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Finanças Pessoais

- Publicada em 10 de Fevereiro de 2016 às 10:37

'Ajuste fiscal' também atinge o orçamento das famílias

 Empresas &Negócios - consumo - visualhunt divulgação,jpg

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VISUALHUNT/DIVULGAÇÃO/JC
Espécie de mantra dos membros da equipe econômica em Brasília para tentar solucionar o nó nas contas públicas, o "ajuste fiscal" virou realidade nos lares brasileiros, apontam especialistas. No ano passado, 91% dos consumidores afirmaram ter reduzido os gastos em relação a 2014, segundo pesquisa do Instituto Data Popular. Só que, para alguns, a medida não foi suficiente. Mesmo com a contenção de despesas, 15,7% afirmaram, em janeiro de 2016, que usaram recursos da poupança para cobrir despesas correntes, maior percentual em mais de 10 anos de Sondagem do Consumidor da Fundação Getulio Vargas (FGV). Não à toa, a poupança teve um saque líquido (o quanto as retiradas superaram os depósitos) recorde de R$ 53,57 bilhões em 2015.
Espécie de mantra dos membros da equipe econômica em Brasília para tentar solucionar o nó nas contas públicas, o "ajuste fiscal" virou realidade nos lares brasileiros, apontam especialistas. No ano passado, 91% dos consumidores afirmaram ter reduzido os gastos em relação a 2014, segundo pesquisa do Instituto Data Popular. Só que, para alguns, a medida não foi suficiente. Mesmo com a contenção de despesas, 15,7% afirmaram, em janeiro de 2016, que usaram recursos da poupança para cobrir despesas correntes, maior percentual em mais de 10 anos de Sondagem do Consumidor da Fundação Getulio Vargas (FGV). Não à toa, a poupança teve um saque líquido (o quanto as retiradas superaram os depósitos) recorde de R$ 53,57 bilhões em 2015.
O superintendente adjunto de Ciclos Econômicos da FGV, Aloisio Campelo, explica que o avanço do indicador de uso da poupança foi surpreendente a partir de janeiro de 2014. "Em 2015, a proporção ultrapassou os 10% e foi gradualmente atingindo novos recordes. Em novembro e dezembro, houve alguma acomodação, mas, como a situação financeira das famílias continua piorando, temos de esperar um pouco para confirmar uma mudança de tendência."
Para o especialista em finanças pessoais Roberto Zentgraf, professor do Ibmec e da FGV, a queda no consumo vai continuar. "As pessoas não estão encontrando uma forma de aumentar a receita. Pelo contrário, tem consultor sem consultoria para prestar, professor sem aula para dar. Então, as famílias têm mesmo de fazer um ajuste fiscal."
O jeito, segundo o especialista, é cortar supérfluos e revisar despesas desnecessárias antes de sacrificar o bem-estar. "As contas têm de ser pagas em dia, não tem por que pagar 10% de multa. Elimine aquela academia de ginástica que você não frequenta nunca. Não pague um pacote com 200 canais de TV por assinatura se você só assiste aos mesmos quatro canais", exemplifica.
Foi o que fez o gerente de marketing Affonso Nunes. "Quando entrou a bandeira vermelha, a conta subiu para R$ 400,00. Comprei um grande circulador de ar e passei a programar o ar-condicionado para que desligasse uma ou duas horas depois de dormir. Consegui diminuir a conta quase pela metade", diz.
Embora os juros tenham subido entre 2013 e 2015, as parcelas pagas por Nunes não aumentaram de valor. Mas as outras contas ficaram mais caras, e o jeito foi eliminar gastos para não ficar inadimplente. Uma das vítimas foi o ar-condicionado, que foi substituído por um ventilador depois de a conta de luz ter registrado um aumento de 51% apenas no ano passado. "As contas de consumo aumentam, a alimentação está mais cara, a pensão dos filhos também precisa ser reajustada todo ano. Ainda estou às voltas com as dívidas da obra, então tenho de segurar mais (os gastos)", conta Nunes. A obra é o novo apartamento, montado há dois anos, que lhe rendeu dois financiamentos, um para pagar o imóvel e outro para realizar reformas.

Crise ameaça crédito mais barato para o consumidor

A desvalorização dos preços de imóveis e de veículos deve afetar as concessões de empréstimos com garantia neste ano. A linha costuma ter taxas menores do que as do consignado, conhecido como crédito barato. Como bancos e financeiras tomam como base o valor de mercado dos bens para calcular o quanto podem emprestar, o montante que o consumidor pode tomar deve cair conforme o País mergulha na recessão. As duas linhas que podem ser afetadas são "home equity" - crédito com garantia de imóvel - e refinanciamento de veículos.
A crise afeta a dinâmica de oferta e demanda nos dois mercados. Com aumento do desemprego, queda na renda, crédito mais caro e sem confiança, os proprietários de imóveis e veículos encontram mais dificuldade de vendê-los pelo valor desejado. Para fazer negócio, precisam baixar o preço, afetando em cadeia todos os valores de imóveis parecidos na região.
Para quem quer tomar crédito dando esses bens como garantia, isso significa menos dinheiro no bolso.
"O mercado está desaquecido. Para calcular o crédito, tomamos como base a tabela Fipe, que tem a cotação dos veículos. A crise afeta esses valores, porque a tabela reflete as transações no mercado", afirma Tadeu Silva, vice-presidente da Omni Financeira, que oferece refinanciamento de veículos. "Tem muita oferta, muita gente entregando o carro, e isso derruba o preço. De 2014 para 2015, a inadimplência subiu 12% nesse produto."
No caso dos imóveis, esse cenário pode ocorrer em regiões que tenham registrado muitos lançamentos por preços altos nos últimos anos, avalia Laércio Roberto de Souza, gerente-geral da área imobiliária do Banco Daycoval. "Pela diminuição da procura de imóveis para compra, pode haver acomodação do preço de imóveis de até 5%", acrescenta Souza.
Os empréstimos com garantia normalmente oferecem taxas menores porque, ao ter um bem como garantia, o banco aceita reduzir os juros cobrados. Eles partem do princípio de que, em caso de calote, poderão tomar o imóvel ou o carro de volta por meio da alienação fiduciária, já que a posse do bem é transferida para a instituição financeira. No caso do "home equity", é possível tomar até 60% do valor do imóvel, de acordo com normas do Banco Central. No refinanciamento de veículos, o montante pode chegar a 100% do preço de mercado do carro.