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Consumo

- Publicada em 14 de Fevereiro de 2016 às 19:41

Dívida no rotativo do cartão de crédito dispara

 CARTÃO DE CRÉDITO E CARTÃO DE DÉBITO.

CARTÃO DE CRÉDITO E CARTÃO DE DÉBITO.


MARCO QUINTANA/JC
A dívida dos brasileiros no rotativo do cartão de crédito engordou em 2015. O saldo dessa modalidade - isto é, a soma de todos os valores devidos - cresceu 21,2% no ano passado e atingiu R$ 34,5 bilhões, segundo o Banco Central (BC). O ritmo de crescimento é praticamente o dobro do verificado em 2014, quando avançou 11,4%. De acordo com o BC, o aumento pode ser explicado pela intensificação do uso do rotativo e a incorporação de juros - que atingiram o patamar recorde de 431,4% ao ano.
A dívida dos brasileiros no rotativo do cartão de crédito engordou em 2015. O saldo dessa modalidade - isto é, a soma de todos os valores devidos - cresceu 21,2% no ano passado e atingiu R$ 34,5 bilhões, segundo o Banco Central (BC). O ritmo de crescimento é praticamente o dobro do verificado em 2014, quando avançou 11,4%. De acordo com o BC, o aumento pode ser explicado pela intensificação do uso do rotativo e a incorporação de juros - que atingiram o patamar recorde de 431,4% ao ano.
O gatilho do rotativo ocorre quando o consumidor não paga o valor integral da fatura. Se quitar alguma quantia entre o pagamento mínimo exigido e o total, o consumidor não é considerado inadimplente, mas fica sujeito a uma taxa altíssima de juros. O valor que restou é computado como um crédito novo - ou concessão, pela nomenclatura do BC. Neste detalhe, outro dado desperta atenção: a concessão do rotativo está crescendo a um ritmo bem menor, de 1,6%.
Os dados não permitem quantificar o número de pessoas inadimplentes no cartão. Mas o descolamento entre o aumento da dívida (saldo) e a concessão indica que o juro recorde está criando um contingente de superendividados no Brasil.
"Se o consumidor carregar a dívida do rotativo por muito tempo e não trocá-la por outra mais barata, acaba ficando com um débito impossível de se pagar", afirma Marianne Hanson, economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC). Não por acaso, a inadimplência do rotativo é a maior entre todas as linhas de crédito disponíveis no País: 40,3%.
"A falta de conhecimento de outras opções acaba fazendo com que a pessoa opte pelo refinanciamento do rotativo", diz Eduardo Tambellini, sócio da consultoria GoOn, especializada na gestão de risco de crédito. Para escapar dessa espiral de juros, o consumidor pode procurar, no próprio banco, linhas de crédito mais baratas. O consignado, que desconta o valor das parcelas na folha de pagamento, cobra 28,8% ao ano pelo dinheiro emprestado, por exemplo.
Um levantamento da CNC mostra que, em janeiro, o cartão de crédito foi apontado como a principal dívida por 78,6% das famílias, o maior percentual desde o início da pesquisa, em 2010. "Essa percepção dos consumidores se deve à preocupação com os juros", afirma Marianne. A economista da CNC lembra que a popularização do cartão de crédito tornou o instrumento um meio de pagamento e de bancarização, principalmente entre a camada mais pobre da população. "Houve, nos últimos anos, uma redução de outros meios, como os carnês e cheque pré-datado."
Entre aqueles que recebem até 10 salários-mínimos, o cartão é apontado como principal dívida por 80%, enquanto, na camada superior, com renda de mais de 10 salários-mínimos, o percentual cai para 72,2%. Marianne lembra, contudo, que os consumidores que escolhem essa alternativa para contas do dia a dia são potenciais tomadores de crédito no rotativo em momentos como o atual, de aumento de inflação, queda de rendimento e disparada do desemprego. "O saldo do cartão de crédito à vista, em que não há incidência de juros, e o do parcelado ainda são maiores do que o rotativo", afirma Marianne.

Associação de consumidores defende redução de taxas cobradas por bancos

Os especialistas lembram que os consumidores devem evitar a aparente facilidade do rotativo. "As faturas destacam a possibilidade do pagamento mínimo, em geral 15% a 20% do total, sem explicações para o consumidor sobre as implicações dessa escolha", afirma Hessia Costilla, economista da associação de consumidores Proteste.
O forte aumento dos juros motivou a Proteste a encampar uma iniciativa para reduzir as taxas cobradas pelos bancos. Em dezembro, a entidade enviou um ofício ao BC sugerindo um teto para o juro do rotativo. Pela proposta, os bancos poderiam cobrar, no máximo, o dobro da taxa do Certificado de Depósitos Interfinanceiros (CDI). "Um mercado de livre concorrência funciona melhor do que um que as taxas são reguladas. Mas, em situações emergenciais como esta, limitar o juro do rotativo pode ser uma solução", diz Hessia. Ela cita exemplos internacionais, como o de Portugal, que adotou medida semelhante e obteve sucesso na redução dos juros.