"É apenas rock 'n' roll, mas eu gosto". Assim cantava Mick Jagger em 1974, quando os Rolling Stones já tinham 12 anos de carreira, e assim o vocalista deve cantar nesta noite, em Porto Alegre, mais de quatro décadas depois. A maior banda de rock em atividade (ou da história?) se apresenta pela primeira vez na Capital gaúcha a partir das 21h, em show que fecha a parte brasileira da turnê latino-americana Olé Tour.
No documentário Shine a light, dirigido por Martin Scorsese em 2008, Jagger aparece em imagens de arquivo dos anos 1960, projetando "mais um" ano de carreira. A história, entretanto, prova que tanto ele quanto aqueles que acreditavam que os Stones eram algo passageiro estavam errados. De lá para cá, os artistas despertaram paixão, se consolidaram como símbolo cultural, movimentaram (e ainda movimentam) cifras estratosféricas e deixaram um legado discográfico que é até hoje referência. Relembrar a trajetória do rock - seja como fenômeno de massa ou isoladamente como música - e não mencionar os londrinos é gafe, no mínimo.
Com cerca de 30 discos de estúdio ao longo desse percurso, os Stones não só integraram a invasão britânica como sobreviveram aos excessos do "sexo, drogas e rock 'n'roll" e trilharam um caminho que culminou em megaespectáculos como o que o Beira-Rio recebe hoje. Se a relevância dos discos das décadas mais recentes pode ser discutida, isso não apaga o passado nem a entrega que os setentões Jagger, Keith Richards (guitarra), Ron Wood (guitarra) e Charlie Watts (bateria) ainda assumem quando sobem ao palco.
Grande parte da importância de ver o grupo ao vivo, afinal, está justamente em sua formação: enquanto outras tantas bandas que marcaram a cultura popular se desfizeram ou perderam integrantes-chave, a essência dos Stones é a mesma há décadas. Dos quatro que vêm à Porto Alegre, apenas Ron Wood não está na banda desde o início, mas juntou-se aos demais ainda na década de 1970.
O passado desempenha papel principal na turnê que o quarteto trouxe à América Latina. Caso o modelo de setlist adotado nos últimos shows seja repetido, o público poderá ver os músicos celebrando o melhor de sua carreira - na qual também exploraram o blues, country e variações do rock. No segundo dos dois shows que fizeram na semana passada em São Paulo, por exemplo (vejo o setlist ao lado), a maioria das canções interpretadas foram retiradas de discos da primeira e mais produtiva década de atividade da banda.
Entre os álbuns lembrados no setlist estão clássicos como Beggars banquet (1968), Let it bleed (1969) Sticky fingers (1971) e Exile on Main St. (1972) - um repertório que, para parafrasear Start me up, deve ser capaz de "fazer um adulto chorar".