As famílias de baixa renda foram as mais castigadas pela inflação em 2015. É o que revela o Índice de Preços ao Consumidor - Classe 1 (IPC-C1), calculado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), que informou que o indicador avançou 11,52% em 2015, a maior alta da série (iniciada em 2004). A inflação dos mais pobres subiu mais do que o IPC da FGV, que mede a média dos preços ao consumidor e avançou 10,53%. Neste ano, os mais pobres devem ser novamente penalizados pelo aumento no custo de vida, que deve atingir itens importantes no orçamento desses consumidores.
O IPC-C1 mede a movimentação de preços sentida por famílias com renda mensal até 2,5 salários-mínimos, aproximadamente R$ 2,1 mil. A diferença em relação ao índice médio se deve à cesta de consumo, que é diferente em cada faixa de renda. Quem ganha menos, por exemplo, gasta uma fatia maior do salário com transporte e alimentação do que alguém de classe A, que consome mais itens de lazer.
Foram justamente os itens básicos que tiveram as maiores altas de preços em 2015. Só a energia elétrica ficou 46,76% mais cara no ano passado. O ônibus urbano, por sua vez, avançou 14,6%, enquanto o gás de botijão subiu 21,6%. Em comum, eles têm o fato de serem mais demandados pela baixa renda e de terem preços regulados pelo governo.
Além disso, os alimentos subiram 13% em 2015, uma despesa adicional considerável diante do peso no orçamento dos mais pobres: 32%. Na média dos brasileiros, o gasto com alimentação representa 25% do total. "Qualquer aumento nos alimentos acaba pesando mais no bolso da baixa renda", afirma o economista André Braz, pesquisador da FGV.
O problema é que essas famílias não terão trégua em 2016, nem depois do sufoco vivido em 2015. Neste ano, a baixa renda deve ser novamente a mais penalizada pela alta de preços, avalia Braz. "As fontes de pressão, apesar de menores que em 2015, continuam sendo administrados e alimentação, que consomem grande parte do orçamento dessas famílias", explica.
Uma prova disso veio já no início deste ano. Pelo menos quatro cidades (São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Belo Horizonte) já anunciaram ou colocaram em prática reajustes em tarifas de ônibus urbano. A maior preocupação dos economistas é com o impacto social de se ter a inflação pressionando justamente uma classe de famílias já vulneráveis. "Esse era o grande problema dos anos 1980 e ele volta agora. A inflação acelera o processo de desigualdade de renda. Então, o ajuste sem dúvida é mais penoso para essas pessoas. Com o crescente desemprego, o indicador de desconforto social pode ser explosivo", afirma o economista Thiago Biscuola, da RC Consultores.