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Cinema

- Publicada em 31 de Março de 2016 às 23:03

A investigação

James Vanderbilt, o diretor de Conspiração e poder, é um estreante em longa-metragem. Antes, ele havia trabalhado como roteirista em filmes destinados a um público amplo, como dois da série dedicada ao Homem-Aranha. É, portanto, possível dizer que provavelmente não seria o nome indicado para realizar um filme como este no qual o tema desenvolvido, o da imprensa em conflito com interesses poderosos, pediria um realizador com mais experiência. Mas seu filme, no qual ele também é o roteirista, merece ser conhecido. A presença no elenco do ator Robert Redford, um dos protagonistas do hoje clássico Todos os homens do presidente, realizado por Alan J. Pakula em 1976, é uma referência óbvia a uma obra que soube reconstituir com precisão e dramaticidade todo o processo que culminou com a renúncia do presidente Richard Nixon, depois que dois jornalistas do Washington Post descobriram e divulgaram as ligações entre a Casa Branca e atividades ilegais de elementos ligados ao partido que então administrava o país. O episódio é conhecido de todos e sua citação em passagens do filme de Vanderbilt só contribui para a impressão de que o filme atual segue um modelo, diante do qual é obra sem o mesmo impacto, até porque a falta de uma prova definitiva terminou por permitir que o processo fosse concluído sem que o candidato à reeleição tivesse sido prejudicado. Foram os denunciantes que tiveram suas carreiras prejudicadas e agora absolvidos pelo filme, que é baseado em livro escrito por Mary Mapes, que esteve à frente do trabalho investigativo. O filme adota, assim, o ponto de vista da jornalista interpretada por Cate Blanchett, externando a opinião de que a confusão gerada por documentos tidos como forjados não é suficiente para absolver o presidente.
James Vanderbilt, o diretor de Conspiração e poder, é um estreante em longa-metragem. Antes, ele havia trabalhado como roteirista em filmes destinados a um público amplo, como dois da série dedicada ao Homem-Aranha. É, portanto, possível dizer que provavelmente não seria o nome indicado para realizar um filme como este no qual o tema desenvolvido, o da imprensa em conflito com interesses poderosos, pediria um realizador com mais experiência. Mas seu filme, no qual ele também é o roteirista, merece ser conhecido. A presença no elenco do ator Robert Redford, um dos protagonistas do hoje clássico Todos os homens do presidente, realizado por Alan J. Pakula em 1976, é uma referência óbvia a uma obra que soube reconstituir com precisão e dramaticidade todo o processo que culminou com a renúncia do presidente Richard Nixon, depois que dois jornalistas do Washington Post descobriram e divulgaram as ligações entre a Casa Branca e atividades ilegais de elementos ligados ao partido que então administrava o país. O episódio é conhecido de todos e sua citação em passagens do filme de Vanderbilt só contribui para a impressão de que o filme atual segue um modelo, diante do qual é obra sem o mesmo impacto, até porque a falta de uma prova definitiva terminou por permitir que o processo fosse concluído sem que o candidato à reeleição tivesse sido prejudicado. Foram os denunciantes que tiveram suas carreiras prejudicadas e agora absolvidos pelo filme, que é baseado em livro escrito por Mary Mapes, que esteve à frente do trabalho investigativo. O filme adota, assim, o ponto de vista da jornalista interpretada por Cate Blanchett, externando a opinião de que a confusão gerada por documentos tidos como forjados não é suficiente para absolver o presidente.
O filme, portanto, se envolve numa discussão que coloca o formalismo legal como o centro de tudo. E no epílogo, com o belo discurso de Dan Rather, a narrativa também presta homenagem a Frank Capra, o cineasta que tanto apreciava encerrar seus filmes com manifestações de crença no ser humano e naqueles valores que estão acima de conflitos passageiros e de figuras que serão devidamente julgadas pela história. O cinema americano aprecia muito essas cenas finais em que os heróis são aplaudidos e os vilões devidamente punidos, sendo assim concretizado o desejo dos espectadores. É o que acontece no filme de Vanderbilt, que, além de reconstituir um episódio no qual a ação de jornalistas investigativos não alcançou o objetivo, é mais um a expor de maneira clara que os empecilhos colocados diante da imprensa podem comprometer o funcionamento integral de uma sociedade regida por princípios democráticos.
Mas a obra, embora seus méritos e o valor de suas colocações, não parece dirigida por um realizador à altura de outro tema que surge claramente nas imagens e situações e fica carecendo de um desenvolvimento mais profundo. O poder representa para a protagonista uma outra força, que a persegue e da qual ela não consegue livrar-se. Ela trabalha com um homem mais velho, claro substituto da imagem paterna. Numa das últimas cenas ela chega a chamar o colega pelo nome simbólico. A violência praticada pelo pai não aparece em cena, sendo o martírio infantil apenas mencionado nos diálogos. A temática do indivíduo diante do poder é algo que supera acontecimentos manifestos durante a narrativa. O impulso que move a protagonista diante de possíveis distorções do sistema deriva de acontecimentos passados. A atuação da jornalista não é algo menor devido a tal fato. Porém o filme o coloca em segundo plano, mesmo que não o oculte e até por ele mostre interesse. Tudo isso parece difícil para o realizador, que prefere encerrar a narrativa com a glorificação de um jornalismo que não se deixa intimidar, até porque protegido por normas interessadas em manter valores indispensáveis ao funcionamento de um estado democrático. E nas cenas da comissão investigativa, cujos membros parecem autômatos agindo nas sombras, o realizador outra vez se aproxima de Pakula, um cineasta que sempre se interessoupor colocar na tela ameaças não devidamente identificadas, mas presentes em momentos de crise.
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