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Economia

- Publicada em 07 de Março de 2016 às 21:49

Opinião econômica: Lições de 30 anos

Benjamin Steinbruch é diretor-presidente da CSN e presidente do conselho de administração da empresa

Benjamin Steinbruch é diretor-presidente da CSN e presidente do conselho de administração da empresa


Arquivo/JC
O Plano Cruzado fez 30 anos na semana passada. Ele veio em um momento de grave crise econômica no País, que curiosamente é ao mesmo tempo muito diferente e um pouco parecida com a que vivemos nos dias de hoje.
O Plano Cruzado fez 30 anos na semana passada. Ele veio em um momento de grave crise econômica no País, que curiosamente é ao mesmo tempo muito diferente e um pouco parecida com a que vivemos nos dias de hoje.
É muito diferente porque, naquele momento, em fevereiro de 1986, o País havia recuperado a democracia e vivia um período de hiperinflação, que chegou a 242% em 12 meses, e de grave escassez de reservas monetárias em moeda forte.
O Cruzado veio, então, para estancar o avanço da inflação, tão bem representado na época pela figura do dragão. Num dia D, 28 de fevereiro, o governo mudou o nome da moeda de cruzeiro para cruzado, congelou preços, salários e câmbio e extinguiu a correção monetária. Para agradar aos trabalhadores, reajustou o salário-mínimo em 15% e criou um gatilho para aumento de salários sempre que a inflação acumulasse 20%.
O pacote de medidas teve um sucesso imediato extraordinário. O avanço dos preços, que havia sido de 15% em janeiro de 1986, foi interrompido e houve deflação de 0,5% em abril. A equipe econômica e o presidente José Sarney viraram quase deuses. Mas o congelamento de preços, o aumento de salários e um abono também concedido estimularam fortemente o consumo. Em poucos meses, as prateleiras dos supermercados estavam vazias, porque o aumento da capacidade de produção não acompanhou a demanda. O governo tentou segurar os preços à força, surgindo inclusive os famosos fiscais do Sarney, pessoas do povo que denunciavam a remarcação de preços nos supermercados. Foi em vão. A inflação voltou.
Para atender à onda consumista, as importações aumentaram, e as exportações diminuíram, ajudando a corroer as já frágeis reservas cambiais, que caíram praticamente a zero. Assim, um ano depois do anúncio do plano, o então presidente José Sarney, sem condição de manter o pagamento de juros, declarou a moratória da dívida externa, que somava US$ 107 bilhões.
Medidas como as do Cruzado, com congelamento, por exemplo, são impensáveis nos dias de hoje e tampouco necessárias. A crise atual é muito diferente. O País tem reservas externas volumosas, de US$ 370 bilhões, suficientes para pagar à vista, se for necessário, toda a dívida externa pública. A inflação é preocupante, na faixa de 10% ao ano, mas está muito longe daquelas taxas dos anos 1980, cujo ápice foi 1.973%, em 1989.
Sob regime democrático, o País conseguiu superar os traumas e as sequelas dos anos 80 com a estabilização promovida pelo plano real em 1994 e, no início deste século, com os programas sociais e de distribuição de renda.
O Brasil, porém, ainda é o mesmo. Como no tempo do Cruzado, falta uma política fiscal que contenha gastos correntes do governo e equilibre as contas públicas. E o endividamento público, agora o interno, dificulta a promoção de investimentos do governo em setores de infraestrutura, necessários para a retomada do crescimento.
Trinta anos depois do Cruzado, em meio a uma grave crise política, podemos tirar algumas mensagens daquela experiência. A primeira é que não há milagres em economia. A segunda é que não se pode hesitar em mudar políticas econômicas que estão dando errado. E a terceira, que não devemos nunca entrar em euforia tresloucada na hora do sucesso, nem em desespero e depressão na do insucesso.
Diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional e presidente do conselho de administração da empresa.
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