O dólar teve, nesta quinta-feira, sua quarta queda consecutiva, determinada quase que exclusivamente pelo noticiário político. Influenciados pelos mais recentes desdobramentos da Operação Lava Jato, os investidores desmontaram posições compradas em dólar e a moeda americana terminou o dia em baixa de 2,07%, cotada a R$ 3,8102 no mercado à vista, menor cotação desde 10 de dezembro.
A notícia de que o senador Delcídio Amaral (PT-MS) fechou um acordo preliminar de delação premiada foi o principal acontecimento do dia e ofuscou todo o restante do noticiário, inclusive as oscilações dos preços do petróleo. Ao grupo de trabalho da Procuradoria-Geral da República na Operação Lava Jato, Delcídio Amaral teria citado vários nomes, entre eles o do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O senador também teria detalhado os bastidores da compra da refinaria de Pasadena pela Petrobras, entre outros assuntos.
A notícia teve forte repercussão nos negócios desde cedo e alimentou as apostas no afastamento da presidente Dilma Rousseff. A possibilidade de saída da presidente agrada ao mercado, que vê na troca de governos a chance de solução dos impasses políticos que vêm impedindo o avanço das medidas de ajuste fiscal no País.
O fato é que o noticiário estimulou o ingresso de investidores nos mercados de ações e renda fixa, com reflexos no câmbio. Com o movimento forte de queda, investidores "comprados" em dólar zeraram posições para interromper suas perdas, outro fator que aprofundou a desvalorização da moeda americana. Na mínima do dia, a divisa chegou a ser negociada por R$ 3,7793 no mercado à vista (-2,87%).
A Bovespa fechou nesta quinta-feira em alta de 5,12%, a maior variação percentual desde 29 de outubro de 2009, quando o indicador subiu 5,91%. Com isso, o Ibovespa reestreou acima do patamar dos 47 mil pontos, batendo os 47.193,39 pontos no fechamento, o maior nível desde 24 de novembro do ano passado.
Tudo isso em um dia de forte giro financeiro, que totalizou
R$ 12,991 bilhões. O valor é o dobro da média diária observada em fevereiro deste ano e em março do ano passado, segundo dados da BM&FBovespa. Conforme operadores, esse forte giro que provocou valorizações de dois dígitos em blue chips foi patrocinado, especialmente, por recursos de investidores estrangeiros. Foi o maior giro financeiro desde 17 de fevereiro deste ano, quando o volume financeiro foi de R$ 13 bilhões, inflado com o vencimento de opções sobre o Ibovespa.
Na avaliação do operador da Quantitas, Thiago Montenegro, e de um operador de renda variável, a alta de dois dígitos de ações como Petrobras (ON 12,47%) e Banco do Brasil (ON 13,07%) foi provocada, principalmente, pela zeragem de posições vendidas. "O mais forte é zeragem, mas podem estar começando a acontecer compras propriamente", afirma Montenegro. Esse foi o quarto pregão consecutivo de valorização do Ibovespa.
Segundo operadores e analistas, a notícia do suposto acordo de delação premiada de Delcídio Amaral foi o que impulsionou os preços dos ativos. "Essa notícia foi realmente um 'game changer'", diz Montenegro.
Apesar de errático, o preço do petróleo em Londres acabou fechando em leve alta ( 0,38%) e acima dos US$ 37 por barril. O S&P500 fechou em alta de 0,35%.