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Cinema

- Publicada em 21 de Janeiro de 2016 às 21:44

Pai e filha

O fato de Steve Jobs já ter sido o personagem principal de outro filme, realizado em 2013 por Joshua Michael Stern, não inibiu o britânico Danny Boyle quando pensou em realizar, também ele, uma obra baseada na vida e no trabalho do empresário e um dos criadores das novas tecnologias de arquivamento e transmissão de dados. O filme anterior foi dirigido por um realizador sem expressão significativa e interpretado por um ator limitado. Boyle, ao contrário, é nome de prestígio na indústria e também entre os críticos. Ele já foi premiado com o Oscar por Quem quer ser um milionário?, em 2008. E o ator principal, Michael Fassbender, integra o grupo dos melhores intérpretes cinematográficos da atualidade, tendo sido visto há pouco na mais recente versão de Macbeth. Sua companheira de elenco, Kate Winslet, é atriz das mais requisitadas e igualmente consagrada por diversas premiações. Estamos, portanto, diante de uma produção ambiciosa, que tem outra característica a ser mencionada. Seu roteirista, Aaron Sorkin, é o mesmo que escreveu para o diretor David Fincher o roteiro de A rede social, que tinha como protagonista Mark Zuckerberg, um dos criadores do Facebook.
O fato de Steve Jobs já ter sido o personagem principal de outro filme, realizado em 2013 por Joshua Michael Stern, não inibiu o britânico Danny Boyle quando pensou em realizar, também ele, uma obra baseada na vida e no trabalho do empresário e um dos criadores das novas tecnologias de arquivamento e transmissão de dados. O filme anterior foi dirigido por um realizador sem expressão significativa e interpretado por um ator limitado. Boyle, ao contrário, é nome de prestígio na indústria e também entre os críticos. Ele já foi premiado com o Oscar por Quem quer ser um milionário?, em 2008. E o ator principal, Michael Fassbender, integra o grupo dos melhores intérpretes cinematográficos da atualidade, tendo sido visto há pouco na mais recente versão de Macbeth. Sua companheira de elenco, Kate Winslet, é atriz das mais requisitadas e igualmente consagrada por diversas premiações. Estamos, portanto, diante de uma produção ambiciosa, que tem outra característica a ser mencionada. Seu roteirista, Aaron Sorkin, é o mesmo que escreveu para o diretor David Fincher o roteiro de A rede social, que tinha como protagonista Mark Zuckerberg, um dos criadores do Facebook.
Boyle e seu roteirista certamente nem cogitaram realizar uma biografia nos moldes tradicionais. Optaram por outro caminho, selecionando três acontecimentos da vida de seu personagem. Assim, o filme Steve Jobs se afasta das convenções, mas não se distancia da exigência básica do cinema: a colocação em cena de personagens que vivem num mundo real. E utiliza tal opção de forma a acentuar aspectos que revelam a essência de um universo e das figuras que o habitam. E também sabe captar o que de mais significativo havia para ser ressaltado na personalidade do personagem principal da narrativa. O que mais se ressalta, em termos de direção, é a recriação da teatralidade. Nos três episódios estamos diante da preparação e encenação de um espetáculo. Nunca o veremos ser completamente encenado e mesmo em alguns momentos em que o mesmo está sendo desenvolvido, o espectador o contempla pelo outro lado da tela, com as imagens invertidas. Mas é sempre um espetáculo, com os diálogos interrompidos pelos avisos de assistentes de que é hora de entrar em cena. Este é o lado público do protagonista, seus momentos de glória, seus instantes de Seiji Ozawa, para lembrar o maestro que ele mesmo cita numa cena. Um trecho do filme, por sinal, transcorre num fosso de orquestra. Os ásperos diálogos com colaboradores colocam na tela o lado oculto, que o espetáculo procura esconder: o conflito de interesses e ambições.
Formalmente, outro destaque é a maneira como Boyle utiliza técnicas diversas para marcar cada período, desde o preto e branco e o tamanho da tela no prólogo até o esplendor da nitidez e da luz das imagens do cinema atual. É uma viagem no tempo, na qual o tema principal termina sendo o relacionamento entre o protagonista e a filha que ele termina por aceitar. Criança adotada, o personagem rejeita como adulto recriar o mundo familiar. Todo o poder e a glória alcançados não impedem o vazio e os impulsos destinados a esconder deficiências. A discussão com o colaborador, num teatro, como se fosse um duelo operístico, é um exemplo, entre tantos no filme, de como o adulto tenta fazer da criança um ser capaz de superar obstáculos. A cena final, que já foi vista como uma concessão do filme, é na verdade um reencontro e um recomeço. Não estamos, é claro, diante apenas de um inventor de gênio, mas de uma figura humana que o cineasta não retira da realidade e ao mesmo tempo a transforma em símbolo de um equilíbrio emocional finalmente atingido. As negativas do personagem se transformam em gesto de aproximação e o que havia sido sufocado desde o início consegue ultrapassar as barreiras erguidas pelo ressentimento. O traço feito pela menina é a marca do humano num cenário em que a tecnologia e o espetáculo da superficialidade aparentemente dominam. O novo filme de Danny Boyle tem o mérito de lembrar que para o cinema o principal será sempre a figura humana, suas grandezas e suas limitações, seu talento e sua imperfeição.
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