Cristiano Vieira
Será injustiça se o Oscar de melhor ator deste ano não for para Leonardo DiCaprio. Sua atuação visceral em O regresso, longa de Alejandro González Iñárritu que estreia hoje, mostra um ator maduro, transformado pela dor do personagem na busca pela sobrevivência em um ambiente para lá de inóspito.
Inspirado em eventos reais, O regresso coloca diversos momentos de conflito em evidência durante as mais de 2h e meia de filme. Na década de 1820, o gélido Meio-Oeste dos Estados Unidos ainda era terra povoada por índios, ferozmente dedicados a defender suas terras dos exploradores. Hugh Glass (DiCaprio) é um hábil caçador, cujo grupo mata animais para vender suas peles.
Em uma das expedições, eles são emboscados por um bando de indígenas. Na fuga, atravessam rios gelados, montanhas cobertas de neve, florestas gigantescas. Tudo cercado de muita natureza e frio. Em determinado momento, sozinho, Glass é atacado por um urso e dado como morto. Sobrevive, mas por muito pouco.
A partir daí, o roteiro coescrito por Iñarritu coloca frente a frente os elementos principais da história: o embate entre Glass e o meio ambiente, o clima, a natureza implacável presente no inverno norte-americano. Machucado e esquecido pelos companheiros (principalmente por John Fitzgerald, papel do excelente por Tom Hardy, merecidamente indicado a melhor ator coadjuvante), quase morto pela fera, aos poucos ele vai se reerguendo, em uma jornada triste, pesarosa, e que parece interminável.
O regresso concorre em 12 categorias ao Oscar neste ano, incluindo as principais: filme, ator, diretor, fotografia e direção de arte, entre elas. Estes dois últimos pontos, aliás, são perfeitamente representados e levam o espectador uma imersão pelo medo do ambiente hostil retratado na tela.
DiCaprio é o favoritíssimo para vencer neste ano, após concorrer outras quatro vezes (O aviador, Diamante de sangue, O lobo de Wall Street e Gilbert Grape, este como coadjuvante). No início do texto, falou-se que seria injustiça tirar a estatueta de DiCaprio neste ano. Justiça, contudo, não é um dos preceitos evidentes da Academia de Hollywood (visto a não indicação de artistas negros neste ano).
Ele tem tudo para vencer - um ator maduro, entregue ao papel, com um desempenho excepcional (também ajudado pela direção de Inãrittu). Um grande filme, com grandes atores e um grande diretor - mais uma trágica história. O regresso é tudo isso.