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Empresas & Negócios

- Publicada em 31 de Março de 2016 às 16:14

CNI busca janela de oportunidades


JOSÉ PAULO LACERDA/CNI/DIVULGAÇÃO/JC
Marina Schmidt
Diante do momento de retração da economia brasileira, o diretor de políticas e estratégia da Confederação Nacional da Indústria (CNI), José Augusto Fernandes, avalia que o setor industrial tem encontrado boas oportunidades apenas com a exportação, em função da desvalorização do real frente ao dólar. No mercado interno, persistem os desafios de superar a crise político-econômica e realizar reformas capazes de garantir "credibilidade" ao governo.
Diante do momento de retração da economia brasileira, o diretor de políticas e estratégia da Confederação Nacional da Indústria (CNI), José Augusto Fernandes, avalia que o setor industrial tem encontrado boas oportunidades apenas com a exportação, em função da desvalorização do real frente ao dólar. No mercado interno, persistem os desafios de superar a crise político-econômica e realizar reformas capazes de garantir "credibilidade" ao governo.
JC Empresas & Negócios - Estamos com a previsão de um cenário de baixo crescimento, decorrente do atual contexto econômico, em que há apontamentos de consultorias e especialistas indicando que o País caminha para um década perdida. A CNI compartilha dessa visão?
José Augusto Fernandes - Não. Enxergamos que há problemas daqui para trás, mas daqui para frente, não. O futuro é contingente do que venhamos a fazer. Obviamente que se eu projetar a atual situação, obteria uma projeção muito negativa, mas nós esperamos que o sistema político, em algum momento, resolva esses impasses que estão na mesa e se possa construir uma agenda econômica mais crível. Nos parece que há um relativo consenso sobre o que precisa ser feito, a dificuldade é a construção política dessa solução.
Empresas & Negócios - Quais são os consensos do que precisa ser feito?
Fernandes - O primeiro desafio é reconhecer que temos um problema fiscal grave, que não é conjuntural apenas, e é de natureza estrutural. Ou seja, tem relação com o conjunto de regras institucionais que estimulam o crescimento automático dos gastos públicos no Brasil. O desafio seria montar uma agenda com alguma credibilidade sobre como atacar esse problema em um determinado número de anos. Não é algo que se resolva em cinco minutos, mas tem que se mostrar a trajetória: mudar as regras e enfrentar uma das fontes de perturbação do equilíbrio fiscal no médio prazo, que é a Previdência Social. Essa é uma agenda. A segunda agenda é a da melhoria do ambiente econômico e da competitividade - da mudança de clima. São medidas menos dependentes de recursos fiscais, é mais regulatória, que define o modelo de crescimento da economia. Quanto mais crível for a equipe que irá desenvolver essa agenda mais rápida será a percepção do mercado de que se está construindo a solução, e isso permite uma progressiva recuperação do ânimo das empresas, o que melhora as perspectivas de crescimento e a ajuda também na superação do problema fiscal. Cabe a nós para que não tenhamos uma década perdida.
Empresas & Negócios - Temos reportado a ocorrência de duas crises muito severas: a política e a econômica. A sua colocação demonstra que a crença da CNI é de que o cerne do problema é mais político do que econômico. É isso mesmo?
Fernandes - Sim. A origem é econômica, decorrente de um problema fiscal que já estava montado. Temos também todos os problemas associados à indústria do petróleo e gás. Acho que esses são dois blocos importantes da instabilidade brasileira, mas eu acredito que, na medida em que o País consiga desenvolver uma agenda mínima de reformas e mudar o ambiente econômico, existe condição de iniciar um processo de recuperação.
Empresas & Negócios - Qual foi o resultado obtido pela indústria em 2015?
Fernandes - O ano passado foi bastante recessivo para toda indústria, tivemos setores da indústria da transformação com quedas superiores a 10% - na média, a retração ficou em torno de 6,2%. Foi um período bastante duro, as empresas ainda estão sofrendo. É como se tivéssemos sinais de que chegamos próximos ao fundo do poço, mas que são contraditórios porque tem um fato positivo que é a recuperação das exportações, que começa a ocorrer de forma progressiva, e um aumento da capacidade de concorrer com os importados dentro do País por conta da desvalorização do real. O efeito câmbio é positivo neste momento para a capacidade de recuperação da economia e é uma das poucas janelas que temos neste momento, na medida em que os gastos públicos estão contidos, o investimento privado está limitado por conta da incerteza econômica e política, e o consumo doméstico está retraído por uma série de fatores, como o desemprego e a elevação da inflação.
Empresas & Negócios - A inflação já começa lentamente a ceder. Isso pode favorecer a recuperação da indústria?
Fernandes - Sim. O sinal novo neste momento é a projeção de redução da inflação por conta da própria recessão, o que pode favorecer outra janela, pois se essa queda for consistente, a política monetária poderá ser menos agressiva e poderemos ter, ainda neste ano, alguma redução dos juros.
Empresas & Negócios - A questão do dólar tem sido reiterada como oportunidade para empresas exportadoras, mas também eleva o custo com insumos e equipamentos muitas vezes. Qual é o patamar ideal do dólar para gerar resultados positivos na indústria?
Fernandes - Não há dúvida que o dólar no nível em que estava recentemente é competitivo para a maior parte dos setores. O que afeta as decisões empresariais é a volatilidade e a incerteza sobre o desempenho do valor da moeda no futuro. Conforme as empresas começam a tomar decisões estratégicas, de se voltar para o mercado externo, elas ficam receosas de que um cenário de valorização, como o que prevaleceu há três anos possa afetar toda a sua estratégia. Não acreditamos que esse cenário possa ser dominante, mas as empresas ficam, de alguma forma, cautelosas porque já passaram por maus momentos no passado.
Empresas & Negócios - Ao final da crise, qual será a mácula deixada pelo momento de baixo investimento na competitividade e inovação das indústrias?
Fernandes - Uma crise na proporção em que estamos vivendo gera limites fortes às decisões de investimento, afetando a capacidade de modernização e inovação das empresas. No entanto, esse mesmo cenário, está forçando as empresas a buscarem ganhos de produtividade. Não há salvação sem aumento da eficiência. Tudo o que as empresas puderem fazer na área de gestão, elas devem estar fazendo. Essa é talvez a forma mais barata e eficaz de se adaptar neste momento de crise.
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