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governança

- Publicada em 16 de Março de 2016 às 17:23

Recuperações judiciais ganham força no País


VISUALHUNT/DIVULGAÇÃO/JC
Nos últimos sete anos, o endividamento das empresas brasileiras no mercado interno mais que dobrou, atingindo R$ 1,4 trilhão em janeiro. Com os empréstimos externos, essa conta sobe em mais US$ 211 bilhões. Não chegaria a ser um problema se a economia estivesse crescendo, o consumo subindo, a produtividade aumentando. Mas o cenário é o inverso disso. Com redução nas vendas e na receita, esse endividamento se tornou uma bola de neve para as empresas. E a percepção entre os analistas é uma só: o País vai viver neste ano uma explosão das recuperações judiciais e quebras de empresas.
Nos últimos sete anos, o endividamento das empresas brasileiras no mercado interno mais que dobrou, atingindo R$ 1,4 trilhão em janeiro. Com os empréstimos externos, essa conta sobe em mais US$ 211 bilhões. Não chegaria a ser um problema se a economia estivesse crescendo, o consumo subindo, a produtividade aumentando. Mas o cenário é o inverso disso. Com redução nas vendas e na receita, esse endividamento se tornou uma bola de neve para as empresas. E a percepção entre os analistas é uma só: o País vai viver neste ano uma explosão das recuperações judiciais e quebras de empresas.
Esse cenário, na verdade, já deu as caras no ano passado, quando as recuperações judiciais chegaram a 1.256, número mais de 50% superior ao registrado em 2014. No primeiro bimestre deste ano, o número foi ainda mais assustador: crescimento de 116% em relação ao mesmo período do ano passado. "As empresas estão sofrendo e ainda vão sofrer muito em 2016 por falta de liquidez", diz Mauro Storino, diretor sênior da Fitch Ratings.
O cenário traçado pela agência de classificação de risco para os grupos nacionais é dos mais pessimistas. Entre as companhias brasileiras acompanhadas pela Fitch, 53% estão com perspectivas negativas - ou seja, devem ter suas notas de crédito rebaixadas nos próximos meses. Em 2014, para cada empresa que tinha o rating elevado, três caíam. Neste ano, a proporção, segundo Storino, será de uma elevação para 10 rebaixamentos.
Para entender como a situação chegou a esse ponto, não é preciso ir muito longe. Entre 2005 e 2013, os empresários brasileiros experimentaram um ambiente inédito, com fartura de crédito a um custo baixo para os padrões nacionais ao mesmo tempo em que o governo incentivava o consumo e o crédito das famílias. A decisão das corporações foi de tomar dívida para investir em expansão - o que fez com que o endividamento superasse a geração de caixa.
O problema é que, no meio do caminho, veio uma recessão. De um crescimento de 2,3% em 2013, o Brasil ficou praticamente estagnado em 2014 e recuou 3,8% em 2015. "Isso gerou um descompasso entre a geração de caixa e o endividamento das empresas", diz Fábio Rodrigues, sócio-diretor da Bizup Consulting, empresa de consultoria empresarial. Na prática, as empresas investiram com base em um cenário que não se realizou. E, mais grave: as dívidas começaram a vencer no pior momento da economia. A margem líquida - indicador que mede o quanto das vendas se converte em lucro - recuou, em 2015, aos mesmos níveis de 2003. O levantamento foi feito pela empresa de informação financeira Economática com base nos dados de 70 companhias de capital aberto que já apresentaram o balanço do ano passado.
O indicador que mede a capacidade de pagamento das empresas (relação entre dívida líquida e Ebtida, ou geração de caixa) também se deteriorou. De um total de 198 companhias que tiveram essa relação positiva em 2015, 112 viram essa proporção subir, o que significa alta do risco. Há casos como o da construtora Mendes Júnior, que acabou de pedir recuperação judicial, em que relação dívida líquida sobre Ebitda é de 33,37, segundo a Economática. Isso significa que, com o caixa que ela gera hoje, levaria 33 anos para quitar os empréstimos.
A saída é tentar um alongamento dos prazos. Do outro lado, no entanto, essas empresas têm encontrado bancos pouco dispostos a conceder crédito novo em condições razoáveis. O que ocorre é o contrário: os prazos estão mais apertados e as exigências de garantias, mais pesadas, diz José Braga, sócio da PriceWaterhouseCoopers. O resultado disso é que cada vez mais empresas têm de pedir à Justiça proteção contra os credores, a recuperação judicial. Na lista de companhias que já recorreram à Justiça só neste ano estão empresas dos mais diversos setores, como a Viação Itapemirim, a rede de lojas de brinquedos BMart, a GEP, dona das varejistas de roupas Cori e Luigi Bertolli, e a fabricante de autopeças Arteb.
Para piorar, a crise, desta vez, atinge um grande número de empresas gigantes. Grandes empreiteiras envolvidas na Operação Lava Jato, que investiga corrupção em contratos da Petrobras, já pediram proteção judicial desde o ano passado. Entre elas, a OAS, que até 2014 ocupava a 3ª posição do ranking das maiores construtoras do Brasil; a Galvão Engenharia, que era a 6ª maior; e a própria Mendes Júnior, na 13ª posição.

Piora de indicadores provoca onda de renegociação de débitos


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A piora acentuada dos resultados financeiros e operacionais das empresas tem levado executivos e credores a uma série de renegociações de dívidas. O movimento faz parte de uma solução para contornar a sequência de descumprimento das cláusulas definidas nos contratos de empréstimos e de emissão de títulos, os chamados "covenants".
Esses instrumentos estabelecem indicadores que precisam ser perseguidos pelas empresas para garantir a segurança do credor. Um deles é a relação dívida/Ebitda, que mede a capacidade de pagamento dos débitos. No caso de quebra dessas cláusulas, o credor tem o direito de antecipar o vencimento da dívida ou limitar o endividamento da empresa, proibindo novos empréstimos no mercado, afirma Allan Ridell, sócio da KPMG.
A lista de empresas que já descumpriram os covenants é extensa, inclui grupos como Ampla, Light, AES Sul, Arteris, Oi e Gol. No caso da Ampla, ela propôs aos debenturistas que a quebra das cláusulas não acionasse o vencimento automático da dívida. A Oi pediu a suspensão temporária dos covenants.
Apesar do direito de antecipar o recebimento da dívida, bancos e detentores de títulos têm preferido renegociar o contrato, já que as empresas estão sem liquidez. "A renegociação, porém, implica custos. Ter o perdão (waiver) do credor pode representar despesa de até 0,5% do valor da dívida", diz Ridell. A Gol, por exemplo, admite em relatório que "pagou taxas geradas pelo waiver obtido com banco detentor de debêntures". O advogado Fabio Braga, sócio do Demarest Advogados, afirma que a prática no mercado tem variado de acordo com as características de cada empresa.

Especialistas em reestruturação vivem 'boom'


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As firmas especializadas em reestruturação de empresas estão ficando sem espaço para novos clientes diante do crescente número de companhias altamente endividadas que buscam ajuda para se reerguer. A fila de empresas com dificuldades de caixa não para de crescer. Na semana passada, a Oi anunciou a contratação da americana PJT Partners, que, desde o fim de 2015, já assessora a Odebrecht Oil & Gas. No fim de fevereiro, a varejista Leader, do BTG Pactual, contratou a Alvarez & Marsal, especialista em negócios com graves problemas financeiros.
A situação complicada das empresas fica transparente nas renegociações de dívidas com bancos e também nos pedidos de recuperação judicial. Dados da Serasa Experian mostram que os requerimentos de recuperação subiram 55,4% em 2015 em relação ao ano anterior, para 1.287 pedidos, um recorde. E a expectativa é de que o número cresça ainda mais em 2016.
A TCP Latam, que faz reestruturações de empresas, é um dos negócios que sentem o aumento da demanda por recuperações. O presidente da empresa, Wilbert Sanchez, diz que trabalhou em sete projetos em 2015. Neste ano, desde janeiro, vem fechando um acordo por semana. "A procura tem aumentado. Muita empresa aguardou uma melhora do ambiente no fim do ano, que não se concretizou, e teve que procurar algum apoio neste ano", explica o executivo, que trabalha com negócios como a varejista de luxo Daslu.
Salvatore Milanese, sócio da Pantalica Partners, que assessora a recuperação judicial do Grupo Schahin, também está sentindo o aumento de trabalho. Diante da demanda por recursos, a Pantalica está montando um fundo de "turnaround", que visa a ajudar na recuperação de negócios com bom potencial, mas com restrições financeiras de curto prazo. O fundo deve alcançar US$ 250 milhões em captações feitas exclusivamente no exterior.
Milanese diz que, apesar da crise política e econômica, existe apetite pelo investimento, que está dentro de uma categoria alternativa, pois oferece retornos elevados. Ao prazo médio de cinco anos, ele estima que o múltiplo sobre o capital investido possa ficar entre três e cinco vezes. Para ilustrar as proporções do potencial da indústria de recuperação das empresas, Milanese aponta para o estoque das provisões dos bancos, que alcançou R$ 150 bilhões nos vencimentos acima de 60 a 90 dias.

Conglomerados multisetoriais têm saldo positivo

Em meio à crise que atropela a economia brasileira e que tem levado grandes grupos a reestruturar dívidas e outros até mesmo a pedir recuperação judicial, alguns conglomerados com atuação multissetorial têm se mostrado imunes - ou quase - à turbulência e estão conseguindo se destacar em um cenário desolador, em que o Produto Interno do País (PIB) recuou 3,8% no ano passado e deve encolher pelo menos mais 3% em 2016.
No momento em que o consumo interno não para de cair, não têm muito a reclamar da crise os grupos que fizeram apostas acertadas, como vender artigos de primeira necessidade, como medicamentos, cujas vendas crescem respaldadas no envelhecimento da população; investir no agronegócio, único pilar da economia brasileira a fechar no azul em 2015; ou apostar na expansão no exterior.
Encaixam-se nessa categoria de "privilegiados" grupos como os brasileiros Ultra e J&F, o alemão Bayer e o canadense Brookfield, de acordo com consultores, gestores de bancos e analistas. Dono da rede de postos de combustíveis Ipiranga, o grupo tem obtido bons resultados na Ultragaz, que vende botijão de cozinha, uma vez que a população tem feito mais refeições em casa. Quando decidiu entrar em um novo setor em 2013, o grupo comprou a Extrafarma, de varejo farmacêutico.
Já o grupo alemão Bayer tomou, no ano passado, importante decisão estratégica ao sair do setor químico para focar em medicamentos e em agronegócio. A companhia está entre as 10 maiores do País em medicamentos e entre as cinco maiores em defensivos agrícolas.
A J&F, além de posicionada no agronegócio, priorizou sua expansão em negócios de alcance global, como a Eldorado (de celulose) e a Alpargatas (dona das Havaianas). Uma das principais compradoras de ativos no Brasil, a Brookfield se beneficia de investimentos em energia renovável, que tem preços mais atraentes, e concessões de rodovias, que tem fluxo de caixa garantido. Ao olharem adiante, esses grupos também mostram apetite para continuar a investir.