A presidente Dilma Rousseff (PT) e seu padrinho político Luiz Inácio Lula da Silva (PT) combinaram uma estratégia para tentar salvar o governo da pior crise política. Os dois almoçaram juntos no sábado, em São Bernardo do Campo, enquanto simpatizantes faziam um ato de apoio ao petista diante do prédio onde ele mora.
Ameaçada pelo impeachment, Dilma quer se reaproximar de Lula, mas está distante do PT, e pediu a ele a mediação para que o partido a ajude a preservar o mandato. A conversa entre os dois ocorreu no dia seguinte à ação da Polícia Federal que conduziu Lula coercitivamente para prestar depoimento. O ex-presidente é o principal alvo da Operação Aletheia, 24ª fase da Lava Jato.
Ao receber uma ligação de Dilma, na sexta-feira, Lula deu a senha da estratégia a seguir. "Não podemos cair na armadilha de nos dividir, Dilma", afirmou. "Não dá mais. Se alguém imagina que vou ficar em casa, esquece. Vou para a rua e vou ser candidato a presidente, em 2018."
As declarações de Lula foram confirmadas por duas pessoas que estavam ao lado dele durante o telefonema de Dilma. No Planalto, a avaliação é que o cerco a Lula na Operação Lava Jato, a delação do ex-líder do governo no Senado Delcídio Amaral (PT-MS) e a prisão do marqueteiro João Santana dão força às manifestações contra o governo, marcadas para o próximo domingo, 13 de março.
Irritada com as críticas do PT ao ajuste fiscal e à reforma da Previdência, a presidente faltou à festa de 36 anos do partido, no dia 27. A ausência foi um gesto calculado para manter distância regulamentar do PT num momento em que o partido é alvejado pela Lava Jato e Dilma precisa angariar apoio fora do tradicional arco de alianças do governo. Na sexta-feira, o aliado PSB anunciou que vai se juntar à oposição.
Os desdobramentos da condução coercitiva de Lula pela PF, porém, empurraram Dilma para uma encruzilhada. As manifestações em defesa do ex-presidente mostraram que ela também precisa do PT para evitar o impeachment.
O encontro ocorreu depois que, na manhã da sexta-feira, Lula foi alvo da Lava Jato. Com a presença de mais de 200 agentes, Polícia Federal cumpriu, na residência do ex-presidente, mandado de busca e apreensão e o levou em condução coercitiva (quando o investigado é levado para depor) ao Aeroporto de Congonhas, em São Paulo. São investigados crimes de corrupção e lavagem de dinheiro relacionados à Petrobras.
O Ministério Público Federal (MPF) disse que Lula foi um dos "principais beneficiários" de crimes cometidos no âmbito da estatal. Determinada pelo juiz Sérgio Moro, do MPF em Curitiba, a ação suscitou a manifestação de especialistas que tanto defenderam a legalidade do uso da condução coercitiva quanto a condenaram. O ministro da Suprema Corte, Marco Aurélio Mello, disse que "só se conduz coercitivamente o cidadão que resiste e não comparece para depor. E o Lula não foi intimado".
Ainda na sexta-feira, manifestantes favoráveis e contrários a Lula se aglomeraram após a notícia da ação da PF. Houve confronto físico e policiais da tropa de choque intervieram para apartar os grupos no Aeroporto de Congonhas.
Em Porto Alegre, militantes petistas se reuniram na Esquina Democrática, enquanto manifestantes pró-impeachment reuniram-se no bairro Moinhos de Vento.
Em pronunciamento na sexta-feira, Lula criticou a ação da PF e reprovou a imprensa pelo que considera um espetáculo midiático. "Me senti ultrajado, como se fosse prisioneiro, apesar do tratamento cortês do delegado da Polícia Federal. Se quiseram matar a jararaca, não bateram na cabeça, bateram no rabo. A jararaca tá viva, como sempre esteve", afirmou.
O relatório da ação da PF entregue ontem ao juiz Moro diz que Lula afirmou aos delegados que só sairia algemado de seu apartamento. Após falar por telefone com seu advogado, Roberto Teixeira, Lula aceitou acompanhar os agentes depois de trocar de roupa.