Investigações da Procuradoria da República no Distrito Federal revelam, segundo a revista Época, que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez tráfico de influência em favor da Odebrecht na Venezuela. Fazendo a ressalva que as investigações "ainda não são definitivas", a reportagem da revista diz que o ex-presidente atuou como operador da empreiteira em 2011, quando já havia deixado o governo, para destravar e agilizar contratos no exterior financiados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (Bndes).
Procuradores de Brasília apuram as contratações do ex-presidente pela Odebrecht para dar palestras no exterior. Investigada na Operação Lava Jato, a Odebrecht, de acordo com relatórios obtidos pela revista Época, obteve US$ 7,4 bilhões em 52 contratos de financiamentos pelo Bndes para obras no exterior. No mesmo período, a empresa pagou para Lula dar palestras em diversos países.
Um dos exemplos citados na investigação do Ministério Público Federal é um pagamento que a Venezuela devia à Odebrecht. Para receber, a empresa pagou uma viagem de Lula ao país. O ex-presidente emitiu uma notano valor de R$ 359.281,44, declarando que prestou serviços como palestrante para a companhia na Venezuela.
Para os investigadores, segundo a revista, "a construtora valeu-se da influência e do trânsito do ex-presidente para poder obter o pagamento de quantia recebida pelo país do Bndes". Em um dos despachos da investigação, os procuradores chegam a falar em "modus operandi criminoso" para obtenção de financiamentos públicos.
A investigação também detalha a participação de Luciano Coutinho, presidente do Bndes, no caso. Ao analisar a agenda dele, o MPF diz que Coutinho teve vários encontro com o ex-presidente na época dos fatos investigados. A maior parte destes encontros ocorreu na sede do Instituto Lula, em São Paulo, e foram nomeados, segundo a investigação, como "Conversas sobre a conjuntura econômica", mas alguns não constavam da agenda oficial do presidente do Bndes.
Para a revista, a Odebrecht disse que "prestou as informações solicitadas pelo Ministério Público Federal em inquérito que corre em sigilo e reafirma que mantém uma relação institucional e transparente com o ex-presidente Lula". A assessoria do Bndes, por sua vez, disse que Luciano Coutinho discutiu apenas cenários econômicos nas reuniões que teve no Instituto Lula. E o ex-presidente Lula não quis se manifestar.
Defesa do ex-presidente vai entrar com ação contra procuradores por 'abusos e ilegalidades'
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai denunciar a Procuradoria da República no Distrito Federal (DF) ao Conselho Nacional do Ministério Público e ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot. A defesa do petista afirma que os procuradores do DF cometeram "abusos e ilegalidades contra o ex-presidente".
A reação de Lula ocorre depois que a revista Época revelou, na edição deste fim de semana, que os investigadores concluíram que o petista fez tráfico de influência em favor da construtora Odebrecht. "A gravidade dos fatos é gritante, razão pela qual os advogados do ex-presidente Lula irão, mais uma vez, levar a situação ao conhecimento do procurador-geral da República - que até hoje não deu resposta às ilegalidades antes denunciadas - e ao Conselho Nacional do Ministério Público, que necessita cumprir as suas funções constitucionais e impedir que continue havendo o vazamento de informações sigilosas sonegadas aos advogados", afirma a nota assinada pelo advogado Cristiano Zanin Martins. De acordo com a revista, os procuradores concluíram que "havia um modus operandi criminoso na atuação de Lula, dos executivos da Odebrecht e dos diretores do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (Bndes) para liberar dinheiro do banco à empreiteira".
A Época diz ainda que "o contrato de palestras entre uma empresa de Lula e a Odebrecht serviu para 'dar aparência de legalidade' ao tráfico de influência". Os procuradores também identificaram que o Bndes aprovava com velocidade incomum - até 49% acima da média - os financiamentos que envolviam gestões de Lula e interessavam à Odebrecht. Em nota divulgada pelo Instituto Lula, a defesa do ex-presidente contesta a reportagem. "O único crime evidenciado na reportagem é o vazamento ilegal de um procedimento sigiloso, ao qual os advogados de Lula tiveram acesso negado, também de forma ilegal", diz a defesa de Lula.