Luiza Fritzen
Um quarto de 10 m² representa o mundo todo para Jack, um garotinho de 5 anos. O universo dele é composto por um abajur, mesa e cadeiras, móveis do cômodo, os desenhos que passam na televisão e sua mãe, que ele carinhosamente chama de "Ma". Em um pequeno espaço de paredes sujas e pouca higiene, os dois brincam, comem, tomam banho, dormem e desenvolvem a relação familiar, sendo um dos grandes trunfos responsável por cativar o público logo no início do filme O quarto de Jack.
Sem janelas e privado de uma infância tradicional, o menino observa o céu através de uma claraboia. O que parece tão banal aos nossos olhos, como as folhas de uma árvore, as nuvens ou um cachorro, se tornam combustível para os sonhos da criança que dorme dentro de um armário e imagina como são as coisas mágicas fora da caixa em que vive. Contudo, o que Jack não sabe é que a peça em que ele se sente completamente seguro e protegido é, também, a prisão onde a mãe tem sido mantida contra a sua vontade, desde que foi sequestrada, aos 17 anos.
A obra do irlandês Lenny Abrahamson (de Frank) se revela, conforme os minutos avançam, uma trama triste, que intriga e emociona o espectador. O longa foi adaptado do livro Room, de Emma Donoghue, que também assina o roteiro do filme. Ao misturar angústia e revolta, o título toca de forma crível e efetiva em sentimentos presentes no cotidiano de quem o assiste, como medo, culpa, egoísmo e ansiedade.
Indicada a quatro Oscars, incluindo o de melhor filme, a narrativa merece destaque pelas atuações e o entrosamento entre os atores Brie Larson (Anjos da lei) e Jacob Tremblay, que, com apenas 9 anos, é considerado uma das grandes revelações de Hollywood. Por meio de olhares, carinhos, gritos e choros, a relação mãe-filho torna-se real e transmite as aflições maternais sobre o futuro da criança. A cumplicidade entre os dois foi tanta que Larson ganhou o Globo de Ouro de melhor atriz em drama e é uma das candidatas ao Oscar de melhor atriz, enquanto Tremblay recebeu o Critics' Choice Movie Award na categoria de melhor ator juvenil. Vale destacar que, para viver a personagem, a atriz isolou-se por um mês e seguiu uma rigorosa dieta, a fim de ter uma noção do que Ma e Jack vivenciaram.
Há sete anos longe da família, Joy, como descobre-se depois ser o nome da mãe, tenta criar o filho, apesar das dificuldades, sem que ele compreenda o que de fato está acontecendo. Para isso, ela inventa histórias sobre o mundo fora do quarto. Quando a ilusão e a vida que eles levam dentro da peça torna-se insustentável, a mãe planeja a fuga do cativeiro. O interessante é que o longa não perde muito tempo nesse aspecto e dá enfoque à vida nova que os espera e como será para Jack entrar em contato com outras pessoas, a luz do dia e os hábitos normais de uma criança da sua idade.
O suspense é então substituído pelo drama e amor familiar, que entra em cena já no reencontro de Joy com os pais. A partir disso, são colocadas em evidência as decisões que foram tomadas, o que levou ao sequestro, as mudanças ocorridas durante o desaparecimento e o que seria melhor para a criança, se ter sido entregue para adoção ou crescer ao lado da mãe. Além disso, o espectador é tocado pela reação dos avós com o neto e com a frustração paterna de não ter sido capaz de evitar o que aconteceu com a filha.
A obra conduz à angústia de Joy, o receio de ter sido esquecida, a adolescência perdida, o isolamento e a força que ela encontra para viver ao lado do filho. Por dar mais destaque à relação materna e como a refém lida com os traumas e seus próprios demônios, O quarto de Jack deixa de lado o crime cometido e o criminoso. O sequestrador, chamado de velho Nick pelas vítimas, é responsável por trazer os alimentos e aparece apenas em visitas noturnas.
Na premiação da Academia de Hollywood, que acontece em 28 de fevereiro, o título concorre ainda nas categorias de melhor direção e roteiro adaptado. Joan Allen (Sempre ao seu lado) e William H. Macy (Jurassic Park 3) também estão no elenco interpretando os avós de Jack.