Luiza Fritzen
Fútil, namoradeira, sensual, bonita, sofisticada, triste. Esses são apenas alguns dos rótulos dados a uma das mais conhecidas atrizes americanas e que são desmistificados na peça que entra em cartaz nesta sexta-feira, às 21h, no Theatro São Pedro. Estrelada por Danielle Winits e Maria Eduarda de Carvalho, Depois do amor - um encontro com Marilyn Monroe tem sessões também no sábado, às 20h, e no domingo, às 18h.
Escrita por Fernando Duarte, a montagem celebra os 90 anos que Marilyn Monroe completaria em julho. Após uma grande pesquisa sobre a mulher mais sexy do século passado, o autor optou por dar vida a um dos momentos ímpares vivido pela estrela. A peça retrata o reencontro da musa com uma ex-amiga, Margot Taylor, e a conversa que tiveram dois dias antes da morte da atriz.
Marilyn e a amiga tornaram-se íntimas nos bastidores de um filme, em 1952. Na época assistente de figurino, Margot namorava o jogador de beisebol Joe DiMaggio, que a abandonou para se casar com Marilyn. Contudo, o casamento durou apenas nove meses - Margot terminou sem namorado e sem amiga.
Dez anos depois, durante as filmagens de Something's got to give, último filme da diva e que não chegou a ser concluído, as duas voltam a ficar frente a frente. Marilyn passou dias sem gravar, alegando uma série de doenças, e voltou ao set alguns quilos mais magra. Para fazer os ajustes em seus vestidos, Margot é chamada e as duas amigas se reencontram após viverem uma história de amor com o mesmo homem.
De forma humorada, a peça estuda a alma feminina e os questionamentos que as mulheres enfrentam até hoje, como conciliar família e carreira, ser independente e valorizada pelo seu trabalho. O choque entre um dos maiores mitos da feminilidade do século XX e uma mulher comum resulta em um diálogo sobre passado, amores, alegrias e aflições. Apesar de viverem em mundos diferentes, as dificuldades de ter autonomia em uma sociedade controlada pelos homens e a busca por amar e ser amada as aproxima.
Segundo o autor, a obra mostra a Marilyn desconhecida pelo público, vai além das curvas e clichês de sex symbol ou loira burra. "A ideia é revelar a estrela na pele de mulher comum, inteligente, divertida, culta", comenta. A admiração pela atriz surgiu ao estudar mais sobre ela. "Marilyn estava muito à frente do seu tempo, ela não aceitava ser submissa ou difamada por fazer as mesmas coisas que os homens", completa Duarte.
A direção do projeto é de Marília Pêra, que faleceu no dia 5 de dezembro de 2015, data em que estreou a peça. Vítima do câncer, a dedicação da dama dos palcos brasileiros como diretora foi uma de suas heranças para a montagem, realizando, inclusive, ensaios na sala da própria casa. "Foi muito comovente ver Marília, mesmo com dor, querendo dirigir e dar o seu melhor pelo espetáculo. Ela deixou tudo pronto, e a peça é uma homenagem a Marilyn, mas também a Marília", declara Duarte. Trazer à tona a musa de Hollywood nos anos 1950 em uma versão humana e forte foi um dos fatores que atraíram Danielle Winits. "A vida de Marilyn também mostra um pouco os perigos e riscos do estrelato excessivo e como os sonhos se constroem e se desfazem ao longo da vida", afirma ela.
Para incorporar a personagem, Danielle conta que foi preciso desconstruir o sex symbol através de uma interpretação emotiva e densa. "Marilyn sofreu muito. Teve relacionamentos muito complicados. Apesar de ser um símbolo, não era tão respeitada quanto gostaria que fosse como atriz e como mulher." Sobre trabalhar com Marília Pêra, a atriz declara que "ela era uma mestra, um gênio. Para mim, ela é imortal e agora nos acompanha de um lugar bem bonito", encerra.
Marilyn Monroe era o nome artístico de Norma Jean Mortenson. A estrela atuou em mais de 30 filmes e ficou mais conhecida pela comédia Os homens preferem as loiras. Em agosto de 1962, a atriz foi encontrada morta devido a uma overdose de calmantes, segundo a versão oficial.