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Cinema

- Publicada em 11 de Fevereiro de 2016 às 22:31

O vingador

Hélio Nascimento
Desde que realizou, em 2000, Amores brutos, o mexicano Alejandro González Iñárritu tem merecido a atenção que a crítica e parte expressiva do público têm a ele dedicado. Aquele filme chegou a ser saudado por alguns como uma espécie de abertura para uma nova fase do cinema. O filme impressionou pelo realismo de algumas cenas, e a repercussão que alcançou permitiu ao cineasta uma carreira internacional e até mesmo conseguir o Oscar de filme e direção para Birdman, realizado em 2014. Embora outros diretores latino-americanos tenham feito filmes nos Estados Unidos, Iñárritu é o primeiro a ser amplamente vitorioso, obtendo um lugar entre nomes como Billy Wilder, William Wyler, Alfred Hitchcock, Fritz Lang e Charles Chaplin, que lá fizeram carreira e ergueram obras que permanecerão para sempre em lugar destacado na História do Cinema. Recentemente, outro mexicano, Alfonso Cuarón, também se colocou entre os imigrantes que contribuíram para a riqueza daquela cinematografia com Gravidade. Há muitos outros, entre eles Jean Renoir, que não conseguiu na América o nível de A grande ilusão e A regra do jogo. O curioso é que até da então União Soviética vieram nomes importantes, como Serguei Eisenstein, que, na década de 1930, não se entendeu com a Paramount e foi para o México, e Andrei Konchalovski, que, nos anos de 1970, trabalhou em Hollywood, chegando a realizar um filme com Sylvester Stallone, Tango and Kash, além de títulos significativos, como Expresso para o inferno.
Desde que realizou, em 2000, Amores brutos, o mexicano Alejandro González Iñárritu tem merecido a atenção que a crítica e parte expressiva do público têm a ele dedicado. Aquele filme chegou a ser saudado por alguns como uma espécie de abertura para uma nova fase do cinema. O filme impressionou pelo realismo de algumas cenas, e a repercussão que alcançou permitiu ao cineasta uma carreira internacional e até mesmo conseguir o Oscar de filme e direção para Birdman, realizado em 2014. Embora outros diretores latino-americanos tenham feito filmes nos Estados Unidos, Iñárritu é o primeiro a ser amplamente vitorioso, obtendo um lugar entre nomes como Billy Wilder, William Wyler, Alfred Hitchcock, Fritz Lang e Charles Chaplin, que lá fizeram carreira e ergueram obras que permanecerão para sempre em lugar destacado na História do Cinema. Recentemente, outro mexicano, Alfonso Cuarón, também se colocou entre os imigrantes que contribuíram para a riqueza daquela cinematografia com Gravidade. Há muitos outros, entre eles Jean Renoir, que não conseguiu na América o nível de A grande ilusão e A regra do jogo. O curioso é que até da então União Soviética vieram nomes importantes, como Serguei Eisenstein, que, na década de 1930, não se entendeu com a Paramount e foi para o México, e Andrei Konchalovski, que, nos anos de 1970, trabalhou em Hollywood, chegando a realizar um filme com Sylvester Stallone, Tango and Kash, além de títulos significativos, como Expresso para o inferno.
O diretor de O regresso adotou uma forma de fazer cinema que privilegia uma espécie de realismo de choque. Ele realiza todas as cenas de uma forma a fazer com que o espectador tenha a impressão de estar assistindo um documentário. No seu filme atualmente em cartaz, ele aperfeiçoa tal técnica de filmagem e, com a cumplicidade do fotógrafo Emmanuel Lubezki, consegue realmente algumas cenas impressionantes. O filme tem se beneficiado desta característica e não há dúvida alguma sobre os resultados obtidos pelo cineasta e sua equipe de técnicos. E se trata realmente de uma grande equipe. É só acompanhar o desfile dos créditos finais para que o espectador constate que foram centenas os especialistas em efeitos especiais e dezenas os substitutos dos atores principais em várias cenas. Os resultados obtidos são realmente impressionantes. A sequência inicial, por exemplo, quando os caçadores são atacados pelos índios, surpreende o espectador em cada plano filmado, tanto pelo inesperado como pela brutalidade focalizada. E a integração de cada figura com o cenário tem aquela perfeição que contribui para o impacto da obra. O ataque da fêmea de urso, a cena mais célebre do filme, não é o único momento no qual a habilidade de Iñárritu e seu gosto por cenas de impacto se manifestam claramente.
A história do caçador Hugh Grass já havia sido filmada em 1971 por Richard C. Sarafian, com Richard Harris no papel agora vivido por Leonard DiCaprio, no filme aqui intitulado Fúria selvagem. Na época, os recursos técnicos ainda não permitiam o realismo de agora. E talvez aí resida o problema. É o que realizador parece obcecado em chocar o espectador com cenas de impacto. Isso faz com que fique em segundo plano o tema que deveria ser o principal: o da agressividade humana gerada pela cobiça. O ataque da fera nada mais é do que o resumo simbólico de tal agressividade, sendo aquela violência o símbolo do ódio nem sempre contido do personagem vivido por Tom Hardy. A ideia da mercadoria funcionando como origem do conflito não é desenvolvida da forma como tal tema merecia. Em seu lugar, entram detalhes sobre os métodos usados pelo protagonista para sobreviver. E, nesta jornada de um vingador em busca de justiça, há momentos em que o realizador parece estar tentando uma aproximação ao filme-poema de Terrence Malick, seja utilizando imagens do passado, seja acompanhando meditações e delírios do personagem. O novo filme de Iñárritu não compromete sua filmografia, mas não deixa de ser curioso constatar que a obsessão em focalizar a brutalidade e o primitivismo termina conduzindo o filme até o ponto em que o artificialismo seja algo facilmente percebido.
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