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tecnologia

- Publicada em 10 de Fevereiro de 2016 às 11:09

Criar startups robustas e globais é desafio para o Brasil

Pense em um serviço digital que você costuma usar com frequência. Ou um aplicativo que não pode faltar no smartphone. Provavelmente, foram desenvolvidos nos Estados Unidos. Facebook, WhatsApp, Youtube, GoogleMaps, Twitter, Snapchat e Netflix estão aí para confirmar essa tese.
Pense em um serviço digital que você costuma usar com frequência. Ou um aplicativo que não pode faltar no smartphone. Provavelmente, foram desenvolvidos nos Estados Unidos. Facebook, WhatsApp, Youtube, GoogleMaps, Twitter, Snapchat e Netflix estão aí para confirmar essa tese.
Em muitos desses casos, os seus fundadores já ultrapassaram a casa de US$ 1 bilhão de faturamento faz tempo. Isso sem falar no valor de mercado das operações - o Uber, por exemplo, está avaliado em US$ 80 bilhões. O mercado americano oferece o ecossistema mais propício do mundo para o nascimento e expansão de startups. Eles já fazem isso há muito tempo, possuem instituições de ensino e parques tecnológicos de ponta, investidores e ferramentas de apoio a essa cultura.
Em outras partes do planeta, também surgem companhias de base tecnológica com capacidade para se tornarem grandes. Algumas já alcançaram esse posto. Em Israel, nasceu o Waze, um dos maiores aplicativos de trânsito do mundo, que tem mais de 55 milhões usuários e foi comprado pelo Google há alguns anos por US$ 1,1 bilhão. Da Finlândia vem o serviço de música digital Spotify, que fechou mais uma rodada de investimentos em 2015 e, com isso, elevou o seu valor de mercado para US$ 8,5 bilhões. Isso não acontece por acaso. Esses mercados vêm investindo pesado, e há um bom tempo, na cultura de companhias de base tecnológica.
E o Brasil, quando conseguirá criar startups grandes e globais? "Sou uma entusiasta da nossa capacidade inventiva e tecnológica. O brasileiro é criativo, mas o País ainda não oferece as condições para que as nossas startups consigam se expandir em nível global", lamenta a líder responsável pela área de Soluções de Analytics da Deloitte, Márcia Ogawa.
Do ponto de vista conjuntural, é preciso mexer em várias peças para esse cenário mudar. Algumas envolvem a realidade particular do Brasil - o que afeta todos os empresários, e não apenas os digitais. São muitos os obstáculos. Além dos custos iniciais altos, a legislação é complexa e muda a todo momento, o que exige esforços e recursos extras. Há, ainda, questões que envolvem o próprio nível de maturidade do ciclo das startups.
Avanços importantes aconteceram nos últimos anos, ancorados por incubadoras, aceleradoras, programas governamentais de investimentos e, claro, esforço de quem quer empreender. E os resultados começam a aparecer. O Easy Taxi, por exemplo, é hoje o maior aplicativo de chamada de táxis da América Latina. Nasceu em 2011, com investimentos de US$ 77 milhões.
Outro case é o da GetNinjas, site de serviços com 120 mil profissionais cadastrados e que captou mais de R$ 47 milhões de investimento da Tiger, Monashees Capital, Kaszek Ventures e Otto Capital. "Estamos investindo em contratações e na qualificação de profissionais que tenham espírito empreendedor e queiram crescer com a gente. Parece clichê, mas uma equipe com esse perfil faz a diferença, principalmente em um momento de crescimento", declara o CEO da operação, Eduardo L'Hotellier.
O gerente de relacionamento com startups e desenvolvedores para a América Latina do Google, José Papo, considera que o Brasil precisar criar um ecossistema em que pessoas com diferentes conhecimentos e habilidades possam trocar ideias e experiências. E, mais do que isso, recebam apoio para seus projetos, seja por meio de mentorias com investidores e empresários ou investimentos direcionados aos testes de ideias.
Papo também coordena o programa Launchpad Accelerator, que fornece às empresas selecionadas US$ 50 mil em funding, além de aceleração e mentoria no Brasil e em São Francisco (EUA). Uma das participantes é a gaúcha Superplayer. "É bom constatar que não estamos longe do Vale do Silício em termos de capital humano", afirma o cofundador e CEO da startup, Gustavo Goldschmidt. "Temos competência para não nos limitarmos a corrupção, burocracia e altos tributos do nosso País e explorarmos o mercados ao redor do mundo", sentencia.

Empreendedores têm que fazer o dever de casa para crescer

Antes de pensar em se tornar gigantes e expandir internacionalmente, os gestores das empresas de base tecnológica brasileiras devem encarar de frente o desafio de criar operações bem estruturadas e sustentáveis no médio e longo prazo. "Analisamos cerca de 250 projetos por semestre para selecionar três ou quatro. A maioria dos descartados é por serem apenas sonho de uma noite de verão", brinca Jaime Wagner, um dos idealizadores da WOW Aceleradora, de Porto Alegre. Ele, que também é investidor-anjo da Vakinha.com.br, comenta que não existe falta de recursos no mundo para boas iniciativas, mas, sim, uma inflação de desejos. "Muitos acham que basta uma boa ideia para criar um aplicativo viral que se tornará sucesso no mundo. E esquecem de entender qual o real potencial dessa ideia, de criar uma estrutura comercial e investir em marketing", exemplifica.
Para mitigar as chances de erro, a palavra-chave é planejar. "O cenário econômico adverso e o fato de o nosso ecossistema ainda não ser maduro o suficiente aumentam a necessidade de as startups brasileiras terem um plano de negócios bem-estruturado. Não dá para apostar na sorte", alerta o gerente de pesquisa e consultoria da IDC Brasil, Pietro Delai.
O Programa Start-Up Brasil, de 2012, apoia iniciativas nascentes em software, hardware e serviços de TI, aporta recursos e conecta os jovens com aceleradoras. Porém, não sem antes se certificar do modelo de negócios. "Esse é um dos critérios de maior peso na seleção dos projetos. Não adianta ter tecnologia e recursos. O empreendedor tem que saber se o cliente que está do outro lado pagaria pelo que ele quer desenvolver, senão é grande o risco de criar um produto e, no final, não tem quem queira comprar", diz o gestor Softex do programa, Vitor Andrade.
De fato, na área digital, é comum que os jovens foquem boa parte da sua energia no desenvolvimento da solução. Esse processo gera aprendizagem e conhecimento do mercado que estão envolvidos. Mas daí a fazer com que se tornem corporações de fato, gerando receita, postos de trabalho e, mais do que isso, sendo capazes de resolver problemas da sociedade, é um longo caminho, comenta a gerente da Incubadora de Empresas Raiar, da Pucrs, Flavia Cauduro. "Não ter um bom plano de negócios e uma equipe afinada pode fazer com que um produto muito bom e com um mercado altamente potencial pela frente não decole", enfatiza.
A dica é começar a estruturar a operação escolhendo as pessoas certas. "A sugestão é reunir um mix de competências complementares. Se faltar uma habilidade, como a de gestão, tem que procurar no mercado ou incorporar isso por meio de capacitação", sugere Flavia.
O empreendedor precisa ser um entusiasta da sua ideia. É fundamental que essa visão faça sentido em termos de negócio, observa o diretor do Instituto de Informática da Ufrgs, Luis Lamb. "As companhias que dão certo são as que têm uma gestão muito profissionalizada e, desde o início, levam a organização do negócio muito a sério."

Operações com alavancagem podem faturar alto mesmo sem faturar

 Empresas &Negócios - CAPA Startups - divulgação visualhunt

Empresas &Negócios - CAPA Startups - divulgação visualhunt


VISUALHUNT/DIVULGAÇÃO/JC
Depois de dois anos incubada na Raiar, na Pucrs, a Goga Tecnologia se prepara para voos mais altos. Nos próximos meses, vai se instalar no Tecnopuc, momento que coincide com o lançamento de um produto no qual vem trabalhando há bastante tempo: um gadget de realidade aumentada (uma espécie de lâmina especial), que vai custar cerca de R$ 30,00 e funcionará integrado e um aplicativo. A ideia é que as pessoas façam seus próprios hologramas direto do celular, seguindo só um tutorial. O Holotab, como é chamado o hardware, foi patenteado.
A Goga fornece soluções de holografia para clientes como Lojas Renner e Natura. Entrou no mercado já com uma oferta diferenciada, e foi obtendo receita para sustentar a operação ao mesmo tempo em que desenvolvia o produto com o qual espera dar um salto. Dentro do modelo criado, cada produto é administrado como empresa, inclusive com sócios-investidores específicos. "Sempre tivemos o plano de criar uma empresa que desenvolvesse uma solução de escala global e com uma ótima proposta de valor a ponto de atrair um grande player para nos ajudar na expansão", revela Arthur De Franceschi, um dos fundadores da startup. Nos últimos anos, os sócios participaram de eventos fora do Brasil, de olho em potenciais parceiros de EUA, Ásia ou Europa. A expectativa é se unir a uma companhia que possa ajudar em toda logística envolvida na produção e distribuição internacional do gadget.
Ou até encontrar alguém interessado em comprar a operação.Nesse caso, uma marca da área de entretenimento, como a Disney, que passaria a oferecer os seus conteúdos em forma de holografia, não seria nada mal. São planos ousados. Mas pensar grande (desde que com um bom plano de negócios em mãos) faz bem.
O gestor da WOW Aceleradora, Jaime Wagner, conta que existe dinheiro sobrando no mundo para boas iniciativas com capacidade de alavancagem, ou seja, startups com uma taxa de crescimento exponencial e que têm condições de seguir avançando cada vez mais.
Para ser grande, muitas vezes, basta (como se isso fosse fácil) conseguir conquistar os usuários. Centenas, milhares, milhões. Não é nem preciso cobrar pelo uso do aplicativo, por exemplo.
São situações em que a companhia não ganha dinheiro com o tradicional faturamento mensal, mas, sim, vendendo as suas ações. "No momento em que a operação cresce exponencialmente, se alguém que está interessado paga US$ 1 bilhão por 20% da empresa, é o que basta para o empreendedor ficar rico", diz Wagner. Ele alerta: o erro é todo mundo achar que vai conseguir isso.
Essa visão de investimento ajuda a explicar por que o Facebook pagou US$ 22 bilhões pelo WhatsApp em 2015 - um aplicativo que possui milhões de usuários, mas, até então, nenhum plano concreto de rentabilização da sua operação. "O mercado americano trabalha com potencial. O custo do dinheiro é mais baixo, o cenário é menos instável, e eles possuem mecanismos mais maduros para você brincar dessa maneira", avalia o gerente de pesquisa e consultoria da IDC Brasil, Pietro Delai.