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conjuntura

- Publicada em 10 de Fevereiro de 2016 às 10:41

Cenário é de retração no trabalho também em 2016

 FOTOS PARA O ABRE DE INFRA (OBRA EM ANDAMENTO). OBRA DA CONSTRUTORA MELNICK EVEN

FOTOS PARA O ABRE DE INFRA (OBRA EM ANDAMENTO). OBRA DA CONSTRUTORA MELNICK EVEN


CLAITON DORNELLES/JC
Após um ano de retração no mercado de trabalho, com o corte de 1,5 milhão de empregos formais em 2015, a perspectiva para 2016 é que o cenário permaneça o mesmo. Entre os representantes dos principais setores da economia, é consenso que 2016 não deve trazer dados melhores que os do ano passado. As expectativas são tão negativas que, para alguns, uma repetição do resultado de 2015 já seria motivo para comemoração. O governo federal, por sua vez, tem garantido que o Brasil retomará a geração de emprego e renda.
Após um ano de retração no mercado de trabalho, com o corte de 1,5 milhão de empregos formais em 2015, a perspectiva para 2016 é que o cenário permaneça o mesmo. Entre os representantes dos principais setores da economia, é consenso que 2016 não deve trazer dados melhores que os do ano passado. As expectativas são tão negativas que, para alguns, uma repetição do resultado de 2015 já seria motivo para comemoração. O governo federal, por sua vez, tem garantido que o Brasil retomará a geração de emprego e renda.
Na indústria, setor que mais fechou vagas em 2015 - 608 mil, pelos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados -, as demissões de trabalhadores vão continuar, avalia o gerente executivo de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco. "As perspectivas para 2016 não são animadoras, ao contrário. O ambiente geral não mudou, temos um problema fiscal muito sério que tem gerado baixa confiança. Isso reflete no mercado de trabalho."
O técnico da CNI acredita que a retomada da confiança passa por mudanças estruturais, como a reforma da Previdência e o ajuste fiscal. Para ele, a ampliação do crédito proposta pelo governo não deve trazer grandes resultados. "Irrigar com mais crédito a economia sem mudar as condições fiscais que afetam a confiança vai ser pouco efetivo", afirma.
Com uma visão um pouco mais otimista, mas ressaltando as dificuldades previstas para o ano, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, diz que a federação acredita que este ano serão fechadas mais um milhão de vagas. "Mas a situação é grave, já que tivemos 1,5 milhão de desempregados a mais em 2015", adverte, ao defender que, quanto mais trabalhadores desempregados, consequentemente, mais difícil será a retomada do crescimento.
Na construção, importante termômetro da economia, o cenário não é diferente. Segundo o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção, José Carlos Martins, contratos de obras estimuladas pelo governo, como as do Minha Casa Minha Vida, estão acabando, sem perspectiva de novos projetos. Em outro exemplo, somente no Rio de Janeiro, 35 mil operários ligados às obras da Olimpíada devem ser desligados nos próximos meses. "Esse pessoal vai ser dispensado e não tem onde se recolocar", disse. A baixa disposição de investimento dos brasileiros também preocupa. "Uma família não vai deixar de colocar alimento na mesa ou pagar a escola do filho, mas certamente vai adiar a compra de um apartamento."
Em um dos cenários mais pessimistas, o presidente da Força Sindical, deputado Paulinho da Força (SD-SP), acredita que, neste ano, cerca de 15% da população economicamente ativa perderá o emprego, ou seja, o equivalente a cerca de 4 milhões de pessoas. O número, de acordo com o parlamentar, é muito pior do que o resultado final de 2015. Na avaliação do deputado, as centrais sindicais perderam força durante os governos Dilma e desampararam o trabalhador.

Agronegócio é a única atividade que gera vagas

 FOTOS PARA O ABRE DE INFRA (OBRA EM ANDAMENTO). OBRA DA CONSTRUTORA MELNICK EVEN

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CLAITON DORNELLES/JC
A agricultura foi o único setor que gerou empregos formais no ano passado, com saldo de 9,8 mil novas vagas. Para 2016, o superintendente técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil, Bruno Lucchi, acredita que o patamar do emprego no setor será mantido, com a possibilidade de uma elevação moderada. Segundo Lucchi, o dólar em patamar mais alto não será suficiente para permitir expansões de emprego que foram observados até 2014. Ele explica que neste ano os custos de produção, com insumos importados, já foram com dólar mais elevado. O crédito também ficou mais caro.
Outro segmento que embarcou nos dados negativos foi o de serviços, com menos 276 mil vagas no ano passado. De acordo com o presidente da Confederação Nacional de Serviços (CNS), Luigi Nese, o atendimento essencialmente voltado ao mercado interno faz com que o setor seja muito sensível à crise atual. "O ano começou ruim e vai se manter. O máximo que pode acontecer é a mesma situação de 2015. Se for igual ao ano passado, já está bom", previu.

Desemprego bate no setor de serviços

 FOTOS PARA O ABRE DE INFRA (OBRA EM ANDAMENTO). OBRA DA CONSTRUTORA MELNICK EVEN

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CLAITON DORNELLES/JC
Um dos últimos pilares de resistência à crise, o setor de serviços administrativos e complementares começou a demitir no fim de 2015 diante da escolha de empresas em reduzir a demanda por esse tipo de atividade. Sem escolha, o segmento - que inclui tarefas de limpeza, vigilância e telemarketing - está mandando para a fila do desemprego pessoas com menor qualificação e remuneração, que podem encontrar dificuldades para se recolocar no mercado de trabalho.
Além disso, como o setor é intensivo em mão de obra, o sinal de que a crise bateu à porta pode ainda reforçar o círculo vicioso já visto nos últimos meses. Quando essas pessoas são demitidas, elas passam a consumir e gastar menos, deprimindo ainda mais a atividade econômica e gerando mais desemprego. Luis Carlos Avelino, de 40 anos, trabalhou por uma década no setor de vigilância. Após três anos de atuação como segurança em uma empresa do ramo de hotelaria em São Bernardo do Campo, no Grande ABC paulista, foi dispensado em outubro passado por "redução de custos". "Depois de mim, mandaram outros embora. Sobrevivi porque recebi o seguro-desemprego e fiquei fazendo bicos. Agora, o seguro vai acabar. Estou entregando currículos."
Morador da zona Leste de São Paulo, Avelino se mostra esperançoso em encontrar trabalho na área com facilidade. Mas as empresas desse segmento não têm mostrado disponibilidade em contratar. Em janeiro, a Sondagem de Serviços da Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostrou que 27% das empresas de serviços administrativos e complementares pretendem demitir nos próximos três meses. Além disso, 34,8% reclamam de demanda insuficiente.
"Os serviços como um todo foram os últimos a entrar em trajetória de declínio. Houve desaceleração quando a perda de renda começou a ser mais acentuada, e esse processo ocorreu mais rápido do que em outros setores justamente por conta dessa demora", explica o economista Silvio Sales, consultor da FGV e coordenador da sondagem. "O problema é para o mercado de trabalho como um todo. Assim como o crescimento do setor de serviços se deu com admissão de pessoas, a desaceleração agora é demitindo trabalhadores", acrescenta. "Estamos longe de uma recuperação no setor."
A auxiliar de serviços gerais Ednéa da Silva de Oliveira, de 33 anos, passou um ano e quatro meses desempregada e entregou dezenas de currículos. Na semana passada, finalmente foi selecionada para uma vaga na zona Sul do Rio de Janeiro. Antes disso, a moradora de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, aceitou bicos de vendedora por
R$ 30,00, improvisou como manicure e pediu dinheiro emprestado à mãe para pagar o transporte até os locais de entrevista. "Quando me ligaram para dar a notícia, chorei e tudo", afirma, ciente da sorte cada vez mais rara.
O setor de serviços administrativos e complementares (que inclui atividades de limpeza, vigilância, recepção, telemarketing, cobrança e auxiliar administrativa) mergulhou em uma trajetória negativa em julho do ano passado, quando o volume encolheu 2,8% em relação a igual mês de 2014. Desde então, o ritmo de queda só se intensificou, até atingir uma perda de 6,4% em novembro, segundo o mesmo tipo de comparação, aponta o IBGE.

Reflexo é queda no consumo das famílias

Necessário diante da alta no desemprego e da queda na renda das famílias, o ajuste do orçamento domiciliar acaba reforçando o processo de queda na atividade econômica. O consumo das famílias, antes motor da economia brasileira, deve ter registrado em 2015 o pior desempenho em 25 anos, arrastando consigo o comércio e a indústria. 
A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) estima que as vendas no varejo tenham recuado 4,1% no ano passado e que encolham outros 3,7% em 2016. Já a produção nacional de bens de consumo despencou 9,5% de janeiro a novembro de 2015. Só a fabricação de bens duráveis, que incluem automóveis e eletrodomésticos, foi cortada em 18,3%, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Mesmo diante do encarecimento de insumos, fabricantes estão enfrentando dificuldades para repassar os aumentos de custos para os preços de seus produtos, sob o risco de perder a parte da demanda que sobrou.
Segundo a CNC, a avaliação do consumidor sobre o momento para compra de bens duráveis permanece em pisos históricos. "Tudo leva a crer que sim, a redução no consumo deve continuar", diz a economista Marianne Hanson, da CNC.
"O mês de janeiro já começou sofrível (para a produção de eletrodomésticos) em relação ao mesmo mês do ano passado", alerta o presidente da Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), Lourival Kiçula. A entidade reúneos maiores fabricantes de produtos eletrodomésticos e eletroeletrônicos do País.
Além da inflação elevada e da confiança em baixa, o consumo ainda compete neste início de ano com algumas despesas essenciais para as famílias, como mensalidades escolares e transporte público (diante dos reajustes), além da cobrança de impostos como IPVA e IPTU.
"O orçamento das famílias fica mais comprometido com uma série de gastos que são mais difíceis de cortar", lembra Marianne, da CNC. "As dificuldades crescentes em relação ao crédito, mais escasso e caro, também são uma questão que dificulta que as famílias continuem consumindo", observa.