Após ser ameaçado de passar por um processo público de expulsão do PT caso insista em provocar constrangimentos ao partido ao assumir protagonismo no Senado, o senador Delcídio Amaral (suspenso do PT), que foi para a prisão domiciliar na última sexta-feira, recuou de sua estratégia inicial de retomar seu mandato esta semana como um "trator". Ontem, assessores do senador avisaram a petistas que ele desistiu de brigar para se manter na presidência da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) e que deve se focar em sua defesa, a exemplo do que defenderam seus colegas nos últimos dias.
Delcídio sinalizou, ainda, que cogita tirar uma licença por período inferior a 120 dias enquanto se dedica a se defender das acusações de que é alvo. Ele foi preso, no dia 25 de novembro, a pedido da Procuradoria-Geral da República, e com autorização do Supremo Tribunal Federal (STF), sob suspeita de tentar atrapalhar as investigações da Operação Lava Jato. O maior temor do senador é perder o foro privilegiado e cair nas mãos do juiz Sergio Moro, na Justiça Federal do Paraná. Com a licença, ele manteria o mandato e o foro privilegiado e, ao sair dos holofotes, esvaziaria as pressões dos colegas, o que poderia ajudá-lo a escapar da cassação no Conselho de Ética.
O recuo de Delcídio foi precedido de uma intensa operação por parte da cúpula do PT durante o fim de semana. Até sexta-feira, quando conversou com interlocutores, o senador havia mandado recados de que pretendia retornar ao Senado de "cabeça erguida", com a retomada da presidência da CAE, e que não aceitaria ter seu mandato cassado no processo que sofre no Conselho de Ética.
No sábado, dirigentes do PT entraram em campo para comunicar a Delcídio que sua postura estava contrariando o partido, e que sua expulsão dependeria da forma como irá se portar daqui em diante. A filiação do senador está suspensa desde dezembro, e há um processo disciplinar para investigar sua conduta, que pode culminar na sua expulsão. Se suas atitudes provocarem constrangimentos maiores ao PT, o resultado será sua expulsão. "Foi avisado a Delcídio que, caso ele mantenha o pé no acelerador, o PT fará o mesmo e ele ficará sozinho. Por enquanto, ele está apenas suspenso do PT, mas isso pode se tornar um processo de expulsão com toda a pompa e circunstância. Não interessa a ele passar por essa execração pública", afirma um petista.
Após receber as mensagens da cúpula petista, o senador avisou, por meio de seus assessores, que está disposto a formalizar sua renúncia à presidência da CAE na quarta-feira, quando a comissão irá se reunir e deverá eleger a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) para o cargo. A decisão, porém, ainda não foi comunicada oficialmente à bancada do partido, nem à Mesa Diretora do Senado.
A bancada do PT já apresentou ofício pedindo a substituição de Delcídio no comando da CAE, e o temor é que o senador crie um fato político ao tentar retomar o posto, o que seria um constrangimento para Gleisi Hoffmann e para o partido. O líder do PT, senador Humberto Costa, que conversou com Delcídio na sexta-feira por telefone, irá se reunir com o correligionário no início desta semana para tratar o tema. Interlocutores de Delcídio se queixaram da forma como o assunto foi conduzido e expuseram sua contrariedade com o fato de o partido ter tomado a decisão sem consultá-lo.
"O ideal era fazer tudo conversado, e não como uma imposição. Teria que fazer combinado, mas o PT decidiu fazer isso sem consultá-lo. A saída dele da prisão atrapalhou os planos de muita gente", afirma um auxiliar do senador.
A volta do senador está provocando constrangimento generalizado no Senado, mas especialmente no PT. Durante o fim de semana, integrantes do partido conversaram, de forma reservada, sobre o que consideram uma ausência de "condições morais" por parte de Delcídio para exercer seu mandato da mesma forma que fazia antes de ser preso. Além de presidir a CAE, Delcídio era líder do governo no Senado e tinha papel de destaque nas discussões da Casa.
Partidos da base aliada e da oposição avaliam que permanência do senador desgasta a Casa
Lideranças de partidos da base e da oposição também avaliaram que o clima para a permanência de Delcídio Amaral (suspenso do PT) no Senado é ruim e defenderam que ele tire uma licença para evitar ser cassado. Mesmo tendo enviado mensagens de que não entrará na briga pelo comando da Comissão de Assuntos econômicos (CAE), Delcídio reforçou a interlocutores que pretende fazer um corpo a corpo com os senadores para defender seu mandato, e evitar perder o foro privilegiado. Alguns senadores disseram ter interpretado recados de Delcídio como uma pressão para que não cassem seu mandato. Segundo relatos, o petista teria dito a interlocutores ter muitas informações sobre as operações na Petrobras, o que foi visto como um aviso de que pode decidir falar e comprometer colegas caso fique isolado.Delcídio Amaral foi preso em 25 de novembro, depois de ser acusado de tramar a manipulação da delação e a fuga do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró. Em conversa gravada por Bernardo Cerveró, filho do ex-diretor da Petrobras, o senador promete falar com ministros do STF para relaxar a prisão de Cerveró. Diz ainda que ele poderia fugir para a Espanha. Pelas tratativas, a fuga teria entre seus patrocinadores o banqueiro André Esteves, dono do BTG Pactual.Na última sexta-feira, depois de passar 85 dias detido em dependências da Polícia Federal e da Polícia Militar, o senador foi solto após ser autorizado pelo ministro do Supremo Teori Zavascki a responder as acusações que pesam contra ele na Operação Lava Jato em prisão domiciliar. No despacho, Teori autorizou Delcídio a trabalhar no Senado, mas com a obrigação de se recolher em casa à noite e em dias de folga.