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Abram alas: o bloco da limpeza está nas ruas no Carnaval de Porto Alegre
Clóvis Machado tem 29 anos de Cootravipa, onde atua na manutenção
Patrícia Comunello/JC
Não tem Porto Seco, passarela oficial da folia em Porto Alegre. E não tem praia. Os dois concorrentes ficaram para trás. No Carnaval de 2016, ninguém supera o bloco da limpeza contra a montanha de destroços de árvores gerados pela supertempestade, como foi definida pelos serviços de meteorologia, de 29 de janeiro. E quando chegam os componentes do bloco da Cootravipa, cooperativa de trabalho que presta serviço ao Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU), a festa se instaura.
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Não tem Porto Seco, passarela oficial da folia em Porto Alegre. E não tem praia. Os dois concorrentes ficaram para trás. No Carnaval de 2016, ninguém supera o bloco da limpeza contra a montanha de destroços de árvores gerados pela supertempestade, como foi definida pelos serviços de meteorologia, de 29 de janeiro. E quando chegam os componentes do bloco da Cootravipa, cooperativa de trabalho que presta serviço ao Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU), a festa se instaura.
“Tem de aproveitar que eles estão aqui para deixar tudo limpinho”, empolga-se Maria Aparecida Prates Santana, a Cida, como é conhecida na vizinhança da rua Gomes Jardim, miolão do bairro Santana, próximo à avenida Princesa Isabel. Neste sábado de céu com sol e mesclas de nuvens e com muita gente em casa (que não encarou filas homéricas na Freeway), eis que o bloco Cootravipa/DMLU invade a rua. O barulho de caminhões, retroescavadeira e motosserra atiçam a atenção da região. É hora de pegar seus lugares!
Os moradores entram no ritmo, varrendo, varrendo sem parar, apoiando o bloco oficial dos limpadores. “Achei que no Carnaval poderiam aparecer, já que é feriado, tem menos movimento”, acerta Cida, que se rendeu à agitação. Vassoura em punho, e a ala da varrição formada pela vizinhança vai mostrando que está afiada.
“Daqui a pouco vou ver meu time, tem jogo no Beira-Rio”, previne João Carlos Mendonça. “Estou só fazendo um aquecimento”, descontrai Mendonça, que desceu do apartamento do seu edifício e caiu na folia da limpeza. Cida e o vizinho Mendonça deram nota 10 aos foliões do trabalho pesado.
Mutirões sem parar
Os mais de 200 integrantes se revezam em jornadas estafantes. “Está cansativo, mas o pessoal não esmorece”, valoriza Carlos Flores, coordenador de sanitários do DMLU e que no Carnaval de 2016 assumiu a função de puxador das equipes de limpeza.
Sete dias depois do temporal, a Gomes Jardim e ruas vizinhas ainda mantinham aglomerados de galhos e troncos de árvores arrancadas pela força da natureza ou que tiveram de ser ceifadas ante o risco para a rede elétrica e residentes.
A vegetação passou a ser um incômodo, mesmo que o preço a pagar agora seja alto: sombra virou algo raro na rua. Das 18 árvores da quadra da Gomes Jardim, entre Domingos Crescêncio e Princesa Isabel, sete desaparecem (40%), parte arrancada no dia da tempestade e o restante pela ação das equipes de limpeza. Bem perto da estatística do Parque Marinha do Brasil, onde 50% das árvores foi estropiada pela supertempestade.
A Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Smam) fechou a conta nessa sexta-feira (5): 1.056 árvores tombaram ou tiveram galhos arrancados e troncos quebrados no Parque da Redenção, outras 930 no Marinha, e mais 50 no Harmonia. Três dos parques mais frequentados da Capital. Devido ao tamanho do estragos, a prefeitura alerta para que os moradores evitem andar pelos locais ante o risco de algum galho despencar na cabeça de alguém. O DMLU juntou, em sete dias de mutirões, 3.570 toneladas de materiais.
Percussão e bom humor
Mas voltando ao autêntico Carnaval de rua de 2016... Puxando a turma, fantasiado de operador de motosserra, Clóvis Machado, 29 anos de Cootravipa onde atua na manutenção, mostra preparo físico no comando do equipamento de percussão (graças ao barulho ininterrupto). O bloco, portanto, dispensa bateria.
“Estamos nessa rotina desde o dia 30, das 8h às 17h, nesse sábado (6) e domingo (7) continua o mutirão e vamos trabalhar segunda e terça, de feriado!”, conta Machado. "A rotina é chegar em casa dar um beijo nas crianças e na mulher e voltar para trabalhar de novo." O percussionista da limpeza não perde o bom humor, afinal é tempo de folia.
Machado diz que a motosserra não é tão pesada. Mas operar por quase 10 horas diárias com o aparelho já reforçou a musculatura dos braços. "Vira academia”, brinca, depois segue abrindo caminho em meio aos montes de galhos e troncos na calçada. A serra afiada fraciona em pedaços menores o que um dia foi uma arvore de mais de 10 metros de altura.
O operador da retroescavadeira chega e comanda a evolução: a grande pá engole o monte, ergue os entulhos como um troféu e conduz para lotar mais um caminhão. A equipe chega a encher 40 caçambas por dia. No fim de semana, o bloco com 15 integrantes desfilou na região do Santana, e há mais 14 como este atuando em outras vias públicas da Capital.
Flores diz que a programação das equipes está definida até a Quarta-feira de Cinzas. “Estamos priorizando as regiões com mais estragos. Vamos ver depois como vai continuar o trabalho.”
Bloco dos garis termina serviço
A professora Romilda Monteiro e Silva atuou no grupo de apoio. Forneceu água bem gelada aos varredores. “A gente tem de ajudar. Eles trabalham muito coitados”, sensibiliza-se Romilda. “Estávamos esperando por eles há dias!” A moradora tem motivos de sobra para querer ver tudo limpo. Ela gastou R$ 740,00 só para religar a luz na parte interna da moradia, depois de ficar cinco dias às escuras.
No fim da tarde de sábado, o bloco se retirou. Esgotou o tempo do expediente. Romilda não escondeu uma fração de tristeza. Na calçada em frente à sua residência, permaneceu um amontoado de folhas que já emolduraram uma árvore. “Eles (do bloco da Cootravipa) já foram e não terminaram de juntar tudo. Pena”, desabafa a professora.
Mas Romilda não precisa esmorecer. O coordenador do serviço pelo DMLU assegurou que os integrantes do bloco especializados na varrição voltam neste domingo. “Precisa juntar as folhas e galhos. Senão já viu né: na próxima chuva, vai tudo para os bueiros”, acautela-se Flores. A atração, então, está garantida com o bloco dos garis. Até porque o Carnaval só termina na terça-feira.