Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Teatro

- Publicada em 21 de Março de 2016 às 13:19

Frustrante porque equivocado

Depois da queda, de Arthur Miller, estreou em 1964, pouco tempo depois da morte de Marilyn Monroe, com quem ele esteve casado em torno de 5 anos. Embora considerada, muitas vezes, como autobiográfica, a exemplo das demais obras de Miller, o que o grande dramaturgo norte-americano fazia era partir de uma situação privada e transformá-la numa reflexão pública, a exemplo do que alcançara em A morte do caixeiro viajante, sua primeira peça e obra-prima mundialmente encenada.
Depois da queda, de Arthur Miller, estreou em 1964, pouco tempo depois da morte de Marilyn Monroe, com quem ele esteve casado em torno de 5 anos. Embora considerada, muitas vezes, como autobiográfica, a exemplo das demais obras de Miller, o que o grande dramaturgo norte-americano fazia era partir de uma situação privada e transformá-la numa reflexão pública, a exemplo do que alcançara em A morte do caixeiro viajante, sua primeira peça e obra-prima mundialmente encenada.
Ora, o desafio do dramaturgo brasileiro Fernando Duarte era mais do que difícil, era quase impossível. Falar de alguma coisa presente em outra cultura e realidade; escrever sobre algo que está longe, com a qual ele não possui nenhuma intimidade... o resultado é esta Depois do amor - Um encontro com Marilyn Monroe, que é infeliz no título (seja no "depois do amor", que não traduz o que a obra discute, pior ainda no encontro com Marilyn Monroe, que acaba parecendo um chamariz para vender a obra) e é infeliz no seu desenvolvimento, porque toda a situação inicial, que possibilita o diálogo entre as duas mulheres, parece artificial.
Marília Pêra, em seu último trabalho de direção, esmerou-se em acentuar algumas passagens mais emotivas, pontuando com precisão as diferentes emoções, mas não pode fazer milagres. Danielle Winits, igualmente, corretíssima na personificação da grande atriz do cinema norte-americano, até em alguns trejeitos, caprichou na interpretação da diva, mas igualmente não faz milagres. O diálogo, em geral, anda aos tropicões, custa para desenvolver-se, enfrenta percalços para ganhar timo e, sobretudo, naturalidade, convencendo o espectador que, enfim, a tudo assiste sempre de fora, sem envolver-se maiormente.
Este é o tipo daquele espetáculo que está bem-realizado, bem-cuidado, bem-produzido (figurinos de Sônia Soares; cenário de Natália Lana; Iluminação de Vilmar Olos), mas não empolga. Em primeiro lugar porque, como disse, a referência está muito distante de boa parte da plateia, mas sobretudo porque, ao contrário da peça de Miller, o dramaturgo brasileiro não chega a atingir a universalidade, não transforma o episódio, que é particular, numa possibilidade de reflexão que atinja a humanidade.
Fica-se, então, no episódico, no anedótico, e daí, faltam referências para o público, mesmo as pessoas mais velhas, que chegaram a acompanhar parte da carreira da atriz. Lamento este tipo de acontecimento, porque sobretudo o trabalho da figurinista Sônia Soares é muito cuidadoso, recriando trajes que celebrizaram a atriz, numa busca de ancorar o espetáculo numa época determinada, mas que não é em nada ajudado pelo texto, por demais genérico, com raros momentos de maior criatividade ou sentimento, que chegue a emocionar o público.
Neste sentido, Depois do amor é uma ideia boa, mas falha; uma montagem bem-cuidada, mas sem emoção; um trabalho ambicioso, mas que fica no meio do caminho. Em nenhum momento o texto consegue realmente aproximar-se do espectador, nem mesmo fazer quaisquer vinculações com figuras ou situações semelhantes na cultura brasileira. O pior momento, neste sentido, é quando a personagem Margot cita um poema (certamente, estaria vinculado à literatura norte-americana) que o dramaturgo resolver atribuir a Carlos Drummond de Andrade (o conhecido e irônico Quadrilha): a situação se torna ridícula, porque já seria discutível transferir a citação da literatura norte-americana para a brasileira se o texto dramático original fosse norte-americano. Mas, em se tratando de um dramaturgo brasileiro, por que não respeitar a verossimilhança? Ou alguém imagina que uma personagem norte-americana de Hollywood, uma figurinista, conheceria o suficiente a poesia brasileira para citar o poeta mineiro? Destes descaminhos equívocos, pequenos se isolados, mas que redundam num equívoco que acaba generalizado, se faz o texto. O que é uma pena, porque fui bastante curioso e interessado para ver o resultado a ser alcançado. Mas foi frustrante.
Conteúdo Publicitário
Leia também
Comentários CORRIGIR TEXTO