Cristiano Vieira
Pode uma cirurgia plástica transformar, além do rosto, a personalidade de uma pessoa? É este questionamento que intriga os gêmeos Lukas e Elias no longa austríaco de suspense Boa noite, mamãe. Dirigido por Severin Fiala e Veronika Franz, o filme foi o indicado pelo país para concorrer ao Oscar de produção estrangeira neste ano.
O enredo é simples. Numa casa isolada na zona rural, entre bosques e o campo, residem dois irmãos gêmeos, de 10 anos, que estão esperando por sua mãe. Quando ela volta, com o rosto cheio de curativos e coberto por ataduras, após uma cirurgia plástica, nada é como era antes.
Distante e misteriosa, ela se fecha no seu próprio mundo e não interage mais com os filhos ou com o mundo exterior. Sem a presença do pai (que o longa não chega a esclarecer onde está) e sem vizinhos, os garotos começam a duvidar se aquela mulher é, realmente, sua mãe.
Para o espectador, o estranhamento dos gêmeos com a mãe que retorna soa natural - a mulher é ríspida com ambos, tranca-os no quarto e os impede de brincar sem razão aparente. O desenrolar das cenas, entretanto, dá pistas de que Boa noite, mamãe vai além do suspense psicológico e esconde segredos da estrutura familiar referentes ao passado.
A edição e a fotografia ajudam a equilibrar o clima tenso do longa austríaco. Longos takes no milharal que permeia a propriedade, a visão que se tem da casa para a floresta que não parece nada amigável, tudo contribui para ampliar a sensação de que os meninos estão em apuros. A atmosfera de isolamento passa a ideia de perigo, algo que cria identificação imediata com o enredo.
Contudo, como já visto antes em outros filmes, há surpresas no enredo, principalmente nos minutos finais. Fica claro que - por mais chavão que pareça a expressão - "nada é que o parece ser" em Boa noite, mamãe.
As boas atuações dos gêmeos valem o ingresso, assim como da mãe - vivida pela atriz Susane Wuest (de Antares, filme austríaco de 2005 que chamou a atenção da crítica internacional e participou de 30 festivais de cinema).
O incômodo gerado pelo filme é explicado no previsível e rápido desfecho - nem um pouco criativo e que deixa o espectador com um sentimento de déjà vu.