Corrigir texto

Se você encontrou algum erro nesta notícia, por favor preencha o formulário abaixo e clique em enviar. Este formulário destina-se somente à comunicação de erros.

Política Monetária

- Publicada em 20 de Janeiro de 2016 às 22:11

Taxa Selic permanece em 14,25% ao ano

O Banco Central (BC) manteve ontem, por 6 votos a 2, a taxa básica de juros (Selic) em 14,25% ao ano. Foi a quarta reunião seguida em que a taxa foi mantida.
O Banco Central (BC) manteve ontem, por 6 votos a 2, a taxa básica de juros (Selic) em 14,25% ao ano. Foi a quarta reunião seguida em que a taxa foi mantida.
Uma nota do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, divulgada na véspera da decisão, fez muitos economistas mudarem suas projeções. No texto, ele afirmou que considerava "significativas" as novas projeções do FMI (Fundo Monetário Internacional) indicando piora no cenário econômico brasileiro. Para analistas, foi um recado do BC de que adotaria uma postura mais alinhada com o Palácio do Planalto, que prefere manter os juros inalterados para evitar mais abatimento econômico.
A manutenção dos juros em novembro já havia mostrado que o BC estava dividido. Na ocasião, dois diretores votaram pelo aumento em 0,50 ponto percentual, até 14,75% ao ano, enquanto seis decidiram deixar a taxa inalterada.
A decisão foi anunciada poucos dias depois de o boletim Focus apontar que a inflação deve encerrar o ano a 7%, após fechar 2015 em dois dígitos. A preocupação do Banco Central é levar a inflação ao centro da meta, de 4,5% ao ano, em 2017. Segundo o Focus, a expectativa é que o IPCA encerre o próximo ano a 5,40%. A pesquisa mostra ainda que o mercado prevê que os juros terminem o ano em 15,25% e que caiam para 12,88% em 2017.
Para analistas, a decisão de manter a Selic se baseia na desaceleração da atividade econômica.
A instituição tem dito que precisa manter os juros elevados para que a alta da inflação causada pelo dólar e pelo reajuste de tarifas e preços controlados não se espalhe por toda a economia. O desemprego causado pelo aperto na taxa, por exemplo, evita o repasse de toda a inflação para os salários.
A decisão de manter os juros também é amparada pela fraqueza econômica do País. Até novembro, a economia registrou queda de 3,9% no ano, de acordo com o indicador de atividade do Banco Central, o IBC-Br.
A expectativa do mercado é que, após fechar 2015 com queda superior a 3%, o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro caia 2,99% neste ano, segundo o boletim Focus. Para 2017, a projeção é de crescimento de 1% - embora o FMI veja estagnação e recuperação apenas em 2018.
Os juros estão hoje no maior patamar em nove anos. A próxima reunião do Copom ocorrerá nos dias 1 e 2 de março.
A taxa de juros é o instrumento utilizado pelo BC para manter a inflação sob controle ou para estimular a economia. Se os juros caem muito, a população tem maior acesso ao crédito e, assim, pode consumir mais. Esse aumento da demanda pode pressionar os preços caso a indústria não esteja preparada para atender a um consumo maior.
Por outro lado, se os juros sobem, a autoridade monetária inibe consumo e investimento - que ficam mais caros -, a economia desacelera e evita-se que os preços subam, ou seja, que haja inflação.
Com a alta da taxa básica de juros (Selic), o BC aumenta a atratividade das aplicações em títulos da dívida pública. Assim, começa a "faltar" dinheiro no mercado financeiro para viabilizar investimentos que tenham retorno maior que o pago pelo governo.
Se a taxa cai, ocorre o inverso. É por isso que os empresários pedem cortes nas taxas: para viabilizar investimentos, ainda mais em tempos de economia fraca, como agora. Nos mercados, reduções da taxa de juros viabilizam normalmente migração de recursos da renda fixa para a Bolsa de Valores. Em um cenário normal, é também por esse motivo que as bolsas sobem nos Estados Unidos ao menor sinal do Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA) de que os juros possam cair.
Quando o juro sobe, acontece o inverso. O investimento em dívida absorve o dinheiro que serviria para financiar o setor produtivo.

Fundos de renda fixa ampliam vantagem sobre a poupança

Com a decisão do Banco Central (BC) de manter a taxa básica de juros (Selic) em 14,25% ao ano, os fundos de renda fixa ganham da poupança na maioria dos cenários desenhados, considerando prazos de resgate e valores de taxas de administração distintos. A estimativa é da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade).
Mesmo com o rendimento da poupança em 0,68% ao mês, segundo cálculo da associação, a caderneta perde para os fundos de renda fixa que têm taxa de administração até 2% ao ano em quaisquer prazos. A poupança ganha dos fundos que têm taxa de administração de 2,5% ao ano se o resgate for feito em até um ano e perde quando o prazo é superior a esse período. Quando a taxa sobe para 3% ao ano, a caderneta ganha quando o resgate ocorre em até dois anos e empata se o prazo for superior.
Outras aplicações também ganham força com a Selic a 14,25% ao ano. Os cálculos são de Samy Dana, professor da FGV (Fundação Getulio Vargas). Mesmo com remuneração de 80% do CDI (Certificado de Depósito Interfinanceiro, taxa de juros nos empréstimos entre bancos), o CDB leva vantagem sobre a caderneta de poupança. Enquanto o rendimento da poupança fica em 7,44% ao ano, o CDB aplicado pelo mesmo período renderia 8,04%.
Se o período for elevado para mais de dois anos, o rendimento anualizado desse CDB subiria para 8,82%, já que a alíquota do Imposto de Renda sobre os juros obedece a uma tabela regressiva que começa em 22,5% e vai caindo gradativamente até alcançar 15%. No caso da LCI/LCA (Letras de Crédito Imobiliário e do Agronegócio, respectivamente), a taxa de retorno fica ainda mais atrativa por causa da isenção de IR para pessoas físicas. De acordo com Samy Dana, se o investidor conseguir uma taxa de 70% do CDI, a remuneração será de 9,02%. Se a taxa for de 90% do CDI, o retorno sobe para 11,74%.
O Tesouro Selic (título público pós-fixado que segue o juro básico), com custo de 0,3% de custódia e zero de corretagem, tem retorno em até seis meses de 10,81% e de 11,86% acima de 24 meses.

Para entidades industriais, alta da inflação no País ainda preocupa

Para o presidente da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs), Heitor José Müller, o fechamento de vagas no mercado de trabalho certamente contribuiu para a decisão do Banco Central (BC) de manter a taxa Selic em 14,25% ao ano. Contudo, em nota, a entidade demonstrou preocupação com as expectativas de inflação, que já sinalizam aumentos de preços acima de 7% para 2016. "A mudança no comando do Ministério da Fazenda só surtirá efeito se a Política Fiscal não for afrouxada, bem como o Congresso encaminhar reformas estruturais urgentes", avaliou Müller.
O presidente da Fiergs lembrou que a atividade econômica registrou queda de 3,5% no acumulado em 12 meses até novembro. Já o mercado de trabalho está ainda mais deteriorado. "Somente no penúltimo mês de 2015 foram destruídos 130,6 mil postos de trabalho formais, enquanto no mesmo mês de 2014 foram criadas 19,4 mil vagas. No acumulado em 12 meses até novembro, o resultado é a extinção de 1,5 milhões de empregos formais. Além disso, o IPCA encerrou 2015 com alta de 10,7%, muito acima do limite de tolerância que é 6,5% ao ano. A última vez em que o IPCA ficou acima de 10% foi em 2002", destaca a nota.
Já a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) divulgou, em nota, que avalia como "acertada" a decisão do Copom. Para a Firjan, "um novo ciclo de aperto monetário não é a solução para que a inflação retorne à meta estabelecida". De acordo com a Firjan, o aumento da taxa básica de juros apenas agravaria a recessão. A entidade também defendeu a necessidade de um ajuste fiscal, já que o descontrole de preços está intimamente relacionado ao descontrole dos gastos públicos.