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Cinema

- Publicada em 07 de Janeiro de 2016 às 22:23

A terceira geração

Hélio Nascimento
Quando foi cometido o erro principal de George Lucas, o criador da saga Guerra nas estrelas? Depois de estruturada a narrativa, ele próprio, em 1977, dirigiu o primeiro episódio da segunda trilogia. Pois o projeto previa 9 filmes, divididos em três trilogias, cada uma delas dedicada a uma geração de personagens. Os dois episódios seguintes, em 1980 e 1983, foram realizados, respectivamente, por Irwin Kershner e Richard Marquand, sendo que o primeiro realizou o melhor filme da série: O império contra-ataca. Completada a trilogia intermediária, teria de haver uma volta ao passado, a fim de ser mostrada a infância e a juventude dos personagens mais velhos mostrados nos três primeiros filmes realizados. O próprio Lucas, então, assumiu a realização, entre 1999 e 2005, das três partes da trilogia inicial. O resultado não agradou aos críticos, os mesmos que agora estão revelando um entusiasmo exagerado por Star Wars - O despertar da força, o primeiro filme da terceira e última parte do projeto. Mas a verdade é que esta saga necessitava daquela parte inicial, pois era necessário mostrar a infância e a juventude do vilão, que também era o pai opressor e castrador, capaz de amputar o braço do filho, numa das mais surpreendentes cenas já vistas num filme de ação. Se no episódio IV a violência era expressa por uma referência direta a Rastros de ódio, de John Ford, no primeiro episódio a agressividade do adulto tinha raízes no abandono da criança, uma citação a Cidadão Kane, de Orson Welles.
Quando foi cometido o erro principal de George Lucas, o criador da saga Guerra nas estrelas? Depois de estruturada a narrativa, ele próprio, em 1977, dirigiu o primeiro episódio da segunda trilogia. Pois o projeto previa 9 filmes, divididos em três trilogias, cada uma delas dedicada a uma geração de personagens. Os dois episódios seguintes, em 1980 e 1983, foram realizados, respectivamente, por Irwin Kershner e Richard Marquand, sendo que o primeiro realizou o melhor filme da série: O império contra-ataca. Completada a trilogia intermediária, teria de haver uma volta ao passado, a fim de ser mostrada a infância e a juventude dos personagens mais velhos mostrados nos três primeiros filmes realizados. O próprio Lucas, então, assumiu a realização, entre 1999 e 2005, das três partes da trilogia inicial. O resultado não agradou aos críticos, os mesmos que agora estão revelando um entusiasmo exagerado por Star Wars - O despertar da força, o primeiro filme da terceira e última parte do projeto. Mas a verdade é que esta saga necessitava daquela parte inicial, pois era necessário mostrar a infância e a juventude do vilão, que também era o pai opressor e castrador, capaz de amputar o braço do filho, numa das mais surpreendentes cenas já vistas num filme de ação. Se no episódio IV a violência era expressa por uma referência direta a Rastros de ódio, de John Ford, no primeiro episódio a agressividade do adulto tinha raízes no abandono da criança, uma citação a Cidadão Kane, de Orson Welles.
Dizendo que provavelmente não teria tempo e energia para realizar os três episódios da última trilogia, Lucas chegou a afirmar que eles não seriam realizados. Mas depois mudou de ideia e vendeu os direitos para a empresa Disney. Se tal fato lhe garante uma aposentadoria tranquila, este é um tema que não diz respeito aos resultados na tela. Mas este talvez tenha sido o primeiro erro. O segundo aconteceu há pouco, quando ele demonstrou insatisfação com o novo filme e até foi agressivo com a empresa que havia comprado os direitos. O terceiro aconteceu logo depois, quando mudou completamente de ideia, elogiou o filme e os executivos da Disney. Quando fez a crítica, Lucas afirmou que o novo Star Wars não trazia qualquer inovação e estava marcado pela falta de ousadia. Essas mudanças de opinião tão radicais evidenciam, em seu processo, um certo arrependimento, traduzido não apenas pelo pedido de desculpas como também pelas contradições. O erro principal certamente foi ter entregue a saga para terceiros. Lucas foi bom diretor e como produtor soube escolher realizadores talentosos para a realização dos episódios V e VI. Mas, ao vender os direitos para a Disney, abriu espaço para que um realizador menor, como J.J. Abrams, permitisse que a rotina dominasse quase toda a narrativa.
Porém, não estamos diante de um desastre. A presença de Lawrence Kasdan como roteirista talvez esteja na origem de algumas cenas que se afastam da rotina, como a do encontro do pai com o filho, no qual a agressividade se manifesta de forma a fazer dela uma variação de encontro semelhante na trilogia intermediária. É a desavença atingindo um ponto culminante, a vitória do lado sombrio, nem sempre contido pelas regras destinadas a impor o afeto. A mancha de sangue na armadura de um soldado do império, algo que o identifica e o destaca num agrupamento padronizado, também é o sinal de uma rebeldia que, logo a seguir, será concretizada. E o encontro de gerações no epílogo não deixa de ser um trecho que possui beleza e significado. Mas, no restante do tempo, o filme se limita a, mais uma vez, mostrar figuras estranhas, repetindo sem nada acrescentar aquela mescla de tecnologia avançada com formas primitivas. E há também o velho recurso de, a todo o momento, serem utilizadas piadas que, desde os tempos dos seriados dos anos 1930, eram empregadas em momentos de ação. Parece que o erro principal foi ter passado adiante uma boa ideia. É que J.J. Abrams e os executivos da Disney não são propriamente os indicados a falar do tema essencial: nas sagas, a questão do núcleo familiar é sempre o tema sobre o qual o restante da trama se estrutura, se amplia e adquire relevância.
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