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Economia

- Publicada em 03 de Janeiro de 2016 às 22:04

Prejuízo do Badesul aumenta no fim de 2015

Susana veste o banco de manuais para cumprir as exigências do BC

Susana veste o banco de manuais para cumprir as exigências do BC


FREDY VIEIRA/JC
Patrícia Comunello
Papai Noel não foi nada bonzinho com os ocupantes do 18º andar do edifício-sede do Badesul, no Centro de Porto Alegre, onde fica a diretoria da agência de fomento estadual, sucessora da CaixaRS. Que o diga a diretora-presidente do Badesul, a doutora em Sociologia e Economia Internacional Susana Kakuta, 56 anos, que assumiu em 2015 pela segunda vez em menos de 10 anos a instituição. Ela presidiu a CaixaRS entre 2007 e 2009, em pleno governo de Yeda Crusius. O presente nada amistoso do fim de ano foi a notícia da recuperação judicial de um cliente, que deve ampliar em R$ 9 milhões o rombo de 2015, que era calculado em R$ 19 milhões nas contas em fim de novembro. Susana, que trocou a direção do Parque Tecnológico da Unisinos (Tecnosinos) pela antiga casa, não gostou, claro, do desfecho do ano passado e diz que espera um 2016 com mais aperto e números no vermelho - o prejuízo deve baixar para R$ 16 milhões. A diretora-presidente revela que o banco monitora com lupa 50 operações com risco de inadimplência, que representam 15% da carteira de crédito.
Papai Noel não foi nada bonzinho com os ocupantes do 18º andar do edifício-sede do Badesul, no Centro de Porto Alegre, onde fica a diretoria da agência de fomento estadual, sucessora da CaixaRS. Que o diga a diretora-presidente do Badesul, a doutora em Sociologia e Economia Internacional Susana Kakuta, 56 anos, que assumiu em 2015 pela segunda vez em menos de 10 anos a instituição. Ela presidiu a CaixaRS entre 2007 e 2009, em pleno governo de Yeda Crusius. O presente nada amistoso do fim de ano foi a notícia da recuperação judicial de um cliente, que deve ampliar em R$ 9 milhões o rombo de 2015, que era calculado em R$ 19 milhões nas contas em fim de novembro. Susana, que trocou a direção do Parque Tecnológico da Unisinos (Tecnosinos) pela antiga casa, não gostou, claro, do desfecho do ano passado e diz que espera um 2016 com mais aperto e números no vermelho - o prejuízo deve baixar para R$ 16 milhões. A diretora-presidente revela que o banco monitora com lupa 50 operações com risco de inadimplência, que representam 15% da carteira de crédito.
Jornal do Comércio - Como terminou 2015 no Badesul?
Susana Kakuta - Com mais uma recuperação judicial de uma empresa no fim do ano, com débito de cerca de R$ 9 milhões, aumentamos o resultado negativo no ano, que deve ficar entre R$ 25 milhões e R$ 30 milhões. No fim de novembro, o prejuízo era estimado em R$ 19 milhões. Mas isso é reflexo do momento econômico. O Badesul tem uma história de baixíssima inadimplência até 2014. Além disso, tivemos operações contratadas em condições excepcionas nos últimos três a quatro anos, de novos clientes e volume grande de recursos e que agora teriam de começar a ser pagas.
JC - Há mais focos de risco de inadimplência, como ramos onde a crise está maior?
Susana - Sim, temos cerca de 50 operações que monitoramos e que representam 15% do total da carteira (R$ 600 milhões), que soma quase R$ 4 bilhões. São clientes que ainda estão adimplentes, mas estão concentrados em setores industriais críticos, com maior fragilidade, como metalmecânico, moveleiro, alimentos e polo naval. Neste último, temos operações importantes, não só nós, como BRDE e Banrisul. Iesa, em Charqueadas, está nessa conta. O risco nesse segmento soma R$ 70 milhões a R$ 80 milhões.
JC - Como reduzir essa exposição a riscos?
Susana - Há uma série de medidas em curso. De um lado, fizemos ajustes operacionais para não repetir os mesmos tipos de prejuízos. Também reconstruímos o comitê de crédito e intensificamos o processo de manualização de procedimentos. O comitê sempre existiu, mas cada gestão modela a sua constituição. A composição anterior tinha mais gente de operações. Ao entrarmos, trouxemos representantes de todas as áreas do banco, o que permite mais contraditório, dando mais segurança às decisões de concessão de recursos. Na gestão da carteira e para reduzir riscos, criamos áreas de acompanhamento e fiscalização, com técnicos que visitam os clientes para ver como eles estão gastando os recursos, e a de recuperação de crédito.
JC - O que é essa manualização?
Susana - Recebemos apontamentos do BC no começo do ano (após a saída da direção anterior) por não termos, por exemplo, o manual de operação de crédito, que é uma peça central para a instituição. O manual é a forma de verificar se uma operação está ou não conforme às regras do banco, desde o passo a passo para montar a contratação, documentos exigidos e etc. Isso tudo estava muito na cabeça das pessoas. O BC indicou falhas, como performar garantias. Nas últimas reuniões de diretoria de 2015, aprovamos ainda o manual operacional de fundos públicos e de cobrança e recuperação de crédito. O de operações de crédito já está em vigor.
JC - O manual poderia ter evitado parte dos prejuízos?
Susana - Existe uma relação sim. Algumas operações como a da Wind Power (fábrica de aerogeradores), que entrou em recuperação judicial, e o Badesul entrou na lista dos credores quirografários, que é o mais difícil de executar. Figuramos nessa condição, pois alguns documentos não foram performados como deveriam antes de conceder o crédito, neste caso de R$ 50 milhões. É difícil identificar riscos, a operação era para atrair uma fábrica e estava ajustada ao modelo de desenvolvimento. Mas a concessão de crédito deve avaliar se o cliente pode tomar o recurso e atender a exigências para garantir que o valor volte ao caixa do banco.
JC - Mudará a estratégia de alocação de recursos de fundos para segmentos de tecnologia?
Susana - Estamos em fundos nacionais, o Badesul não decide sozinho. Precisamos buscar operações para disputar os aportes. O CRP 2 está encerrado, e o Criatec 2 chegou ao limite. Agora vamos integrar o Criatec 3 (destinado a micro e pequenas empresas), liderado pelo Bndes. A nossa atuação será mais direta. Identificar os polos, como saúde, tecnologia da informação e em alimentos. O olhar será em indústrias transformadoras, não vamos aportar em negócios tradicionais. O foco é inovação. A novidade é que o Criatec terá investidores privados.
JC - Como deve ser 2016?
Susana - O prejuízo deve cair a R$ 16 milhões, e projetamos estar no azul, em R$ 17 milhões, em 2017. Este ano o País terá de se reinventar em termos de números. Mesmo que 2016 seja para sair da crise, não será de forma ascendente. Tudo vai ser diferente, o patamar será mais baixo, de inflação a juros e a atividade econômica. Há uma perda de desenvolvimento socioeconômico nos últimos dois anos e que não serão recuperáveis no curto prazo. Precisaremos de uma meia década para recompor o que que tivemos.
JC - A atual direção já havia indicado que o prejuízo no primeiro semestre de 2015 estava ligado à política de desenvolvimento do governo Tarso. O que muda agora?
Susana - Os governos têm sempre sua estratégia de desenvolvimento. Ninguém diria há três anos que o polo naval viraria o que virou, mesmo com tudo sendo muito avaliado internamente. Risco é parte inerente do Badesul, pois o banco financia o desenvolvimento. Vamos ser pautados pela conjuntura e há uma retração na indústria. Muitas empresas buscam alongamento de dívida, mas não há linha específica para isso, o que é muito sério, ou capital de giro, onde não atuamos. As renegociações de dívida envolvem R$ 160 milhões dos quase R$ 4 bilhões em carteira. Sobre o futuro, vamos continuar apoiando áreas de tecnologia, que estavam no plano anterior. Esses setores atendem a lógica de crescimento do Estado. O agronegócio é o que puxa a demanda, com 50% das operações aprovadas em 2015.
JC - A senhora trocou o Tecnosinos pelo Badesul. Não dá saudade do antigo trabalho?
Susana - Depois do que vivi no Tecnosinos, cada vez acredito mais na tecnologia novo setor para a economia gaúcha. Basta olhar que, em meio à depreciação geral da atividade, esse segmento ainda cresce. De um lado, porque embarcam produtividade no que já existe e são potenciais de inovação para novos produtos.
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