O novo governo argentino retomará hoje as negociações com os chamados "fundos abutres" - aqueles que compraram títulos da dívida pública a preços baixos, depois da moratória de 2001, e entraram na Justiça para cobrar o devido sem desconto. Apesar de representarem apenas 1% dos credores, eles conseguiram impedir o acesso do país ao mercado financeiro internacional.
"Não vai ser fácil, nem rápido encontrar uma solução", explica o economista Gaston Rossi. "Mas o novo governo quer dar um sinal de que está disposto a negociar e recuperar a credibilidade. E, com isso, talvez consiga colocar novos papéis da dívida no mercado internacional."
Apesar das demonstrações de que quer virar a página, o presidente Mauricio Macri enfrentará um importante desafio nas negociações com os fundos abutres, cujas reivindicações foram apoiadas pelo juiz Thomas Griesa (de Nova Iorque) e pela Suprema Corte dos Estados Unidos. A Justiça americana determina que, além de pagar a totalidade da dívida com os fundos especulativos (que processaram a Argentina e representam 1% dos credores), o país terá que pagar juros. "Com isso, a dívida que originalmente era de
US$ 430 milhões hoje, chega aos US$ 2 bilhões", disse Rossi.
Mas o problema maior, segundo o economista, é que os outros 6% dos credores que não processaram a Argentina, mas tampouco aderiram às propostas de reestruturação da dívida podem pedir os mesmos benefícios. "Não vejo uma solução a curto prazo - mas é possível que o governo consiga demonstrar boa vontade e, com isso, permissão para colocar papéis no mercado internacional, coisa que até hoje não pode fazer", concluiu.
Segundo o analista político Rosendo Fraga, outro importante desafio de Macri será constituir uma aliança partidária capaz de apoiar suas reformas no Congresso. Ele também precisará do apoio dos sindicatos e empresários, para conter preços, salários e a inflação.
No primeiro mês de governo, Macri fez várias mudanças em relação às políticas adotadas nos últimos 12 anos por seus antecessores, Néstor e Cristina Kirchner.