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Geral

- Publicada em 07 de Fevereiro de 2016 às 18:51

Abram alas: o bloco da limpeza está nas ruas no Carnaval de Porto Alegre

Clóvis Machado tem 29 anos de Cootravipa, onde atua na manutenção

Clóvis Machado tem 29 anos de Cootravipa, onde atua na manutenção


Patrícia Comunello/JC
Não tem Porto Seco, passarela oficial da folia em Porto Alegre. E não tem praia. Os dois concorrentes ficaram para trás. No Carnaval de 2016, ninguém supera o bloco da limpeza contra a montanha de destroços de árvores gerados pela supertempestade, como foi definida pelos serviços de meteorologia, de 29 de janeiro. E quando chegam os componentes do bloco da Cootravipa, cooperativa de trabalho que presta serviço ao Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU), a festa se instaura.
Não tem Porto Seco, passarela oficial da folia em Porto Alegre. E não tem praia. Os dois concorrentes ficaram para trás. No Carnaval de 2016, ninguém supera o bloco da limpeza contra a montanha de destroços de árvores gerados pela supertempestade, como foi definida pelos serviços de meteorologia, de 29 de janeiro. E quando chegam os componentes do bloco da Cootravipa, cooperativa de trabalho que presta serviço ao Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU), a festa se instaura.
“Tem de aproveitar que eles estão aqui para deixar tudo limpinho”, empolga-se Maria Aparecida Prates Santana, a Cida, como é conhecida na vizinhança da rua Gomes Jardim, miolão do bairro Santana, próximo à avenida Princesa Isabel. Neste sábado de céu com sol e mesclas de nuvens e com muita gente em casa (que não encarou filas homéricas na Freeway), eis que o bloco Cootravipa/DMLU invade a rua. O barulho de caminhões, retroescavadeira e motosserra atiçam a atenção da região. É hora de pegar seus lugares!
Os moradores entram no ritmo, varrendo, varrendo sem parar, apoiando o bloco oficial dos limpadores. “Achei que no Carnaval poderiam aparecer, já que é feriado, tem menos movimento”, acerta Cida, que se rendeu à agitação. Vassoura em punho, e a ala da varrição formada pela vizinhança vai mostrando que está afiada.
“Daqui a pouco vou ver meu time, tem jogo no Beira-Rio”, previne João Carlos Mendonça. “Estou só fazendo um aquecimento”, descontrai Mendonça, que desceu do apartamento do seu edifício e caiu na folia da limpeza. Cida e o vizinho Mendonça deram nota 10 aos foliões do trabalho pesado.
Mutirões sem parar
Os mais de 200 integrantes se revezam em jornadas estafantes. “Está cansativo, mas o pessoal não esmorece”, valoriza Carlos Flores, coordenador de sanitários do DMLU e que no Carnaval de 2016 assumiu a função de puxador das equipes de limpeza.
Sete dias depois do temporal, a Gomes Jardim e ruas vizinhas ainda mantinham aglomerados de galhos e troncos de árvores arrancadas pela força da natureza ou que tiveram de ser ceifadas ante o risco para a rede elétrica e residentes.
A vegetação passou a ser um incômodo, mesmo que o preço a pagar agora seja alto: sombra virou algo raro na rua. Das 18 árvores da quadra da Gomes Jardim, entre Domingos Crescêncio e Princesa Isabel, sete desaparecem (40%), parte arrancada no dia da tempestade e o restante pela ação das equipes de limpeza. Bem perto da estatística do Parque Marinha do Brasil, onde 50% das árvores foi estropiada pela supertempestade.
A Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Smam) fechou a conta nessa sexta-feira (5): 1.056 árvores tombaram ou tiveram galhos arrancados e troncos quebrados no Parque da Redenção, outras 930 no Marinha, e mais 50 no Harmonia. Três dos parques mais frequentados da Capital. Devido ao tamanho do estragos, a prefeitura alerta para que os moradores evitem andar pelos locais ante o risco de algum galho despencar na cabeça de alguém. O DMLU juntou, em sete dias de mutirões, 3.570 toneladas de materiais.
Percussão e bom humor
Mas voltando ao autêntico Carnaval de rua de 2016... Puxando a turma, fantasiado de operador de motosserra, Clóvis Machado, 29 anos de Cootravipa onde atua na manutenção, mostra preparo físico no comando do equipamento de percussão (graças ao barulho ininterrupto). O bloco, portanto, dispensa bateria.
“Estamos nessa rotina desde o dia 30, das 8h às 17h, nesse sábado (6) e domingo (7) continua o mutirão e vamos trabalhar segunda e terça, de feriado!”, conta Machado. "A rotina é chegar em casa dar um beijo nas crianças e na mulher e voltar para trabalhar de novo." O percussionista da limpeza não perde o bom humor, afinal é tempo de folia.
Machado diz que a motosserra não é tão pesada. Mas operar por quase 10 horas diárias com o aparelho já reforçou a musculatura dos braços. "Vira academia”, brinca, depois segue abrindo caminho em meio aos montes de galhos e troncos na calçada. A serra afiada fraciona em pedaços menores o que um dia foi uma arvore de mais de 10 metros de altura.
O operador da retroescavadeira chega e comanda a evolução: a grande pá engole o monte, ergue os entulhos como um troféu e conduz para lotar mais um caminhão. A equipe chega a encher 40 caçambas por dia. No fim de semana, o bloco com 15 integrantes desfilou na região do Santana, e há mais 14 como este atuando em outras vias públicas da Capital.
Flores diz que a programação das equipes está definida até a Quarta-feira de Cinzas. “Estamos priorizando as regiões com mais estragos. Vamos ver depois como vai continuar o trabalho.”
Bloco dos garis termina serviço
A professora Romilda Monteiro e Silva atuou no grupo de apoio. Forneceu água bem gelada aos varredores. “A gente tem de ajudar. Eles trabalham muito coitados”, sensibiliza-se Romilda. “Estávamos esperando por eles há dias!” A moradora tem motivos de sobra para querer ver tudo limpo. Ela gastou R$ 740,00 só para religar a luz na parte interna da moradia, depois de ficar cinco dias às escuras.
No fim da tarde de sábado, o bloco se retirou. Esgotou o tempo do expediente. Romilda não escondeu uma fração de tristeza. Na calçada em frente à sua residência, permaneceu um amontoado de folhas que já emolduraram uma árvore. “Eles (do bloco da Cootravipa) já foram e não terminaram de juntar tudo. Pena”, desabafa a professora.
Mas Romilda não precisa esmorecer. O coordenador do serviço pelo DMLU assegurou que os integrantes do bloco especializados na varrição voltam neste domingo. “Precisa juntar as folhas e galhos. Senão já viu né: na próxima chuva, vai tudo para os bueiros”, acautela-se Flores. A atração, então, está garantida com o bloco dos garis. Até porque o Carnaval só termina na terça-feira.
Porto Alegre: Bloco da limpeza vai às ruas  
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