobriedade a esse trecho, que seria melhor se o cineasta tivesse prestado mais atenção a momentos semelhantes filmados por Hitchcock, Mankiewicz, Forman, Minnelli e outros mestres. Mas não falta dramaticidade àquele plano da mulher senil contemplando o nada, enquanto o maestro tenta inutilmente uma aproximação. E a homenagem a Stravinsky é pequena se comparada àquela prestada por Clint Eastwood e o roteirista Joel Oliansky em Bird, quando Charlie Parker olha para o autor de O pássaro de fogo, obra que ele havia escutado antes no rádio do carro. E se o filme não aprofunda o tema das carências da família no convívio com o grande maestro, que aparece limitado pelos diálogos, os bonecos sem vida que perambulam pelo cenário expressam, de maneira aceitável, a infelicidade de uma humanidade longe da juventude e vivendo a fase da decadência.
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