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Opinião

- Publicada em 14 de Janeiro de 2016 às 15:09

O caminhão de melancias chinesas

Em recente discurso feito em evento do Banco Central da França, em Paris, a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, fez uma observação que merece uma leitura mais atenta no nosso entender. Diz respeito aos efeitos danosos causados pela desaceleração da economia chinesa. Ela afirmou que a China passa por um período de transformação para um patamar de crescimento menor, porém sustentável, o que é algo positivo para todos os países. A transformação chinesa, porém, gera efeitos colaterais de curto prazo, notou Lagarde.
Em recente discurso feito em evento do Banco Central da França, em Paris, a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, fez uma observação que merece uma leitura mais atenta no nosso entender. Diz respeito aos efeitos danosos causados pela desaceleração da economia chinesa. Ela afirmou que a China passa por um período de transformação para um patamar de crescimento menor, porém sustentável, o que é algo positivo para todos os países. A transformação chinesa, porém, gera efeitos colaterais de curto prazo, notou Lagarde.
A dirigente do FMI foi mais adiante ao dizer que, no longo prazo, esse esforço positivo da segunda maior economia do mundo beneficiará a todos. A diretora-gerente do FMI, obviamente, não desconhece o impacto que o pé no freio do país asiático causa e ainda causará nos países que exportam commodities, como é o caso do Brasil, e mesmo para os que optaram por instalar lá suas fábricas de olho no extraordinário aumento do poder aquisitivo da população. Depois da tempestade vem a bonança, como reza um antigo brocardo popular. Mas esta bonança não é automática, ela precisa ser construída e à custa de enormes sacrifícios. A cultura brasileira, alicerçada por erros históricos de sucessivos dirigentes, sempre espera resultados não só de curto prazo como o milagre do parto sem dor.
A China já enfrentou várias crises monumentais ao longo da sua história, inclusive com uma década chamada de Grande Fome e o caos gerado pela Revolução Cultural de Mao Tse Tung, no final dos anos 1960. O desastre que se seguiu levou dirigentes mais lúcidos a procurar uma saída, o que em última análise gerou o progresso dos anos 1990 em diante. A China fez uma estranha mistura de capitalismo de Estado com o afrouxamento quase que total da doutrina marxista. Chama-se a isso de pragmatismo. Ou isso, ou a implosão.
Invocando novamente uma metáfora ocidental, a freada abrupta - em termos históricos - do caminhão das melancias chinesas fez com que elas se acomodassem de outra forma na carroceria. Com o tempo e com medidas certas, ela sai fácil do buraco, afora o imponderável, assim como os países que dela dependem, como bem observou Christine Lagarde. Enquanto isso, o caminhão de melancias brasileiro também desacelerou fortemente, mas as melancias não sabem como se acomodar. Não, não culpem a China pela caótica situação da nossa economia, para não falar na embrulhada política.
Nós cavoucamos o buraco em que estamos metidos. Para começar, além dos indefectíveis e eternos gargalos na infraestrutura, nos últimos 15 anos os governos cometeram o imperdoável erro de não formular uma política industrial. A participação da indústria no PIB nacional é patética e cai cada vez mais. Resultou que importamos até miçangas, palitos chineses e outros que tais. E o peso maior das nossas exportações são de grãos e minério de ferro, como é sabido. Teríamos que reverter esse quadro, como deverão fazer, mais dia menos dia, todos os países que sofrem com a desaceleração da China. Infelizmente, não conseguimos colocar a cabeça fora do buraco para achar um rumo. Falta-nos tenência, em suma.
Não é à toa que sempre se diz que o ideograma chinês para crise é o mesmo para oportunidade. De alguma forma precisamos construir um pacto nacional para a reconstrução, após anos e anos de equívocos de toda ordem, a começar pelas inevitáveis reformas estruturais. O que não podemos é ficar no nosso "ideograma",de que crise significa apenas mais crise. Temos que encontrar forças para o maior desafio já vivido pelo nosso amado Brasil: sair do buraco.
 
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