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Ensino

- Publicada em 16 de Março de 2016 às 14:13

Educação a distância vence barreiras

Ferreira usufruiu de todas as oportunidades oferecidas no curso de quatro anos e meio

Ferreira usufruiu de todas as oportunidades oferecidas no curso de quatro anos e meio


ARQUIVO PESSOAL/DIVULGAÇÃO/JC
Foi com muita dedicação que o economista Marcelo Augusto Ferreira conquistou o diploma universitário em uma das mais renomadas instituições de ensino do País. Egresso da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), com sede em Florianópolis, ele cursou os quatro anos e meio da graduação, na maior parte do tempo, de casa. Morador de Porto Alegre, Ferreira passou no vestibular da UFSC para modalidade de Educação a Distância (EaD), vinculada ao projeto federal Universidade Aberta do Brasil (UAB).
Foi com muita dedicação que o economista Marcelo Augusto Ferreira conquistou o diploma universitário em uma das mais renomadas instituições de ensino do País. Egresso da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), com sede em Florianópolis, ele cursou os quatro anos e meio da graduação, na maior parte do tempo, de casa. Morador de Porto Alegre, Ferreira passou no vestibular da UFSC para modalidade de Educação a Distância (EaD), vinculada ao projeto federal Universidade Aberta do Brasil (UAB).
Servidor público no Instituto Geral de Perícias do Estado, Ferreira vislumbrou na oportunidade a chance de melhorar sua posição na carreira. "Agora, posso me candidatar a vagas em concursos de nível superior", comenta. O diploma conquistado no semestre passado é idêntico ao de qualquer outro graduado em Economia pela UFSC. "São os mesmos professores. Inclusive muitas provas são iguais às do curso tradicional", acrescenta.
A comodidade de estudar em casa não aliviou as pressões vivenciadas por qualquer universitário - em certo grau, os desafios foram até mais acentuados. Das matérias complexas, como econometria e monografia, foi necessário ter bastante disciplina.
Nem todo mundo consegue se adequar às exigências do curso a distância. Entre 23 alunos da turma de Ferreira, apenas dois concluíram o curso dentro do prazo previsto (ele e mais um colega).
Apesar da evasão significativa, o bacharel em Economia não distingui o esforço entre um curso presencial e a distância. Depois de cursar uma graduação tradicional de Letras por mais de três anos, ele define que o empenho entre os dois formatos não chega a ser tão distinto.
"O aluno tem que buscar mais o conhecimento na graduação on-line, mas o espírito é o mesmo do curso em sala de aula", afirma. "Se o estudante presencial não quiser ser mediano, tem que ir além do básico. Na EaD, isso é um pouco mais intenso." Para enfrentar os desafios da modalidade de ensino, Ferreira usufruiu ao máximo as oportunidades que a instituição ofereceu, dos recursos de infraestrutura às orientações dos professores e tutores que fazem o intercâmbio entre discentes e docentes.
"Já no primeiro semestre, temos uma disciplina sobre educação a distância, em que o professor orienta para fazermos um esquema semanal de estudos", explica. Ele elogia a metodologia da UFSC, que trabalha com atividades de conhecimento para fortalecer o aprendizado dos conteúdos repassados. "Se seguir com aplicação o cronograma, o graduando consegue aprender de uma forma muito interessante."
Diferentemente das video-aulas, fóruns e atividades realizadas no ambiente virtual, as provas e apresentações dos seminários precisavam ser feitas pessoalmente. Por isso, praticamente todos os meses Ferreira se deslocava ao polo presencial da UFSC, na cidade de São Francisco de Paula.
No mesmo prédio, outras universidades federais também disponibilizam estrutura para alunos de outros cursos. Todas integram o projeto UAB, que foi criado em 2006 para ampliar e democratizar o acesso ao Ensino Superior, tendo como uma das prerrogativas a criação de polos de ensino em cidades com pouca ou nenhuma oferta de cursos presenciais.

Crise impacta avanços da UAB

A criação da Universidade Aberta do Brasil (UAB) permitiu que moradores de cidades interioranas de todo o País realizassem o sonho de obter um diploma de graduação ou pós-graduação. Mas, completando 10 anos, o projeto começa a demonstrar que já não tem a mesma força.
Uma demonstração de enfraquecimento, por exemplo, foi sinalizada pela UFSC, que, no início do segundo semestre do ano passado informou aos alunos de 16 cursos a distância que estava suspendendo as atividades realizadas pelo programa UAB por falta de repasses federais.
"Estamos passando por um momento em que o cenário econômico impacta em vários segmentos", avalia a diretora administrativa da Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed), Rita Maria Lino Tarcia. "É uma questão estratégica de reorganização de verba do setor público na área da educação", endossa.
Embora a UFSC tenha solucionado o impasse ainda no segundo semestre do ano passado, o cenário desafiador da economia e das finanças públicas continua nebuloso para a EAD no setor público. "O que eu sinto é que o projeto foi pensado de forma inovadora, mas que talvez não com uma visão de institucionalização efetiva", classifica Rita Maria. "Em muitos casos o núcleo da universidade aberta se tornou uma ilha nas instituições, e agora com o contingenciamento de verbas as ilhas maiores sobrevivem melhor e as menores sentem mais dificuldade."

Perfil do aluno pode ser diferencial no mercado

 JC EMPRESAS &NEGÓCIOS - EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - EAD - MESA DE ESTUDOS - CRÉDITO SXC

JC EMPRESAS &NEGÓCIOS - EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - EAD - MESA DE ESTUDOS - CRÉDITO SXC


SXC/DIVULGAÇÃO/JC
Mary Murashima, professora da FGV On-line, é uma entusiasta das novas ferramentas de educação e acompanha o desenvolvimento do setor há 15 anos. A Fundação Getulio Vargas (FGV) é uma das primeiras instituições a investir nesse segmento, que, salienta a professora, está em franca expansão e com um cenário cada vez mais promissor. "Por lei, qualquer certificado de educação a distância não pode ter diferenciação em relação aos do presencial", define ela, indicando que as formações não diferem em qualidade ou conteúdo, apenas na forma de obtenção do conhecimento. Isso faz toda a diferença, principalmente, para as gerações que cresceram interagindo com novas tecnologias, internet, redes sociais e o vasto mundo de conhecimento disponibilizado na rede internacional de computadores.
"Hoje, no País, em função da legislação ou da mudança do perfil geracional, o curso a distância acaba sendo um diferencial para o próprio mercado de trabalho", sacramenta a professora. "Há um tempo, discutia-se entre trabalhar no escritório (first place) ou em casa (second place). Agora, as empresas estão preocupadas em verificar o quão competente o profissional é para atuar em qualquer lugar."
Para que isso aconteça, é preciso, obviamente, saber usufruir dos mecanismos de comunicação disponíveis. "Alguém que não tenha habilidade para navegar e trabalhar com a web está fora desse perfil. Isso e várias outras características alavancam um tipo de competência que chamamos de virtual litrace, ou letramento virtual, em tradução livre." A competência da virtualidade é bastante favorecida nos cursos a distância.
"O aluno que aprende em cursos on-line, que tem essa predisposição para estudar dentro de um ambiente virtual e de se relacionar com seus pares dentro desse mesmo círculo, tem uma vantagem em relação a quem não tem intimidade com esses processos." A FGV On-line oferece cursos de curta e média duração, MBA e cursos gratuitos, todos no formato a distância. Somente na opção gratuita, são mais de 1,2 milhão de alunos, mas a opção pelos de curta e média distância e para o MBA tem aumentado, passando de 10.320 matriculados para 12.352, e de 868 para 1.179, respectivamente, de 2014 para 2015.
"A informação está a sua disposição: você tem de tudo na rede, mas tem que saber separar o joio do trigo, saber onde buscar informação, relacionar e transforma dados em informações, em processos de conhecimento", pontua. Para quem está cursando uma formação a distância, essas são prerrogativas fundamentais. "O aluno que está acostumado a trabalhar com mecanismos de estudo, avaliação e interação on-line está mais apto a utilizar isso no seu dia a dia de trabalho também."
Esses cursos hoje respondem à realidade do perfil dos novos estudantes. "O aluno da geração Y, que é o nosso público da especialização ou MBA, cresceu com mecanismos digitais - não é um estudante analógico, mas digital: cresceu sabendo usar a internet, redes sociais, dispositivos mobile." Segundo a professora, oferecer um curso em uma plataforma que não contemple essa característica é impensável hoje em dia.
"Esse aluno quer mais do que ficar sentado em uma sala de aula ouvindo, sem parar, um professor na sua frente. Ele está acostumado a fazer isso. Está acostumado a utilizar jogos on-line, as redes como mecanismos de comunicação, está dentro de uma realidade virtual, e isso não tem volta. É disso para mais."
Mary classifica como o maior desafio das instituições de ensino acompanhar o desenvolvimento cada vez mais veloz da tecnologia. "As próximas gerações vão lidar cada vez mais facilmente com tecnologia. Se a gente não insere tecnologia nos processos educacionais, a grande questão é como atenderemos as novas necessidades geradas por alunos com esse novo perfil?", questiona.

Instituições particulares crescem com aposta na modalidade

Dos mais de um milhão de alunos matriculados em instituições da rede Kroton Educacional, um dos maiores grupos do segmento no Brasil, quase 600 mil são dos cursos na modalidade a distância. O percentual expressivo de optantes pelos cursos oferecidos on-line é reflexo de um movimento que já considerado sem volta.
"Se pegarmos os últimos 10 anos, as taxas de crescimento do EaD são maiores do que as do ensino presencial", sinaliza o vice-presidente de Graduação EaD e Polos da Kroton, Roberto Valério. "Entre 2003 a 2014, a taxa de crescimento anual da EaD é de cerca de 35%, enquanto a do ensino presencial é de mais ou menos 25%", acrescenta. O que sustenta a média de crescimento da modalidade é a credibilidade cada vez maior.
Com a disseminação da metodologia do EaD o preconceito contra esse segmento, que era mais evidente até cerca de cinco anos, vem sendo derrubado, fortalecendo cada vez mais negócios na área. "Boa parte dos alunos do EaD tem notas no Enade maior do que o do presencial", comprova Valério, demonstrando que o conhecimento não perde em qualidade.
Ele cita que "a infraestrutura está se desenvolvendo, mais pessoas conseguem ter uma boa experiência de estudo". Além disso, a instalação de polos de apoio em diversas regiões em que há pouca ou nenhuma oferta em cursos presenciais amplia a atratividade do modelo de educação.
Outro grupo educacional que cresce com foco na modalidade EaD é a Estácio Participações. Na divulgação de resultados de 2015, a rede, que tem mais de 500 mil alunos (mais de 133 mil só no EaD), demonstrou, novamente, que a satisfação dos estudantes on-line é maior do que a dos que estão matriculados em cursos presenciais. Desde 2013, o grupo de discentes revela maior satisfação com a modalidade a distância: em 2013, o nível era de 72%, passou para 77% em 2014 e chegou a 79% no ano passado. Os cursos presenciais, no mesmo período, obtiveram satisfação de 68%, 73% e 75%. Um dos focos de médio prazo do grupo Estácio, com planos para 2020, é investir em inovação, com o desenvolvimento de produtos híbridos e novas ferramentas.
Um dos desafios que as instituições terão que enfrentar até lá é reduzir o número de evasões. Os cursos a distância ainda têm uma margem de formandos menor do que a dos cursos presenciais. Valério credita o fenômeno ao desafio que os próprios alunos enfrentam na construção de um modelo de autoconhecimento.
A ausência de um grupo, por exemplo, tem grande interferência nesse sentido. "Quando se está em grupo, há incentivo, e isso leva ao avanço no curso." Por isso, o estudante precisa saber estudar sozinho e se automotivar. Já os cursos têm que convergir para um modelo que promova cada vez mais a interação. De acordo com o Censo EaD 2014, realizado pela Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed), para maioria das instituições que participaram do levantamento, o maior obstáculo enfrentado foi a evasão, cuja taxa média em 2014 foi de até 25% nas diferentes modalidades EaD. A falta de tempo para estudar ou participar do curso é apontada como principal motivo para as desistências.